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Futuro das Cidades

Jaqueta para moradores de rua permite doação no débito

Empresa de Amsterdã criou uma jaqueta para moradores de rua que funciona como uma conta bancária. Basta aproximar  cartão ou celular da jaqueta para doar um euro. | Divulgação/N=5
Empresa de Amsterdã criou uma jaqueta para moradores de rua que funciona como uma conta bancária. Basta aproximar cartão ou celular da jaqueta para doar um euro. (Foto: Divulgação/N=5)

Uma empresa de Amsterdã criou uma jaqueta para moradores de rua que funciona como uma conta bancária. Para doar, a pessoa precisa ter um cartão ou celular do tipo contactless (sem contato). O valor é fixo em um euro. A N=5, que criou o protótipo, argumenta que a jaqueta tem mecanismos para garantir o “bom uso” do dinheiro. O que pode incentivar novos doadores, mas também cria uma relação de paternalismo questionável. De um jeito ou de outro, a escassez de dinheiro vivo em países como Holanda e Suécia tem dificultado a vida das pessoas mais pobres, muitas delas apartadas do sistema financeiro.

A jaqueta foi projetada para funcionar em parceria com abrigos de Amsterdã. Os cartões sem contato são aqueles que não precisam ser inseridos na máquina, basta aproximá-lo da máquina. A pessoa que for fazer uma doação a um morador de rua precisa apenas aproximar seu cartão da jaqueta; o dinheiro fica numa espécie de conta-corrente vinculada à roupa, e só pode ser gasto em determinados estabelecimentos. A ideia é desincentivar gastos com bebida alcoólica, por exemplo, e aumentar os com comida e abrigo.

“Hoje em dia a tendência é que a gente carregue pouco ou nenhum dinheiro conosco. Em segundo lugar, a maioria das pessoas quer ajudar quem está em situação de rua, mas sentem que dar dinheiro é uma forma de ajudar a manter o vício”, argumentou Silvia van Hooft, da N=5, ao site Indy100 .

A roupa foi testada nas ruas de Amsterdã no período do Natal do ano passado (2016), com apoio do banco holandes ABN Amro, conta o jornal britânico IBTimes . Ainda é um protótipo, mas a N=5 estaria em busca de parceiros para produção em larga escala.

Esta não é a primeira vez que o pagamento cashless é utilizado por moradores de rua holandeses. Em 2013, a revista Z! distribuiu “maquininhas” de cartão para os seus vendedores. Escrita por jornalistas profissionais, a Z! é vendida por pessoas que vivem na rua, que lucram 90 centavos de euro com cada exemplar (que custa dois euros).

Como muita gente parou de andar com trocado, as vendas caíram. Mas a ideia das máquinas não vingou. Agora, a revista negocia com bancos holandeses a criação de um sistema que funcione direto pelo telefone, segundo informações do Guardian . É um ciclo vicioso. Sem conta no banco, pessoas já empobrecidas não conseguem ganhar dinheiro e ficam sem consumir, já que as transações são restritas aos cartões.

A tendência cashless e os moradores de rua

Com o crescimento da tendência cashless, principalmente em países europeus, o problema tende a se agravar. Especialistas estimam que a Suécia pode ser o primeiro país sem dinheiro vivo, já em 2030. Ao mesmo tempo, dados do Banco estimam que, entre os mais pobres, apenas 27,5 da população tem conta bancária. Entre os mais ricos, a taxa pula para 90,6%.

Mesmo na Europa e Ásia Central, menos de metade da população pobre tem conta em banco. Ao mesmo tempo, são pelo menos seis milhões de pessoas em situação de rua no continente europeu, segundo a Homeless World Cup. Os números não são exatos, já que cada país têm critérios diferentes para o conceito de homeless (sem-teto, em uma tradução literal), e muitos não disponibilizam dados a respeito.

Uma opção para este público, similar à que a Z! estuda para vender suas revistas, é vincular o dinheiro a contas administrada por SMS. Muitas cidades, principalmente no continente africano, já adotam o modelo. Kampala, em Uganda, recolhe seus impostos desta forma. Em três anos de pagamento via mensagem de celular, a arrecadação quase triplicou.

Gigantes do mundo financeiro também estão de olho. Ajay Banga, CEO da Mastercard, defende que a inclusão financeira deve ser vinculada ao sistema bancário já existente. “O problema dos programas de pagamento por telefone é que eles não estão conectados entre si”, o que risca a criação de “ilhas, em que as pessoas desbancarizadas fazem transações apenas umas com as outras”, declarou, em conferência sobre o tema, em 2015.

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