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Em Dubai, nos Emirados Árabes, calor e clima com possibilidades de eventos extremos, como tempestades de areia, exigiram uma parada de ônibus protegida, em forma de cabine e com ar-condicionado. | Fabio Achilli/Flickr/Creative Commons
Em Dubai, nos Emirados Árabes, calor e clima com possibilidades de eventos extremos, como tempestades de areia, exigiram uma parada de ônibus protegida, em forma de cabine e com ar-condicionado.| Foto: Fabio Achilli/Flickr/Creative Commons

Conceitualmente, um ponto de ônibus é um mobiliário urbano que precisa não só dar segurança e conforto ao usuário do transporte público, mas também se integrar a esse sistema e fazer algum sentido na paisagem da cidade em que está inserido. Entre os especialistas em transporte e urbanistas, a ideia geral é de que um passageiro não deve ficar mais do que cinco minutos à espera do ônibus. Mas uma coisa é o conceito, outra é a realidade das grandes cidades. Nesta semana, a lentidão presente no transporte das cidades brasileiras deu fôlego para uma nova campanha do deputado estadual Rasca Rodrigues (PV-PR) contra o bundódromo – ou bundoril, nome técnico da barra de apoio dos pontos de ônibus.

O bundódromo não é exclusividade de Curitiba. Está presente em mobiliários de outras cidades do mundo (veja fotos abaixo), com algumas variações. Em Londres, por exemplo, o apoio oferecido em alguns locais é um pouco mais baixo e largo do que o do mobiliário curitibano atual, facilitando que o usuário sente. Em outros locais da metrópole europeia, porém, apenas um poste marca o local de parada do transporte público – assim como na maioria das cidades brasileiras.

É comum também que mesmo quando há um banco o espaço seja para, no máximo, três ou quatro pessoas. É o caso dos pontos de ônibus de Chicago, cidade que é referência para muitos urbanistas.

Para casos mais extremos, como o de Dubai, nos Emirados Árabes, onde a sensação térmica nas ruas pode beirar os 60 °C no verão, uma cabine fechada, com cadeiras e ar-condicionado faz as vezes de ponto de ônibus. A estrutura também é uma proteção útil no caso das eventuais, mas não raras, tempestades de areia.

Algo mais simples foi pensado em Toronto, no Canadá, onde o mobiliário urbano tem paredes de vidro para proteger os usuários do frio – no horário de pico, porém, muitos ficam para fora.

No geral, o que se percebe, em termos estéticos, é que os mobiliários urbanos atuais seguem uma linha muito parecida: estruturas de metal, cobertura e/ou revestimentos transparentes, principalmente o vidro, e espaços para propaganda. “Como local de proteção contra o sol e a chuva, o mobiliário atual funciona no que se propõe. O que realmente precisa melhorar a agilidade do sistema de transporte”, assinala o professor de design de produto e gráfico da PUCPR, Paulo Assumpção Zaniol.

Complexidade

Pensar o desenho de um ponto de ônibus não é tão simples quanto parece. É o que explica o designer Guto Índio da Costa, responsável pela criação dos novos pontos de ônibus de São Paulo e ganhador, por esse mesmo trabalho, na categoria design público, no iF Design Award, mais conceituado e completo prêmio do design mundial, na Alemanha, de 2015 e também deste ano. “Um projeto de um abrigo é mais complexo do que parece. Obviamente tem o passageiro que espera debaixo do mobiliário, mas também tem quem fica atrás do equipamento, como no caso de uma loja ou entrada de um prédio. Por isso pensamos que o abrigo tem de ser transparente, para não atrapalhar o comércio próximo de onde ele está inserido. Além disso, o abrigo também não pode atrapalhar a circulação de pedestres”, diz ele. Todas essas questões têm de ser pensadas durante o projeto, sem deixar de lado a beleza e a identidade de cada cidade, lugar. “Por isso que quando pensamos em São Paulo chegamos a quatro modelos diferentes, para cada tipo de rua/região”, ressalta Costa.

O modelo Brutalista, por exemplo, com uma grande base de concreto e com o qual Costa ganhou o iF deste ano, foi pensado para regiões de mais movimento e até conflituosas de São Paulo, por serem bastante resistentes. Ainda assim, o abrigo premiado não está livre de críticas. Por ser muito vazado, reclamam alguns usuários de São Paulo, não protege tão bem da chuva e do vento.

Há também um componente público na insatisfação com os novos mobiliários: eles teriam de vir acompanhados de painéis informativos adequados sobre o sistema de transporte de São Paulo. Até o Ministério Público se manifestou sobre o assunto. Muitos usuários reclamam de que os painéis poderiam ser maiores, com informações dispostas de maneiras mais claras.

  • Pontos de ônibus em Londres têm um pequeno apoio, mais baixo que o presente no mobiliário urbano de Curitiba, que permite que alguns usuários sentem.
  • Pontos de ônibus em Londres têm um pequeno apoio, mais baixo que o presente no mobiliário urbano de Curitiba, que permite que alguns usuários sentem.
  • Em Chicago, cidade americana que é referência para muitos urbanistas, os pontos de ônibus têm um pequeno banco, com divisões e espaço para três usuários.
  • Em Chicago, cidade americana que é referência para muitos urbanistas, os pontos de ônibus têm um pequeno banco, com divisões e espaço para três usuários.
  • Em Dubai, nos Emirados Árabes, calor e clima com possibilidades de eventos extremos, como tempestades de areia, exigiram uma parada de ônibus protegida, em forma de cabine e com ar-condicionado.
  • Em Toronto, no Canadá, outro extremo. Os pontos tem paredes de vidro para proteger os usuários em dias de inverno ....
  • ...como esse, por exemplo. Detalhe: em horário de pico, porém, muita gente fica para fora.
  • Ponto de ônibus do modelo “”Brutalista”, criado pelo designer Guto Índio da Costa e implantado em São Paulo, junto com outras três possibilidades de modelo, a partir de 2013.
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