Como se fossem fugitivos de um chão de fábrica, pelos menos mil tambores de 208 litros pontilhavam o Central Park na década de 1980, estragando o talvez melhor cenário artificial dos Estados Unidos. Eles eram grandes – sem falar que eram feios –, mas não o bastante para conter todas as latas, garrafas, copos, guardanapos, jornais, revistas, sacos de papel, caixas de pizza, embalagens de cachorro-quente e outros refugos dos 12 milhões de visitantes por ano. O lixo se acumulava nos tambores e ao seu redor.
Para ajudar a dar conta das latas transbordantes, caminhões de lixo com carregamento traseiro andavam para lá e para cá pelos gramados e campinas, morros e vales, trilhas e calçadas. Era uma forma brutal de tratar o que deveria ser uma joia verde. Não à toa o parque parecia estar fora de controle.
Hoje em dia, o Central Park é um lugar bem diferente. O número de visitantes subiu para 42 milhões/ano, que geram duas mil toneladas de lixo e 58 toneladas de recicláveis no período. Apesar de todo esse descarte, é possível andar pelo parque gigante com Nick Marotta, coordenador de operações noturnas, e contar o número de lixo extraviado nos dedos das mãos – o que ele encontra, é coletado com uma pinça longa.
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Como funciona a gestão de lixo no Central Park
Em vez dos tambores de 208 litros e das lixeiras plásticas de 257 litros de anos atrás, hoje há belos conjuntos de recipientes revestidos de alumínio, patenteados, com sacos plásticos de 121 litros no interior. As lixeiras têm cor preta para lixo comum, cinza para garrafas e latas e verde para papel e papelão.
Em vez de trabalhar com caminhões feiosos, os recipientes são esvaziados dia e noite por trabalhadores que usam 86 carrinhos. Eles levam os sacos para uma das oito áreas de coleta do parque de 340 hectares, de onde são transportados para estações de transferência no Bronx e no Queens.
O sistema de gestão do lixo desenvolvido pela Central Park Conservancy – ONG que administra o parque segundo contrato com a prefeitura de Nova York e o transformou num oásis verdejante – tem funcionado bem o bastante para ser copiado pelo parque Crotona no Bronx. O sistema também chegará a mais parques.
Contudo, ele trouxe novos problemas. A maioria dos carros é à gasolina, com todo o barulho e fumaça que isso implica.
Mas se você ouvir com atenção – e será preciso escutar com muita atenção – o alívio logo estará disponível. O Central Park terá carros elétricos para coletar o lixo a partir dos próximos dias, mais precisamente 52 carrinhos Cushman – 48 para dois passageiros; quatro para quatro – logo estarão zumbindo pelo parque.
Veja fotos do atual sistema e dos novos carrinhos elétricos
“Nós estamos ansiosos por isso”, diz Marotta, funcionário da ONG, enquanto seu carro antigo tossia e bufafa enquanto ele inspecionava a limpeza do parque, apanhando lixo aqui e acolá, respondia a dúvidas de visitantes e advertia gentilmente os invasores de gramados fechados e quem levava cachorros sem guia.
Os novos carros e a infraestrutura – principalmente uma estação de carregamento no pátio de manutenção da Rua 79 – custaram US$ 1,94 milhão.
Arnold Saks, 85 anos, famoso designer gráfico e doador da ONG por meio da Fundação A & J Saks, incentivou um programa de eletrificação por um motivo objetivo. Ele pedala pelo parque quase todo dia. “Uns anos atrás, comecei a ficar meio aborrecido com os carros à gasolina fedorentos e barulhentos”, conta Saks. Ele recomendou a mudança para carros elétricos.
“Nós prometemos US$ 1 milhão no começo quando inventamos o conceito. Quando a ONG fez um orçamento cuidadoso do custo do programa, eles descobriram o valor atual de US$ 1,94 milhão e disseram que precisariam de um doador adicional para o projeto ser construído e entrar em operação.”
“Eu decidi que não viveria o bastante”, conta Saks. A Fundação doou o valor remanescente para que o projeto entrasse logo em ação.
A evolução da gestão do lixo do Central Park nos últimos 35 anos
A chegada dos carros elétricos é apenas a mais recente evolução dos 35 anos de gestão de lixo por parte da ONG. “Nos anos 70 e 80, a equipe causava mais dano ao parque do que bem”, afirma Douglas Blonsky, administrador do parque, presidente e diretor-executivo da ONG. Era nessa época que cada um dos tambores era atendido por caminhões grandes.
Em 1981, foram criados limites ao número de tambores. Eles foram removidos completamente do parque Central Park até 1995, substituídos por cestas de arame trançado e de plástico. Naquele ano, 49 zonas administradas foram criadas, cada qual com um jardineiro superintendente responsável pela manutenção e limpeza.
Então, no final dos anos 1990, os visitantes foram incentivados a levar embora o lixo das muito utilizadas áreas infantis, gramados e campinas. A estratégia foi expandida para as áreas de bosque em 2008. Em consequência, a população de ratos caiu – quando foi a última vez em que você leu uma frase dessas?
Sem ratos ao redor para reivindicar os restos da comida dos humanos, o esquilo ocidental – um roedor volúvel e, por natureza, mais atraente – voltou à ponta norte do parque, conta Blonsky.
A reciclagem de latas e garrafas do grande gramado começou em 2007 e foi aplicada no parque inteiro em 2010.
Central Park tem latas de design patenteado
Uma melhora estética ocorreu em 2013. Os recipientes personalizados, com as características lâminas inclinadas de alumínio revestido, como se as latas estivessem em movimento, foram instaladas em 700 a 800 pontos do parque. As latas receberam três patentes, em nome de Blonsky e Anthony Deen, diretor de projetos físicos do ESI Design.
Uma armação dentro de cada lata contém um saco de 121 litros fácil de trocar, localizado dentro de um segundo saco protetor. A tampa articulada parece uma abertura de lente. A abertura no topo varia de 12,7 centímetros a 30,4 centímetros.
“A tampa para lata e garrafa aceita uma garrafa grande de Coca, bebida preferida durante nosso verão quente. A tampa para papel aceita uma caixa de pizza dobrada ao meio ou a edição dominical do New York Times igualmente dobrada; a tampa do lixo é adequada para o descarte ao estilo de arremesso de basquete, engolindo tudo, até uma bola oficial da NBA”, afirma Deen por e-mail.
As latas demonstraram ser razoavelmente à prova de ratos, conta Marotta, mas não completamente à prova de guaxinims – como se algo pudesse ser totalmente à prova desse bicho. Elas foram projetadas antes de os bandidinhos mascarados começarem a proliferar pelo parque.
Mesmo assim, o sistema por zonas de gestão da ONG ganhou o apoio do prefeito Bill de Blasio. Mitchell Silver, comissário do Departamento de Parques e Recreação, conta que um programa piloto no parque Crotona, iniciado em maio, já resultou em melhor limpeza.
Ele disse que a prefeitura espera reproduzir seu sucesso nos parques Fort Greene, McCarren e Prospect, no Brooklyn, no St. Mary, no Bronx, no John V. Lindsay East River, em Manhattan e no Flushing Meadows-Corona, no Queens. Esses parques não contam com os benfeitores endinheirados que patrocinam o trabalho da ONG responsável pelo Central Park. “O prefeito está comprometido com a justiça”, diz Silver.