Quando a atriz Carrie Fisher sofreu um ataque cardíaco num avião a caminho de Los Angeles, às vésperas do Natal de 2016, uma das primeiras equipes de emergência a atendê-la chegou sobre duas rodas: os médicos que ressuscitaram a estrela de Star Wars ainda no aeroporto de L.A. chegaram de bicicleta.
A equipe do Departamento do Corpo de Bombeiros de Los Angeles é apenas uma de centenas que passaram a funcionar em cidades grandes dos Estados Unidos, como Boston e Philadelphia, e também pequenas, como Cody, no Wyoming, nos últimos anos. São equipes que conseguem atender emergências apesar de congestionamentos, multidões ou grandes áreas verdes, de maneira ainda mais ágil do que aquelas em ambulâncias.
“Cada segundo conta nessas situações”, diz Maureen Becker, diretora-executiva da Associação Internacional de Polícia em Mountain Bike, uma organização não lucrativa que treina e certifica a agentes de segurança pública.
A equipe de serviços de emergências médicas (EMS na sigla em inglês) de Los Angeles que correu para atender Carrie estava posicionada no aeroporto numa época de feriado e muito movimento. Segundo o capitão e chefe da equipe, Robert Dunivin, o grupo que subiu no avião era o mesmo de uma ambulância, junto com uma equipe de suporte técnico, que conseguiram dar à Carrie todas as condições de sobrevida necessárias. Infelizmente, a atriz morreu quatro dias depois em um hospital local.
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Quando a unidade de bicicleta de L.A. estreou, durante um triathlon, em 2004, ela tinha 20 ciclistas. Hoje, a equipe é uma das maiores do país, com 120 ciclistas e 60 bicicletas. E é usada principalmente em esquemas de feriados, fins de semana e eventos especiais, como a Maratona de Los Angeles, ou em locais específicos, como o calçadão de Venice Beach, que lota de gente nos dias de verão.
Segundo Dunivin, a unidade tem um orçamento de cerca de US$ 90 mil por ano para pagar os médicos, que fazem os atendimentos de bicicleta como um trabalho extra, além do dia a dia cumprido nas estações do Departamento do Corpo de Bombeiros. Outros US$ 12 mil são gastos com equipamentos.
Nos Estados Unidos, socorristas de bicicleta patrulham aeroportos, arenas de esportes, áreas de entretenimento centrais e eventos como festivais, concertos e maratonas. Eles são especialmente úteis quando estradas estão fechadas ou congestionadas, conta Mike Touchstone, ex-presidente da Associação Nacional de Gestão em Emergências Médicas e diretor regional de EMS da Philadelphia. Médicos ciclistas conseguem circular facilmente tanto em ruas quanto em calçadas lotadas. “Isso faz uma grande diferença se alguém estiver tendo um ataque cardíaco ou um derrame”.
Realmente faz. Em 2014, durante uma maratona em Minneapolis, um corredor de 61 anos sofreu um ataque cardíaco no meio da prova. Uma equipe médica de bicicleta chegou rapidamente a ele, ressuscitou o homem com um desfibrilador portátil e o estabilizou antes de encaminhá-lo para uma ambulância que o levaria a um hospital.
Como a ideia dos socorristas de bicicleta surgiu e quanto custa
Várias das primeiras equipes de emergência médica de bicicleta dos Estados Unidos foram lançadas na década de 1990, em lugares como Denver (Colorado), East Baton Rouge (Louisiana) e Troy (Ohio). Elas foram pensadas a partir das equipes de bicicleta de policiais, que ficaram populares na década anterior.
Hoje, pelo menos 500 agências de serviços de emergências médicas no país possuem equipes de bicicleta, segundo Maureen Becker, cuja associação treinou cerca de 1,4 mil ciclistas desde 2013. Há também departamentos de Corpos de Bombeiros, hospitais e serviços particulares de ambulância usando essas equipes. Alguns desses órgãos ou empresas trabalham com dois a quatro ciclistas/ outros com dúzias de pessoas.
Muitos dos socorristas de bicicleta são paramédicos ou técnicos médicos remunerados, mas outros trabalham para associações voluntárias e outras organizações. Esse é o caso da unidade médica do Central Park, em Nova York.
São 10 pessoas na equipe, que percorre os 3 mil quilômetros quadrados do parque, principalmente durante os fins de semana nas estações mais quentes. A equipe também trabalha a todo o vapor durante os concertos e outros grandes eventos do parque.
“Quando há várias pessoas sentadas em cobertas [sobre um gramado] como você passa por elas para atender uma emergência?”, questiona o presidente da unidade, Rafael Castellanos. “As equipes de bicicleta são muito ágeis e conseguem chegar a lugares que um veículo maior não consegue.”
Como as equipes funcionam
Ciclistas de serviços de emergências médicas geralmente trabalham em pares. A maioria usa bicicletas tipo mountain bike, que são mais resistentes e desenhadas para carregar peso e fazer manobras no meio do tráfego pesado ou de uma multidão.
As bicicletas carregam produtos de primeiros socorros e suprimentos de trauma, além de oxigênio, monitores cardíacos e desfibriladores. O peso suportado pelas bicicletas é de até 50 libras (cerca de 22 quilos), então os ciclistas precisam estar em forma.
As equipes de bicicletas também tem limitações: elas não podem transportar pacientes para o hospital e carregar macas. Grandes tempestades e neve também podem ser obstáculos a elas.
Mas as autoridades dizem que a criação e a melhoria dessas equipes é um bom investimento porque é algo muito mais barato do que comprar e equipar toda uma ambulância.
Em Cody, cidade do Wyoming, por exemplo, uma unidade bem equipada com três bicicletas para o hospital West Park custa menos do que US$ 3 mil, segundo o supervisor clínico Ryan Winchell. Por outro lado, comprar e equipar uma ambulância com o mesmo propósito sai por US$ 280 mil. Por lá, as unidades de bicicletas são chamadas durante as paradas de 4 de julho, quando se comemora a independência dos EUA, um dos principais feriados do país, e também nas trilhas que ficam do lado de fora do Parque Nacional de Yellowstone e que somam mais de 80 quilômetros.
Winchell, que também é paramédico e membro de uma das equipes de serviços de emergência de bicicleta da cidade, conta que ele e os colegas vivem experiências diferentes em atendimentos sobre duas rodas ou de ambulância. “[No primeiro caso] você não tem alguns minutos para pensar onde você está indo e o que você vai fazer. É, definitivamente, um outro tipo de jogo.”
Por outro lado, quem topa um trabalho como esse é do tipo que gosta de desafios. “Honestamente, é a parte mais divertida do trabalho”, diz Dunivin, da equipe de Los Angeles. “Eu fico normalmente o dia inteiro na estação do Corpo de Bombeiros ou na rua, num caminhão. Quando você está na bicicleta [e é diferente], você conversa com as pessoas na rua e interage com elas. E eu penso: ‘nossa, eles me pagam para isso’”, brinca ele.
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