Dezesseis cidades dos Estados Unidos se juntaram a uma entidade dedicada ao fomento do transporte, a Transportation for America (T4A), e ao Sidewalk Labs, laboratório de soluções urbanas da Alphabet, mesma dona do Google, para descobrir a melhor maneira de usar as novas tecnologias disponíveis – e, durante o processo, incrementar as iniciativas de comunidades locais. Em uma era de recursos públicos insuficientes mas também de fortes avanços de automação e outras tecnologias no setor privado, as autoridades estão procurando novos meios para aprender sobre as cidades do futuro, e querem fazer isso a partir do contato com as gigantes da tecnologia ou mesmo de outras cidades que já estão mais avançadas nesse caminho. A questão aqui é tentar agilizar a máquina pública, aplicar novas soluções de forma mais rápida do que no passado.
“Nós queremos conhecer alguns dos [projetos] pilotos em andamento por aí. Se conseguirmos compartilhar [essas experiências] e aprender uns com os outros, isso nos economizará muito tempo”, diz John Thomas, responsável por supervisionar a performance do Departamento de Transporte do distrito de Columbia ou, como indica a sigla CPO, chief performance officer do órgão– uma função criada em 2009, primeiro pelo presidente Barack Obama, na Casa Branca, e que ganhou outras esferas dos Estados Unidos ao longo dos anos, sem equivalente no Brasil.
A T4A, com financiamento e orientação do Sidewalk Labs, lançou na última terça-feira (18) o primeiro grupo de participantes desta iniciativa de “cidades inteligentes colaborativas”. As cidades serão divididas em equipes que, ao longo do próximo ano, terão a oportunidade de explorar três grandes áreas: veículos autônomos, mobilidade compartilhada (ao estilo Uber) e big data (coleta , análise e processamento de um grande volume de dados, algo necessário para aplicações que vão do gerenciamento de tráfego ao sistema previdenciário).
Em uma cidade isso significa analisar o impacto de veículos autônomos no trânsito e nos congestionamentos, além de aspectos como a igualdade econômica em relação aos players do transporte de um município. Também significa analisar mais dados de transporte e com mais propriedade com o objetivo de descobrir jeitos mais eficientes de interligar redes complexas de mobilidade.
A T4A, que é ligada ao Smart Growth America, grupo de lideranças públicas, privadas e da sociedade civil, se dedica a defender mais investimentos em transporte nos Estados Unidos, com ênfase em projetos ambientalmente sustentáveis. Já o Sidewalk Labs está buscando por novos clientes, ou seja, cidades para as testar suas ferramentas de análise de dados e outras, mas também alega que está aprendendo com as cidades, compartilhando e adquirindo expertise para achar soluções urbanas.
Entre mais de 60 inscrições recebidas, as cidades selecionadas para fazer parte da iniciativa são: Austin (Texas), Denver (Colorado), Boston (Massachusetts), Centennial (Colorado), Chattanooga (Tenesse), Lone Tree (Colorado), Los Angeles (California), Miami-Dade County (Florida), Madison (Wisconsin), Minneapolis/St Paul (Minnesota), Nashville (Tenesse), Portland (Oregon), Sacramento (California), San Jose (California), Seattle (Washington) e Washington DC.
“Frequentemente, eu escuto dos municípios ‘Eu estou interessado em trabalhar com X. Mas eu não sei quem mais está trabalhando com isso’. Eles estão realmente cansados de começar do zero sempre que eles querem começar um projeto”, conta o diretor da T4A para cidades inteligentes, Russel Brooks. Ao se reunirem, pensarem em projetos-pilotos e trocarem experiências, ele acredita que tudo o que as autoridades aprenderem durante a iniciativa se tornará “lugar-comum”, no bom sentido, para um universo muito maior de comunidades. “Todas as cidades concordaram em abrir [as informações de] seus projetos”, ressalta Brooks. A primeira reunião está marcada para os dias 9 e 10 de novembro, em Minneapolis.
Em Washington, Thomas diz que as autoridades estão interessadas em explorar conectar sem fios os veículos a receptores em semáforos e outros equipamentos, uma tecnologia conhecida como “veículo a infraestrutura” (V2I). “Isso poderia ser testado em veículos de propriedade do próprio município como um projeto-piloto”, aposta Thomas. Um dia, acredita ele, uma rede de veículos privados poderá mandar informações como, por exemplo, a localização de pontos de gelo na estrada para que as autoridades possam enviar, com mais precisão, os caminhões de sal ou areia que amenizam esse tipo de problema durante o inverno.
Além de testar esse tipo de solução, a troca de experiências entre cidades também servirá para descobrir, por exemplo, que tipo de padrão de tecnologia é o mais adequado no momento para ser instalada ao longo das rodovias para que a cidade não acabe com um elefante branco. “Nós queremos aprender numa menor escala para trazer esse conhecimento para uma escala maior”, diz Thomas.
Seth Hoffman, da prefeitura de Lone Tree, no Colorado, uma cidade pequena da Grande Denver, diz que as autoridades esperam usar essa oportunidade para ajudar um parceiro privado em projeto que tem como objetivo ligar as estações de trem aos centros comerciais locais. No momento, eles usam um sistema tradicional de transfer para isso. “Nossa grande ideia é como tornar esse serviço mais dinâmico, com um sistema baseado em demanda”, diz Hoffman. “Se isso der certo teremos algo que poderá ser replicado em muitos outros lugares.”
Rohit Aggarwala, o diretor políticas públicas do Sidewalk Labs que já foi funcionário da prefeitura de Nova York durante a administração do ex-prefeito Michael Bloomberg, diz que a iniciativa é um jogo, que exige uma visão ambiciosa mas também pragmática das coisas. “Com um espiríto de uma verdadeiro hacker”, diz Aggarwala, essa rede de cidades será capaz de “testar coisas e ver o que funciona.”