Modelo para diversas cidades ao redor do mundo, o transporte coletivo de Curitiba continua perdendo passageiros. Dados da própria Urbs mostram que os ônibus da cidade transportaram, na média mensal, 827 mil passageiros a menos entre março e junho deste ano na comparação com o mesmo período de 2015. Isso ocorre em todo o país, mas é agravado na capital paranaense pelo fato de a projeção de usuários sempre ser menor do que o realizado, inclusive nesse primeiro quadrimestre tarifário de 2016. Esse é um dos pilares para a definição da tarifa repassada às empresas: quanto maior a projeção, menor a tarifa calculada pela Urbs.
Os ônibus de Curitiba foram os que mais perderam passageiros entre 2015 e 2014 dentre as capitais do país. Nesse período, segundo dados da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano, a cidade teve queda de 8% no total de usuários pagantes. Entre 2012 e 2014, a perda média mensal havia sido de 514 mil usuários. A prefeitura culpa a crise.
”É algo que nos preocupa, claro, mas temos visto esse quadro no Brasil inteiro. Há uma redução na atividade econômica de forma expressiva. Então, não vejo isso [queda de passageiros] como uma questão e atratividade do transporte. Se a pessoa não tem emprego, não tem porque se deslocar”, afirmou Roberto Gregório da Silva Junior, presidente da Urbs.
O fato, porém, é que em todo o país há uma crise no financiamento do transporte coletivo agravada com a decisão política de congelar as tarifas do setor em 2013. Além disso, os índices de congestionamento nas cidades aumentaram devido ao estímulo para a indústria do automóvel com a isenção de impostos e o congelamento do preço da gasolina, enquanto não havia uma política clara para priorização do ônibus. Impulsionado pela Lei de Mobilidade Urbana de 2012, o PAC da Mobilidade começou a deslanchar apenas dois depois – quando a econômica brasileira já deve seus primeiros sinais de cansaço.
Com as tarifas subestimadas e o custo do ônibus aumentando em função do trânsito, as prefeituras aumentaram seus subsídios para pagar as contas básicas da operação do setor. São Paulo subsidia o sistema em R$ 2 bilhões por ano. Mas outras capitais, com menor orçamento, rarearam esses aportes. Curitiba é uma delas. A capital paranaense deixou de arcar com esse tipo de subvenção. Hoje, o executivo custeia apenas a manutenção da infraestrutura.
Furo
Mas as empresas reclamam de outro problema. Segundo elas, ao errar na projeção de passageiros, a prefeitura está levando o sistema à falência. A fixação da tarifa do transporte coletivo de Curitiba é baseada em um cálculo que leva em consideração o custo da operação e a projeção de passageiros transportados. Quanto mais pessoas dividindo o bolo dos custos, menor a tarifa.
Entre 2012 e 2014, as projeções levaram em consideração queda na quantidade de passageiros. Mesmo assim, o furo acabou sendo maior do que o estimado (veja os detalhes no infográfico). Já na comparação de 2016 com 2015, primeiros períodos sem os passageiros da região metropolitana, a projeção previu estabilização. Mas os resultados dos quatro primeiros meses já mostraram um furo de 5,25%, isso significa R$ 14 milhões a menos para o setor, média de R$ 3,6 milhões por mês. Para efeito de comparação, a folha de pagamento do transporte coletivo em Curitiba é de aproximadamente R$ 30 milhões. Nos últimos dois anos, as empresas alegaram dificuldades para pagar os trabalhadores, principalmente nos meses do 13.º salário.
Segundo Gregório, as projeções seguem o contrato e são impactadas por eventos que não podem ser previstos. “O reflexo da projeção vai ser considerado no calendário base do ano seguinte. E existem variáveis que compõem essa programação. Além disso, em um ano pode ter tido greve, no outro podem ter tido mais feriados [prolongados]. De qualquer forma, o que vivenciamos é um risco próprio da atividade empresarial”, argumentou o presidente da Urbs.