No que pode ser uma das últimas ações do atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT), Curitiba encerrou a licitação para criar um serviço de bicicletas compartilhadas na cidade. Lançada em junho deste ano, a licitação teve só um concorrente, a paulistana Bikefácil. A homologação foi publicada no Diário Oficial no último dia 12 de dezembro, e o contrato foi assinado nesta quinta-feira (22). Significa que a bicicleta compartilhada pode estar nas ruas até março de 2017, já que o grupo tem um 75 dias para instalar os primeiros veículos (280) e estações (25) do sistema. O prazo começa a correr após a emissão da ordem de serviço, que deve ocorrer em seguida.
A Bikefácil tem 140 dias para colocar em ação o sistema completo, com 480 bicicletas distribuídas em 43 estações. Para utilizar o serviço, o usuário deve comprar um passe, que pode ser diário (R$ 5), mensal (R$ 12) ou semestral (R$ 54), e que dá acesso livre no período contratado, desde que a viagem não ultrapasse os 45 minutos.
A empreitada não deve ter custos para o prefeito eleito, Rafael Greca (PMN), que assume no dia 1.º. Curitiba optou por um modelo de gestão em que a concessionária deve arcar com todos os custos de operação e infraestrutura do sistema. Em contrapartida, a empresa fica livre para fazer a exploração publicitária dos veículos e das estações.
Os valores devem ser reajustados anualmente, pelo IGPM-FGV. A contar pelo acumulado nos últimos doze meses, por exemplo, as tarifas devem ficar em R$ 5,35, R$ 12,85 e R$ 57,85, respectivamente, ao final do segundo ano.
Quem exceder os 45 minutos deve pagar uma taxa adicional, de R$ 2,50 para cada 15 minutos a mais. Desta taxa, 15% deve ser respassado ao município. A Urbs, que administra o transporte na cidade, estima receber R$ 78.750 desta cifra, ao longo dos cinco anos de contrato.
No Brasil, o principal investidor em sistemas de bicicleta compartilhada é o Banco Itaú, que patrocina bicicletas em sete grandes cidades brasileiras. A cooperativa médica Unimed financia os sistemas de Fortaleza e Goiânia. A Bikefácil ainda não divulgou quem será o principal nome em Curitiba.
Há tempos Curitiba tenta ter seu sistema de bicicletas públicas. A cidade chegou a testar um serviço, licitado em 2012, com três pontos de locação (os parques São Lourenço e Jardim Botânico, além do Centro Cívico), ao valor de R$ 10 para até duas horas, R$ 5 a hora adicional e R$ 50 a diária. Em 2015, a permissionária cancelou o serviço, alegando inviabilidade financeira.
Consórcio fará laboratório em Curitiba
O consórcio Bikefácil é formado por duas empresas de São Paulo. A Fitset e a homônima Bikefácil, criada especialmente para a disputa do edital da Urbs. Para comprovar experiência, o grupo fez uma parceria com a Ride On, mesma empresa da Bonopark, que administra as bicicletas públicas de Madrid. Além de assessorar na gestão, os espanhóis devem fornecer os equipamentos e a tecnologia necessária para a implantação. Atualmente, a principal operadora de bicicleta compartilhadas no Brasil é a Serttel, com 13, entre eles os do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Eduardo Neves Penteado, representante do consórcio, explica que o grupo estudava a implantação de um sistema de bicicletas compartilhadas com apetrechos tecnológicos, a chamada 5.ª geração da ideia, quando surgiu o edital da Urbs. Pela tradição de urbanismo e inovação, a cidade foi vista como um laboratório perfeito.
As bicicletas da Ride On são inteira brancas, com quadro em uma peça única feita de aço, modelo diferente do que é visto no mercado (para evitar roubos). No guidão é possível acoplar um smartphone, e a Bikefácil promete um aplicativo que funcione como navegador. Todas as estações são equipadas com wi-fi (uma exigência do edital). Além disso, alguns veículos já devem ter suporte para colocação de uma bateria portátil (chamados pedelecs).
Parceria com iniciativa privada é regra para financiar bicicleta
O modelo de bicicleta pública adotado por Curitiba é quase universal. Muitas estações, próximas umas das outras (diz-se que o ideal é 300 metros), em regiões centrais, onde há circulação de pessoas durante todo o dia. É o que torna o sistema prático, já que o usuário pode utilizar a bicicleta para várias pequenas viagens ao longo do dia. A rotatividade garante que sempre haja veículos e vagas disponíveis.
É um sistema que é caro, mas que só tem sentido se for barato para o usuário. A exploração publicitária dos veículos e estações é o que fecha a conta. A ideia foi lançada em Paris, na França, em 2007, e depois ganhou o mundo. É a chamada de 4.ª geração do compartilhamento de bicicletas (Futuro das Cidades já contou a história das quatro gerações, além de mostrar as previsões para a quinta).