Motoristas de táxi em Curitiba se unem para combater Uber e crise. Três associações da cidade querem criar “mega central” para reduzir custos e baixar preços para usuários.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

De olho na proliferação dos aplicativos de transporte, três centrais de táxi Curitiba resolveram unir forças. As associações Sereia, Capital e Curitiba pretendem criar uma “mega central de táxis” ainda no primeiro semestre de 2017. A unificação deve cortar pela metade os custos para os motoristas de táxi. Vantagem que deve ser passada para os usuários na forma de descontos. A intenção do grupo é partir para a briga de mercado, e mostrar que o serviço pode aliar bons preços e qualidade mesmo em tempos de crise econômica.

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Com cerca de mil carros, a nova central deve representar um terço da frota de táxis de Curitiba. Pouco mais de 1,3 mil motoristas devem estar à disposição dos clientes, já a partir da segunda quinzena de março. A medida já foi aprovada pelos conselhos deliberativos das três centrais, e ainda deve passar por assembleias de cada uma das associações de motoristas de táxi.

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Por hora, as marcas permanecem. Não só em razão da tradição das três centrais (com mais de três décadas, cada), para fazer uma transição com os clientes, mas também por questões burocráticas. O grupo tem de definir se será criada uma “mega cooperativa de táxi” ou uma associação, por exemplo, entre outras coisas. Representantes das centrais estimam que a frota vai ser a maior do Brasil. A Guarucoop, que opera no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, tem cerca de 700 carros.

Uma conta de “matemática básica” guiou a união dos motoristas de táxi, conta o presidente da Capital, Alexandre Souza. As associações hoje não operam no prejuízo, mas, para manter as três de pé, é gasto cerca de R$ 1 milhão ao mês. Dividido por mil cooperados - que dividem os custos da operação - fica cerca de R$ 1 mil. A previsão é reduzir para metade deste valor, R$ 500 mil ao mês, na soma das três.

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A iniciativa é uma resposta não só à crise econômica mas às ofensivas do Uber – que, mesmo sem regulamentação, opera em Curitiba desde março do ano passado – e de aplicativos nacionais de táxi, como 99 e Easy, que não cobram mensalidade dos motoristas, mas descontam uma porcentagem de cada corrida.

União de motoristas de táxi vai gerar descontos de até 50% para usuários

A aposta da central unificada é em descontos para os usuários do táxi em Curitiba, já que eles não podem mexer na tarifa, tabelada pelo município. A ideia é trabalhar com descontos de 30%, 40% e até 50%. “O cliente vai saber que tem um preço bom e um serviço de confiança”, acredita Valdir Donizete Correa, da táxi Sereia.

Nos últimos meses, virou comum a prática de descontos. Em especial com aplicativos nacionais de táxi, que se viram ameaçados pelos preços baixos do Uber, em especial em sua categoria popular, o UberX, a primeira a estrear em Curitiba em março do ano passado. Mas muitos motoristas de táxi se ressentem de uma certa imposição dos aplicativos, pois os descontos implicariam em perdas financeiras, embora eles não sejam obrigados a aceitar estas corridas. A estratégia da nova central é compensar a perda com os descontos com uma mensalidade barata.

Outra aposta dos motoristas de táxi de Curitiba é investir em um aplicativo unificado, que também deve funcionar em território nacional. O novo app funcionar em Curitiba, com motoristas das três centrais, e em outas grandes cidades brasileiras, graças a uma parceria com a associação nacional da categoria (Abracomtaxi).

Se, por um lado, os taxistas querem enfrentar a concorrência, o discurso é de dar um basta às picuinhas entre diferentes serviços de transporte. “Existiu uma euforia em cima destes novos modais. Claro que o taxista sofre. Mas isso serviu para a gente criar novas soluções, trabalhar melhor, se qualificar melhor no mercado. Não é de todo perdido. Agora temos que recuperar o tempo perdido sem brigas, sem paralisação. Dar o desconto e o cliente vai voltar”, resume Alexandre Souza.

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Brigas, como os confrontos físicos entre motoristas de táxi e de Uber, “não levam a lugar nenhum”, acredita o presidente da Táxi Curitiba, Sidnei Zanella Junior. “A gente quer a inovação do táxi, capacitar o motorista”. Uma ideia da nova central é criar uma certificação para motoristas e carros, e fazer nova capacitação com todos os associados e promover uma renovação da frota. Hoje os táxis de Curitiba são todos de 2011 para cá, sendo que 18,8% é de carros de 2016.

Investimento em qualidade para combater Uber

Não é a primeira vez que taxistas investem em qualidade para combater o Uber. Em Fortaleza, um grupo de motoristas se uniu em 2015 para oferecer um serviço de luxo ao preço de carro convencional. Além de álcool em gel e toalha, os motoristas oferecem água, bombom e balinhas para os clientes. Todos trajam camisa social e gravata, além de um eventual terno.

Em Florianópolis, um aplicativo lançado em dezembro do ano passado também resolveu apostar no serviço “premium”. O 48Taxi diz cadastrar apenas motoristas cujos carros tenham até três anos de uso. Todos têm ar-condicionado e aceitam cartões de crédito e débito. Os carros são todos vistoriados pela Coopertaxi Floripa.

Enquanto isso, regulamentação do Uber é avaliada

A Urbs, que administra o transporte em Curitiba, está formando uma comissão para discutir a regulamentação do Uber em Curitiba, segundo informação dada à Tribuna do Paraná. Mas o prefeito Rafael Greca (PMN), que assumiu em janeiro, já deixou escapar que pretende aguardar uma solução nacional para o problema, antes de avançar com a regulamentação local.

A opinião é endossada pelo presidente da Câmara de Curitiba, vereador Serginho do Posto (PSDB). Em dezembro último, ainda na legislatura anterior, Do Posto sugeriu à Comissão de Serviço Público da casa que arquivasse o projeto de lei 563/2016, que busca regulamentar aplicativos de transportes, e aguardasse decisão da Câmara dos Deputados.

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Em Brasília, a discussão chegou a avançar, com uma comissão formada pelo presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas o projeto, que em linhas gerais tentava impor ao Uber os mesmos critérios que hoje valem para os táxis, foi considerado muito polêmico para ir a votação. Por querer apresentar um texto mais ou menos consensual, Maia não colocou o texto em pauta, e repassou a discussão para o colégio de líderes.