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moradia

Está nas mãos dos municípios resolver gargalo dos terrenos na América Latina

Residencial Vista Bela, conjunto de 10 mil unidades inaugurado em 2011 em Londrina. Mesmo dentro da roupagem do Minha Casa, Minha Vida, preço dos terrenos levou país a repetir erro do passado: instalar grandes conjuntos habitacionais nas periferias das cidades, em locais sem infraestrutura adequada. | Roberto Custódio/Arquivo/Jornal de Londrina
Residencial Vista Bela, conjunto de 10 mil unidades inaugurado em 2011 em Londrina. Mesmo dentro da roupagem do Minha Casa, Minha Vida, preço dos terrenos levou país a repetir erro do passado: instalar grandes conjuntos habitacionais nas periferias das cidades, em locais sem infraestrutura adequada. (Foto: Roberto Custódio/Arquivo/Jornal de Londrina)

A dois dias do lançamento da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, tido como uma das experiências mais exitosas em termos de habitação na América Latina, especialistas do mercado e da ONU apontaram o acesso ao solo urbanizado como o principal entrave para o atendimento da demanda por moradia no continente. Mais precisamente, lembraram dos instrumentos introduzidos pelo Estatuto da Cidade, em 2001, no Brasil, que poderiam ajudar a controlar a precificação dos terrenos nos centros urbanos do país, mas que, ora por ideologia, ora por falta de vontade política, não foram utilizados como deveriam pelos municípios. A discussão ocorreu durante o Smart City Business America, evento voltado para cidades inteligentes em Curitiba e que vai até o dia 30.

Para Claudio Acioly, arquiteto e chefe do departamento de capacitação e desenvolvimento da ONU-Habitat, a agência para habitação da ONU, com mais de 30 anos de experiência em 25 países, o Minha Casa, Minha Vida se viu muito prisioneiro da esfera local, que aquela que viabiliza o acesso ao solo urbanizado no Brasil. “Não se criou um mecanismo forte para se intervir nessa oferta de solo. O que ocorreu é que o terreno barato, aquele que está na periferia dos centros urbanos e que é mais fácil de disponibilizar, foi utilizado e com isso se repetiu erros do passado deste país”. Acioly se refere à instalação de grandes conjuntos habitacionais nas periferias das grandes cidades, à margem da boa infraestrutura de transporte e de serviços.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) – entidade que representa o mercado e ajudou a construir o Minha Casa, Minha Vida neste aspecto –, José Carlos Rodrigues Martins, ressaltou que as construtoras também são a favor do uso de instrumentos como o IPTU progressivo, a demarcação de zonas de interesse social (Zeis) e a outorga do direito de construir para a viabilização de terra mais barata. “Esses instrumentos têm de ser usados sem ideologização. Quanto menos custar o terreno, mais unidades serão construídas e muito mais ‘business’ [negócios, faturamento] a indústria terá. É uma questão lógica”. Martins avisou que no mês de maio, no próximo encontro nacional da CBIC, será distribuída uma cartilha para orientar os municípios brasileiros a como criar, em seus respectivos Planos Diretores, e usar os instrumentos de uso e ocupação de solo do Estatuto da Cidade.

Mas nem todos os instrumentos têm a simpatia do mercado. A cota de interesse de moradia social, por exemplo, adotada pelos novos planos diretores de São Paulo e Curitiba, não é vista como uma boa solução para a questão do preço do solo. “Num empreendimento, não importa se 15% foi reservado para moradia social, mais barata. O preço que vai referenciar o preço da terra na região é o dos 85% de unidades restantes, vendidas a preços normais de mercado. Então a cota é um mecanismo que resolve, talvez, uma questão, mas não age sobre o entrave maior que é a precificação do solo urbanizado”, argumentou Martins.

Curitiba

Com cerca de 1,8 milhão de habitantes, segundo dados do Censo 2010, Curitiba tem 396 habitações irregulares e um déficit de mais de 49 mil moradias, atualmente. Até 2024, as projeções da Fundação João Pinheiro e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) apontam para um déficit de mais de 79 mil moradias, sendo que 29 mil deverão ser destinadas à população de renda de até R$ 1,6 mil. É com esse desafio em mente que algumas novidades como a Cota foram inseridas na revisão do novo Plano Diretor da capital.

Na prática, a Cota significa que grandes condomínios como aqueles erguidos no bairro Ecoville (que engloba partes dos bairros Campina do Siqueira, Mossungué e Campo Comprido) não poderão se repetir na paisagem da cidade, a não ser que tenham junto – ou muito próximo – unidades de moradia popular.

A recente criação da regularização simplificada de imóveis construídos até 2012 em Curitiba também é uma maneira da democratizar o acesso ao solo urbanizado – neste caso, aquele já edificado, mas em estado precário. Flexibilizar regras para que essas residências sejam formalizadas é uma maneira de requalificar áreas já ocupadas das cidades e também incentivar a formalização de outras instâncias urbanas, já que muitas dessas construções são também comércios.

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