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Futuro das Cidades

Praias de Paris fazem espaço público ganhar novos significados após os ataques em Nice

Em teoria, e mesmo em clima de tensão, todos são bem-vindos nas praias artificiais às margens do Rio Sena e outro canal de Paris. | Marlene Awaad/Bloomberg
Em teoria, e mesmo em clima de tensão, todos são bem-vindos nas praias artificiais às margens do Rio Sena e outro canal de Paris. (Foto: Marlene Awaad/Bloomberg)

Elas são conhecidas como as “Praias de Paris”: três praias temporárias instaladas nas margens do Rio Sena e também em outro canal da cidade, feitas com palmeiras e areia ‘importadas’. Quando propostas, em 2012, para serem espaços públicos montados anualmente, a ideia era simplesmente oferecer uma opção de lazer para os parisienses que não pudessem viajar durante as férias de verão. Em sua 15.ª edição, porém, as praias carregam consigo uma imagem que vai além disso: oferecem a ideia de uma capital francesa onde o espaço público é compartilhado e onde a boa vontade cívica reina, deixando em segundo plano a visão de uma Paris cercada por subúrbios problemáticos e tensa pela segregação social e econômica.

Em teoria, e mesmo em clima de tensão, todos são bem-vindos nessas praias. Ainda que nesta semana, ainda sob a apreensão pós ataque em Nice e do assassinato, na terça-feira (26) de um padre de 85 anos de idade em uma igreja da Normandia, esse senso de comunidade tenha parecido ameaçado. As Praias de Paris já foram identificadas, inclusive, como os próximos alvo em potencial de um novo ataque terrorista na capital francesa, vítima recente de atentados em janeiro deste ano e em novembro de 2015.

Quando abriu oficialmente as praias na última quarta-feira (27), a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, anunciou que blocos de concreto, cercas e viaturas seriam posicionados próximos às margens para “prevenir que um veículo entrasse ali do mesmo jeito que ocorreu em Nice.”

O anúncio veio logo depois da revelação de que a polícia nacional não teria tomado o mesmo cuidado na Praia do Ingleses, na cidade litorânea onde Mohamed Lahouaiej Bouhlel matou 84 pessoas e feriu mais de 300 ao atropelá-las com um caminhão de 19 toneladas.

Anne foi ainda mais longe: cancelou outros eventos relacionados ao verão parisiense como forma de precaução. Entre eles estão um torneio de basquete, a instalação de cinemas ao ar livre em parques da cidade e a transformação temporária da Avenida Champs-Élysées em uma zona apenas para pedestres. A areia e as palmeiras ‘importadas’ evocam o clima de Riviera Francesa para Paris – clima este atacado em cheio pelo terrorista. Ao mesmo tempo, guardadas as devidas proporções, as Praias de Paris também são espaços vulneráveis, onde o máximo que as pessoas podem fazer é correr o máximo que puderem em caso de ataque.

Além disso, há ainda o fantasma da Tunisia: o país foi o “tema” escolhido para as praias artificiais deste ano, mas também é a terra natal de Mohamed Lahouaiej Bouhlel.

De acordo com a Promotoria de Paris, três dos outros suspeitos detidos por supostas ligações com o ataque em Nice também eram tunisianos ou franco-tunisianos.

O “tema” da praias, escolhido há muito tempo, é um tanto óbvio. Mesmo após a brutal conquista da Tunísia pela França em 1881 e a independência do país em 1956, os dois países tem permanecido muito ligados um ao outro.

Para Abderrahman Saloua, funcionária de 32 anos de idade do escritório de turismo da Tunísia que distribuiu panfletos de divulgação de seu país nas Praias de Paris na última sexta-feira (19), o terrorismo é agora uma experiência em comum que une Tunísia e França. Se 2015 foi um ano sangrento para França, o foi também para a Tunísia, onde 22 pessoas foram mortas em um ataque do Museu Nacional Bardo Tunisiano e onde outros 38 faleceram em um resort nos arredores da cidade de Sousse. O Estado Islâmico reclamou para si ambos os ataques.

“Nós somos sempre mortos juntos, Tunísia e França”, disse Abderrahman. Quando perguntada sobre qual seria o efeito da temática tunisiana para as praias, ela disse que “depois de tudo o que aconteceu, [o sentimento de apreensão] é a mesma coisa para a Tunísia”.

Apesar da decisão das autoridades francesas de prorrogar o estado de emergência decretado após o ataque em Nice, parisienses não arredaram o pé das atrações de verão da capital francesa. Pelo contrário. “Nós temos de viver a nossa vida, porque isso [o ataque] pode acontecer em qualquer lugar”, disse Justina Roussillin, uma estudante de 22 anos de idade, em referência ao modo particular como o terrorista agiu em Nice, com o caminhão. Ela e Florent Scieir, de 21 anos, estavam nas espreguiçadeiras de uma das Praias de Paris. Florent balançou a cabeça em aprovação à declaração da amiga. “Viver a sua via é melhor que ficar em casa.”

Para Anne Hidalgo, esse parece ser todo o propósito das Praias de Paris, especialmente neste ano. Como ela disse na última semana: “Nós queremos que os parisienses ocupem sua cidade, aproveitem Paris”. Praia por praia.

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