Nos próximos dias, cientistas vão pedalar por algumas das ruas mais movimentadas (e poluídas) de Curitiba. É um esforço altruísta: equipadas com sensores que detectam a presença de partículas leves, as bicicletas vão permitir a análise da qualidade do ar na região. Os resultados vão permitir que os cidadãos possam decidir seus caminhos com base na quantia de poluição de cada via. E, principalmente, orientar o poder público na hora de definir políticas públicas de trânsito e planejamento urbano. Além das bikes, que vão circular a partir de segunda-feira (1.º) no Centro e em outros dois pontos movimentados da cidade, outras 11 estações vão coletar material para análise em pontos estáticos.
Os poluentes analisados são emitidos, principalmente, pela queima de combustível. As bicicletas vão coletar dados de partículas finas (PM 2,5 e carbono negro). Em outros 11 pontos fixos, a coleta de ar vai permitir também a medição da quantia de óxido de nitrôgenio presente no ambiente.
A rota das bicicletas foi definida em parceria com a associação CicloIguaçu. São 9 km por trecho, em média, que devem ser percorridos em uma hora (o ideal para a coleta é que as bikes sigam em velocidade baixa, de cerca de 10 quilômetros por hora). São duas rotas fora do Centro, uma delas na Linha Verde. As demais são na chamada Área Calma, onde a velocidade máxima permitida para automóveis é de 40 quilômetros por hora. A coleta vai ser entre os dias 1.º e 14 de agosto.
Os pontos fixos vão alternar locais de maior e menor movimento de carros. A medição vai ocorrer em horários diversos, em diferentes alturas em relação ao chão, ao longo de 30 dias. A ideia é medir não só a quantia de poluentes, mas como se dá a sua dispersão, explica a professora Erika Pereira Felix, da UTFPR.
Ela é responsável pela análise da quantia de óxido de nitrogênio. Diferente das partículas finas, que são sólidas, o NO e NO2 são gases. Mas os efeitos na saúde são similares, impactando, principalmente, no sistema respiratório.
Pelo menos dois medidores (nas ruas Marechal Deodoro e Vicente Machado) vão ficar nos chamados “canyons urbanos”. Na natureza o termo define vales em meio a paredões rochosos. Na cidade, prédio e edifícios cumprem este papel. Nestes corredores, o ar não se movimenta, e os poluentes ficam estagnados.
A pesquisa é inédita no Brasil. Intitulado ParCur (Emissões de Material Particulado e Fuligem e seu Impacto na Qualidade do Ar da Região Metropolitana de Curitiba-Paraná), o projeto é fruto de uma parceria entre Brasil e Suécia, da qual participam a prefeitura e as universidades de Curitiba, além da Volvo. Pesquisadores da UFPR, UTFPR, PUC e UP vão atuar em conjunto com técnicos do Instituto Meteorológico e Hidrológico da Suécia (SMHI), que também forneceu parte dos equipamentos.
Uma iniciativa piloto foi testada no município de Sapiranga, no Rio Grande do Sul, 60 quilômetros ao norte de Porto Alegre. Lá, o SMHI e o Atmospher (ligado a pesquisadores da UTFPR) mediram a presença de PM 2,5 e PM 10 (leia mais sobre os compostos abaixo) no ar da cidade e, em paralelo, entrevistaram 7,8 mil crianças em idade escolar sobre a presença de fornos à lenha em suas casas. Crianças são consideradas um grupo de risco, e a queima de madeira é uma das formas de emitir os poluentes.
Morar perto de áreas verdes é sinônimo de mais saúde
Leia a matéria completaImpacto na saúde
Enquanto veículos automotores são os grandes vilões da poluição, corredores e ciclistas podem ser as principais vítimas. “Quem está pedalando respira mais vezes do que a pessoa que caminha, e este trabalho vai permitir dizer quais ruas evitar, e em quais horários”, explica o professor Cézar Augusto Romano, diretor do câmpus Curitiba da UTFPR.
Durante a prática de atividade física, aumenta a chance das partículas penetrarem em áreas do pulmão mais vulneráveis, alerta a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês). O órgão ainda inclui nos grupos de risco idosos e as crianças, pelo tempo que passam brincando ao ar livre e por terem o corpo ainda em fase de desenvolvimento.
Material analisado
O projeto ParCur, parceria entre pesquisadores brasileiros e suecos, vai analisar a presença de quatro poluentes no ar de Curitiba. Duas partículas finas (carbono negro e PM 2,5) e dois gases (NO e NO2). Entenda cada um deles.
Carbono negro: black carbon, em inglês, é a famosa fuligem. São partículas marrons que têm origem na combustão da madeira, biomassa e combustível. Além de ser prejudicial à saúde, é um poluente que contribui para o aquecimento global.
PM 2,5: são partículas de até 2,5 micrômetros de diâmetro. Um fio de cabelo, por exemplo, é 30 vezes mais grosso. Podem ser originadas da poeira de estradas e ruas, formadas pela alteração química de gases (que reagem com a luz solar e vapor de água) ou da queima de combustíveis. Podem penetrar de forma mais profunda nos pulmões do que as partículas PM 10 (de dez micrômetros, que são monitoradas por exigência do Conselho Nacional do Meio Ambiente).
NO: muito presente no ar das grandes cidades pela queima dos combustíveis. Pode causar irritação e ardência nos olhos, mas não de forma tão grave quanto o NO2. No entanto, pode reagir no ar para formar NO2.
NO2: pode causar irritação nas vias respiratórias, argência nos olhos, bronquite e pode provocar até a morte, em grandes quantidades. Além de prejudicar a vegetação. Por isso, seu monitoramento é obrigatório, conforme resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente. Também é precursor do “smog fotoquímico” (neblina que é fruto de poluição), além de poder ser transformado em ozônio (O3), gás que, na atmosfera, protege a Terra dos raios solares, mas que pode ser tóxico para as vias aéreas.
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