O que começou como um hobby para o CEO da empresa Loveland Technologies, Jerry Paffendorf, e seus colegas virou um superaplicativo e case de gestão urbana participativa em Detroit, nos Estados Unidos. Em meados de 2014, a cidade mais populosa do estado de Michigan, no Meio-Oeste americano, ainda vivia as consequências da crise financeira de 2008 e viu seu mercado imobiliário entrar em colapso.
Em entrevista exclusiva a Futuro das Cidades, Paffendorf disse que antes de chegar em Detroit havia trabalhado com a chamada “indústria do mundo virtual”, mais precisamente com o Second Life, um jogo em que os usuários podem, literalmente, criar qualquer coisa que eles quiserem e vender por dinheiro de verdade, incluindo até um “pedaço de terra virtual”. “Quando eu me mudei para Detroit em 2009 eu descobri que havia muitas propriedades abandonadas, muitas delas estavam à venda por apenas US$ 500. Ocorreu-me, então, que tinha de ter um jeito de colocar esses imóveis na internet, para que as pessoas pudessem saber onde eles estavam e onde colocar dinheiro para resolver esse problema. Nós [eu e a equipe da Loveland] fizemos algumas experiências de pequena escala nesse sentido, e aprendemos muito. Meus colegas trouxeram suas próprias ideias e as coisas evoluíram a partir daí. Hoje nós temos cada propriedade da cidade mapeada e estamos fazendo o mesmo em outras cidades”, conta Paffendorf.
No Brasil, mexer com o IPTU é tão difícil quanto mexer na tarifa de ônibus, critica arquiteto
Em Curitiba, o Ippuc tomou para si a tarefa de mapear os vazios urbanos
Leia outros conteúdos de Futuro das Cidades
Tudo começou com um aplicativo montado por Paffendorf e seus colegas da Loveland. Com eles, entre 150 e 200 voluntários visitaram as 376 mil propriedades da cidade, abastecendo o app com fotos e outras informações sobre esses imóveis. A versão final desse trabalho está acessível a todos no motorcitymapping.org. “Toda a informação é pública. Você pode clicar em um bairro e ver as fotos e saber mais sobre a ocupação de cada propriedade ali. Quando algo muda, o mapa pode ser atualizado”, conta Paffendorf. Há informações até sobre se o imóvel sofreu um incêndio, está em condições boas de estrutura ou tem indicação para demolição.
Ao criar uma única plataforma para compartilhar informação, lideranças têm os dados sobre os imóveis nas pontas dos dedos e podem usá-los para tomar decisões inteligentes para o desenvolvimento de suas comunidades.
Veja o vídeo (em inglês) produzido pela própria equipe da Loveland sobre os planos de mapear os EUA
O trabalho também serviu para estimular as pessoas que tinham dívidas com o município e podiam perder suas casas em razão disso a buscarem uma negociação. Em 2015, eram mais de 62 mil propriedades nessa situação – algo como um sexto da cidade – e 25,5 mil delas eram residenciais. Entre a necessidade de receber os impostos e a empatia pelos moradores, a prefeitura começou a discutir o que poderia ser feito para resolver o problema com seus diferentes departamentos, organização sociais e mercado. Entre janeiro e março deste ano, em eventos promovidos para este fim, mais de 7 mil pessoas compareceram para negociar.
Esse é apenas um dos efeitos indiretos do mapeamento feito em Detroit. O resultado todo foi tão empolgante, que a JP Morgan Chase está financiando o mapeamento de outras três cidade de Ohio, outro estado do Meio-Oeste americano – Cleveland, Cincinnati e Columbus – com a intenção de criar painéis similares ao motorcity mapping.org.
Mas os planos da Loveland são bem mais ambiciosos que isso: eles querem mapear o país inteiro. “Nós temos mais de 134 milhões de lotes onde mais de 90% dos norte-americanos vive hoje, então é um número enorme – [seria] o maior mapa público com esse tipo de informação”, diz Paffendorf. Os dados são geralmente coletados a partir dos condados, que normalmente reunem dados de mais de uma cidade, seguindo um certo padrão: tamanho, os impostos devidos, os nomes dos proprietários e outras informações. “Como nós não podemos ir in loco a toda propriedade nós mesmos, nós colocamos o nosso app de mapeamento e software disponível todo mundo, em sitecontrol.us. Em breve, as pessoas poderão importar seus dados diretamente para esse mapa público ”, conta o CEO da Loveland. Dessa forma, colaborativa, a empresa espera que o trabalho todo seja facilitado. A plataforma também permite que qualquer monte seu próprio mapa de imóveis, com os dados que lhe convém.
The Great American Parcel Survey from Loveland Technologies on Vimeo.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura