| Foto: Henry Milleo/Arquivo/Gazeta do Povo

Durante as discussões do novo Plano Diretor de Curitiba, entre 2014 e 2015, mais de 20 entidades, entre associações de moradores, empresas sociais e conjuntos de pesquisadores, se juntaram na chamada Frente Mobiliza Curitiba para acompanhar as discussões que iriam orientar o crescimento da cidade nos próximos dez anos. Algumas das reivindicações foram abraçadas e inseridas no documento pelos vereadores quando este já tramitava na Câmara Municipal, mas muita coisa passou batida ou mesmo foi vetada na versão final do texto.

CARREGANDO :)

Uma das decepções da Frente Mobiliza foi a falta de detalhamento de instrumentos como o IPTU progressivo, que tem como função manter a cidade dinâmica, evitando que terrenos e construções fiquem vazios por muito tempo.

O que Curitiba tem a aprender sobre terrenos vazios e prédios desocupados

Publicidade

Com um app, menos de 200 voluntários mapearam todos os imóveis de Detroit

Leia outros conteúdos sobre o Futuro das Cidades

Inserido no Brasil pelo Estatuto da Cidade em 2001 e presente em Curitiba desde o Plano Diretor de 2004, o IPTU progressivo reforça a ideia da função social dos imóveis, ou seja, de que todo terreno ou construção precisa ter uso. Se isso não ocorrer, a prefeitura pode aplicar um aumento gradual do IPTU até o limite de 15% do valor do imóvel. Em cinco anos, caso a situação não mude em nada, o imóvel pode ser desapropriado.

Para funcionar dessa maneira, porém, o IPTU progressivo tem de ser regulamentado. Isso nunca aconteceu em Curitiba e, à parte do projeto de revitalização da Rua Riachuelo, o IPTU progressivo nunca cumpriu o seu papel na cidade.

Apesar da pressão da Frente Mobiliza, o novo Plano Diretor não trouxe novidades nesse sentido. Um decreto é necessário até mesmo para dizer que imóveis (de que tamanho, características, idade etc) podem ser alvo ou não do instrumento.

Publicidade

O que outras cidades têm a ensinar a Curitiba

Detentora de vários prêmios e sempre presente nas primeiras posições entre as cidades do Brasil e da América Latina não é fácil encontrar áreas em que Curitiba não tenha evoluído ou mesmo não seja referência. Nessas Eleições 2016, Futuro das Cidades se propôs a encontrar essas áreas e trazer boas ideias que deram certo lá fora e podem funcionar por aqui também. Esta é a segunda reportagem nesse sentido. A primeira tratou sobre o que Curitiba tem a aprender sobre rios mais limpos.

O arquiteto e urbanista Alexandre Pedrozo, que faz parte da Frente Mobiliza, lembra que antes mesmo da criação desse instrumento, o próprio IPTU sempre foi subutilizado pelos municípios como forma de controle do uso e da ocupação do solo no Brasil. “Nossos parâmetros para leis como a do IPTU vêm de cidades europeias, mas por lá deixar um terreno vazio por muito tempo é inviável financeiramente. Aliás, quando você vê um terreno vazio por lá em plena região central? Já por aqui, o valor do IPTU parte de um valor defasado, já distante do valor de mercado de um imóvel. Quando falamos de um terreno vazio, então, estamos falando de 1% ou 2% do valor daquele imóvel segundo uma base defasada. A conclusão é que compensa, e muito, manter um terreno valorizando e fora do mercado”, explica Pedrozo.

Para os gestores públicos brasileiros, reajustar uma tabela de IPTU é mexer num vespeiro, tão ou mais complicado quanto aumentar a tarifa de ônibus. “E veja que a questão do IPTU nada tem a ver com uma visão de esquerda ou coisa parecida. Hoje pagamos mais pela conta do condomínio do que no IPTU, que é, digamos assim, o condomínio da cidade. Usar instrumentos que forcem a entrada dos imóveis no mercado é tentar corrigir essas distorções. Resultaria até em um preço menor para os imóveis (...) Mas enquanto um terreno num dos principais eixos de transporte de Curitiba [e que se valorizou também em razão dos investimentos públicos, pagos por todos] fica vazio, o coitado do cidadão se vê podendo comprar apenas um imóvel lá na periferia [longe de toda a infraestrutura que a cidade já oferece].”