A “cidade do futuro” do Google da qual se falou muito no último mês de abril parece ter como ponto de partida o que vem sendo chamado há alguns anos de “maior empreendimento imobiliário da história dos Estados Unidos e também de Nova York, desde o Rockfeller Center”. O Sidewalk Labs, que assim como o Google pertence à Alphabet, fechou um contrato de dez anos para a locação de um andar e meio do 10 Hudson Yards, torre comercial aberta neste mês de junho e que faz parte do complexo Hudson Yards, empreendimento de 45 quarteirões da Related Companies e do Oxford Properties Group no Far West Side Manhattan, antiga área industrial de Nova York.
Em abril deste ano, em uma conferência do site The Information, Daniel Doctoroff, CEO do Sidewalk Labs e ex-deputado por Nova York, insinuou o desejo de construir uma cidade “do zero” a partir da experiência da internet. Sabe-se agora que a experiência dele no Hudson Yards pode ser a semente para esta ideia – testar seus insights de cidade guiada por dados primeiro em uma pequena comunidade urbana, ali à beira do High Line de Nova York. Doctoroff é, ao lado do chamado presidente do empreendimento Jay Cross, o grande idealizador do Hudson Yards.
O Sidewalk Labs A empresa que se dedica a desenvolver soluções em tecnologia urbana deve se mudar para lá em agosto próximo. O tradicional programa de rádio The Takeaway , da estação pública de rádio WNYC, fez um programa na última quinta-feira (23) dedicado ao tema das cidades inteligentes, que partiu da ideia do Hudson Yards e das ambições de Doctoroff também para falar da desconfiança em torno desses super projetos urbanos desde os tempos da saudosa urbanista Jane Jacobs, para quem a espontaneidade e criatividade de uma cidade nunca poderiam ser substituídos por torres de vidros.
O empreendimento
No site do empreendimento, o tom é de que nada melhor do que o Hudson Yards surgirá no futuro próximo. Quando estiver totalmente pronto, o que está previsto para 2025, é esperado que 125 mil pessoas trabalhem, visitem e/ou morem no empreendimento. O lugar terá cerca de 1,6 milhão de metros quadrados de espaços comerciais e residenciais, incluindo mais de 100 lojas, vários restaurantes e, aproximadamente, 4 mil residências, além de um novo centro dedicado à arte, escolas e um hotel de luxo. Em espaços abertos, são 56,6 metros quadrados.
No total, estima-se que a construção gerará 23 mil empregos diretos e indiretos, mas não só em razão do que já foi citado. É que o Hudson Yards ficará em cima de 30 linhas de trem da Long Island Rail Road (LIRR), além de três túneis da linha ferroviária utilizada pelas empresas Amtrak e NewJersey Transit e uma das quatro passagens, concluída em 2014, do chamado projeto Gateway (rede de túneis para o transporte ferroviário). Uma plataforma de mais de US$ 700 milhões está sendo construída para suportar a maior parte do empreendimento.
Mas a história do Hudson Yards é longa. Segundo informações do jornal The New York Times, pouco antes do colapso da economia norte-americana, em 2008, a Related Companies assinou um contrato de US$ 1 bilhão pelos direitos de incorporar projetos sobre as linhas férreas que iam da Rua 30th à 33rd, entre as avenidas 10th e 12th. À época, uma das últimas medidas a serem assinada pelo prefeito Michael R. Bloomberg foi a autorização para verticalizar a região, algo necessário para o “crescimento e prosperidade da cidade”. Ao todo, a Related e o Oxford Properties Group teriam desembolsado US$ 15 bilhões para por o projeto em movimento. Mais áreas foram sendo compradas e incorporadas ao empreendimento.
Apesar dos valores astronômicos envolvidos, Jessica Scaperotti, executiva da Related Companies, disse à WNYC que haverá opções de residências acessíveis no completo do Hudson Yards. “Nossa companhia foi, na verdade, fundada a partir da construção de casas acessíveis e temos toda uma divisão dedicada a isso, acreditamos que isso é uma parte importante de qualquer cidade.”
Mas o que existe realmente de diferente nesse empreendimento é que todos os seus prédios serão conectados, e em alto estilo, por fibra. “Você está literalmentemente construindo Hudson Yards a partir da base da Internet e Internet em si é caracterizada por conectividade. Assim, o que nós veremos será uma conectividade digital sem precedentes dentro do Hudson Yards e na sua relação com o mundo”, disse Doctoroff à WNYC, frisando o fato de que o empreendimento será a primeira comunidade quantificada do mundo.
A coleta de lixo, por exemplo, será feita via pressão pneumática e tubos localizados no subterrâneo, a o controle do consumo de água e de energia será feito milimetricamente. Haverá também uma rede própria de geração de energia. “Nós percebemos que [uma smart city] não é apenas sobre conectividade ou resiliência, mas sobre experiências de usuários e criar um ambiente em que qualquer que seja a demanda ela possa ser implementada rapidamente e com eficiência”, disse Jay Cross à WYNC.
Por ora, com toda a infraestrutura já planejada, o Hudson Yards poderá ser palco de mais de 100 experiências para usuários/moradores/trabalhadores/visitantes, desde controlar o aquecimento do apartamento até guiar com segurança um cliente VIP até o escritório.
Tudo isso vale e valerá ainda mais dinheiro. Estima-se que até 2020, essa economia com base em dados valerá US$ 1,6 trilhão ao ano. Por isso, então, todo o interesse da Alphabet em projetos como o Hudson Yards.