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futuro das cidades

Principal rua de Madri será fechada para os carros

Em três anos, a rua principal de Madri, a Gran Vía, deve ser fechada para os carros. | Nicolas Vigier/Creative Commons/
Em três anos, a rua principal de Madri, a Gran Vía, deve ser fechada para os carros. (Foto: Nicolas Vigier/Creative Commons/)

A capital espanhola anunciou no início deste 2017 que, em três anos, fechará a Gran Vía, principal rua de Madri, para os carros. A promessa é da prefeita Manuela Carmena, que disse à rede de rádio Cadena Ser que a ideia é, com o tempo – e de preferência até o fim do seu mandato, em maio de 2019 –, limitar o acesso à principal rua de Madri apenas para pedestres, ciclistas, ônibus e táxis.

Embora a tarefa não seja fácil – a avenida, aberta em 1910 no coração de Madri e hoje com seis pistas, é uma das principais vias do centro da cidade –, algumas experiências levadas a cabo no último mês de dezembro, dão, segundo a imprensa local, uma certa força para a medida. Além disso, há também decisões similares tomadas recentemente por cidades como Londres – que fechará a Oxford Street até 2020 – e Paris – que, no último mês de setembro, começou a fazer testes para o fechamento de parte da George Pompidou, na margem direita do Rio Sena, para os carros –, com foco não só na “caminhabilidade” desses centros urbanos, mas também nos níveis de poluição atmosférica, que frequentemente ultrapassam o máximo tolerado pela União Europeia e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo Manuela, uma das oposições mais óbvias à ideia de fechar a principal rua de Madri, a dos comerciantes da região da Gran Vía, já não existiria mais. Na entrevista que deu à rádio, ela explicou que nos dias em que a avenida ficou fechada para os carros, na virada de 2016 – foram períodos intermitentes entre o dia 2 de dezembro e a última segunda-feira (9) –, alguns dos donos dos maiores estabelecimentos relataram um aumento de 15% no movimento em relação ao ano anterior. Dê uma olhada na Gran Vía nesse tour do Google Street View:

Não muito longe dali, a cidade de Bilbao não fechou mas reduziu o espaço para os carros em sua rua principal, também chamada de Gran Vía. Ampliou a calçada e deixou apenas duas pistas para ônibus e carros. Seria uma visão um pouco menos radical, a de reduzir o espaço dos carros, mas não proibi-los totalmente.Veja:

A implantação sistemática de qualquer restrição aos carros, porém, está sendo e será sempre alvo de debates intensos na capital espanhola. Ainda na primeira semana de janeiro, a cidade implantou medidas como o rodízio de placas para o acesso à região central, nova áreas onde estacionar já não será possível e limite de velocidade de 60 km/h na principal via de acesso à cidade. Tudo valendo apenas em determinado período do dia para tentar conter os níveis de poluição atmosférica, que se agravam no inverno e excederam os 200 microgramas de dióxido de nitrogênio (NO2) por metro cúbico por uma hora de exposição tolerados pela Agência Europeia de Meio Ambiente (EEA).

Política e contraponto

Essas medidas e o fechamento da principal rua de Madri para os carros são tão polêmicas que têm servido de combustível para debates entre partidos políticos. Por um lado, o Grupo Municipal Socialista Ayuntamiento de Madri (PSOE), que até 2016 formava uma aliança com a Ahora Madrid, plataforma independente da qual vem a prefeita Manuela Carmena, já começa a questionar as decisões da prefeitura da capital espanhola – o partido teme que tais medidas influenciem negativamente questões cruciais na sua agenda, como a geração de empregos. Por outro lado, a oposição, com o Partido Popular e o Ciudadanos, ataca abertamente Carmena, centrados na figura da Esperanza Aguirre, líder do PP na região. Ela ameaçou processar a cidade durante as experiências de fechamento da Gran Vía na virada do ano.

Como disse o geógrafo e pesquisador do Laboratório de Climatologia (Laboclima), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Francisco Castelhano, quando do anúncio do fechamento da Oxford Street em Londres, isoladamente o fechamento de ruas, mesmo as mais poluídas, causam mais transtornos que soluções às cidades. “O simples desestímulo ao uso de veículos automotores particulares não pode vir sozinho, deve vir sempre acompanhado de novas propostas, novas maneiras do citadino se locomover que possam lhe trazer benefícios em relação ao uso do automóvel particular. Só assim as medidas serão bem aceitas e trarão os resultados esperados, afinal por imposição não se consegue nada”, disse ele na ocasião.

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