A última contagem de tráfego na Avenida Sete de Setembro, realizada pelos técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc) em novembro de 2016, mostra que o número de ciclistas que utiliza a via para o deslocamento diário dobrou. De 2013, ano anterior à implantação da Via Calma, para 2016, o número diário de ciclistas dobrou na via, passando de 528 para 1.226. Somente de 2015 para 2016, o crescimento no número de pessoas que andam de bicicleta na via foi de 19,38%. No mesmo período, houve também um aumento no número de carros na avenida, mas menos expressivo, de cerca de 6%.
Com o início de uma nova gestão municipal, a do prefeito Rafael Greca (PMN), ainda não se sabe se a política das Vias Calmas e as outras inovações viárias e de trânsito implantadas por Gustavo Fruet (PDT) serão mantidas exatamente como estão. Procurado, o Ippuc informou, via assessoria de imprensa, que a atuação do órgão deverá ser mais regionalizada na gestão de Greca, com técnicos saindo da sede na Rua Bom Jesus para trabalhar nas dez regionais da cidade. É a partir desse movimento, das demandas locais que surgirão e que deverão ser analisadas também a partir do ponto de vista do macroplanejamento da cidade, é que as soluções da gestão Fruet poderão ser reavaliadas.
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Ainda durante a campanha, Greca tomou posições contraditórias em relação às Vias Calmas. Ele assinou uma carta-compromisso da Associação Cicloiguaçu, mas também criticou a configuração atual da Avenida Sete de Setembro.
Ao todo, a carta da Cicloiguaçu tinha seis itens e o quinto compromisso tratava justamente da redução da velocidade máxima das vias municipais. Em detalhes, o item pedia a manutenção e ampliação das áreas de trânsito acalmado (Vias Calmas e Área Calma), entre outras solicitações. No mesmo dia em que soltou uma peça de campanha destinada aos ciclistas, porém, Greca falou que, na sua gestão, novas ciclovias seriam feitas mas “de maneira a não infernizar a vida de quem dirige automóveis e ônibus” , e que iria repensar a Sete de Setembro, sem adiantar nada sobre o assunto. “A Sete de Setembro tem que ser requalificada, ela é muito ruim. Não vou contar [se vou manter a ciclofaixa] porque o Ney Leprevost (PSD) copia”, disse ele na ocasião.
Contagem de ciclistas
Os dados obtidos no levantamento do Ippuc são uma média da contagem do número de ciclistas e de carros que trafegam na Avenida Sete de Setembro, em três trechos: entre as ruas Mariano Torres e Tibagi; Lamenha Lins e Brigadeiro Franco; Bento Viana e Silveira Peixoto. As comparações entre os anos consideram apenas turnos coincidentes, ou seja, contagens feitas num mesmo período do dia: pico da tarde, das 17 às 20 horas.
A Via Calma da Av. Sete de Setembro foi a primeira a ser implantada na cidade, entre os meses de junho e julho de 2014, num trecho de 6,3 km (extensão total dos dois sentidos) que liga o Centro ao bairro Água Verde, passando ainda pelo Rebouças e o Batel.
Caracterizada por uma faixa preferencial para ciclistas e uma velocidade máxima de 50 km/h para os ônibus e de 30 km/h para os demais veículos em toda a avenida, a Via Calma busca induzir uma mudança de comportamento na relação de motoristas e ciclistas. Apesar de preferencial, a faixa para os ciclistas é apenas demarcada, pintada no chão, e pode ser compartilhada com os carros e motos no momento em que esses precisam fazer uma conversão, o que exige respeito e bom senso de todos os usuários.
A segunda Via Calma de Curitiba foi implantada em junho do ano passado, último ano de Fruet à frente da prefeitura de Curitiba, nas avenidas João Gualberto e Paraná, num trecho de 14 km (considerando os dois sentidos) entre o Centro e o bairro Santa Cândida. Naquele mesmo mês, menos de quinze dias após a inauguração do trecho, uma outra contagem do número de ciclistas do Ippuc, indicou que 71,85% dos 302 ciclistas identificados estavam utilizando a faixa preferencial recém implantada. Na contagem anterior realizada ainda em junho de 2015, o cenário era praticamente o inverso: 93,21% dos 265 ciclistas identificados usavam a canaleta e apenas 6,79%, a via dos carros do trajeto.
A diminuição do uso da canaleta pelos ciclistas também aconteceu na Sete de Setembro. De 2013 para 2016, o número de ciclistas identificados pelo Ippuc usando a via exclusiva para os ônibus caiu de 80% para 34% do total.