O paulistano passa em média 2h38 em movimento, todos os dias. São 11 milhões de pessoas, que perdem 10% do seu tempo no trânsito. A prefeitura busca estratégias para diminuir essa média e, de lambuja, aumentar a qualidade de vida da população. Uma das apostas é trazer conhecimento de fora do governo. Com o 1.º Programa de Residência de Startups de Mobilidade Urbana, o município quer impulsionar a inovação na hora de pensar soluções urbanas.
Nos próximos três meses, as empresas vão ficar instaladas no espaço de coworking do Laboratório de Mobilidade Urbana de São Paulo (Mobilab). Lá, vão ter acesso a dados de mobilidade e assessoramento técnico, sob a supervisão da São Paulo Transporte (SPTrans).
Em outa frente, um programa de mentoria coloca as startups em contato com representantes do mercado. “Na verdade são ‘padrinhos’, que vão abrir as portas, ser um canal de acesso ao ecossistema de startups de São Paulo”, explica Michel de Almeida Porcino, da São Paulo Negócios (SP Negócios), um dos coordenadores do programa de residência.
As iniciativas atiram para todos os lados. Há soluções em transporte de cargas, transporte público, mobilidade a pé e de bicicleta, estacionamento e até na gestão do trânsito. E estão em diferentes etapas. Uns querem disponibilizar o produto em grande escala. Para outros, o desafio é adaptar a solução para um município da proporção de São Paulo.
Mas nenhuma parte do zero. A ideia é ter, ao final da mentoria, um produto bem acabado para apresentar em um “Demo Day”, evento que reúne investidores, parceiros e potenciais clientes. Só participa deste encerramento quem atingir as metas, que vão ser estabelecidas nos próximos dias, de forma individual para cada startup, em parceria com o Sebrae SP, que acompanha o desenvolvimento das empresas.
“A gente quer que estas ideias cresçam e tornem melhor a vida da população. Se isso tudo funcionar, a gente transforma a mobilidade e deixa ela mais eficiente”, defende Porcino. São Paulo também quer ser uma vitrine. A lógica é: se um aplicativo pode resolver um problema de mobilidade por lá, provavelmente vai poder fazer o mesmo em outras cidades ao redor do mundo. A meta da SP Negócios é ser um “hub internacional de inovação”, no futuro, e estabelecer parcerias com organismos que trabalham na solução de problemas urbanos ao redor do mundo, como o Catapult, de Londres, na Inglaterra.
Parceria 2.0
A Residência é uma espécie de evolução das políticas de dados abertos e de apoio a startups, que São Paulo mantém desde 2014. A Scipopulis, uma das residentes, reflete este processo. A empresa hoje desenvolve uma plataforma de gestão do transporte coletivo, que já é utilizada em São Paulo. Há três anos, era apenas uma ideia. “Depois das manifestações de 2013 [que tinham como mote o transporte] a gente resolveu fazer algo de impacto para a cidade”, conta Ivo Pons, um dos quatro sócios da startup.
De lá para cá, o grupo participou de dois “hackatons” do governo paulistano, um organizado pela SPTrans e outro pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET); além da hackatona da prefeitura de Teresina, no Piauí. São maratonas hacker, que reunem desenvolvedores em um curto espaço de tempo (24 ou 48 horas, geralmente), que tem como meta produzir o protótipo de uma solução. “A gente é fã de hackatonas, porque você reúne seu time, são liberados dados, tem muita gente dos órgãos públicos, gestores. É muito disruptivo”, explica Pons.
Mas as maratonas têm sua limitação. Produzidos em poucas horas, os protótipos levam meses para chegar em sua versão final. É o tempo de ajeitar a programação e de formular um modelo de negócios que seja sustentável. É nesta etapa que a residência pode ser um diferencial, na opinião do sócio da Scipopulis.
Dados (nem tão) abertos
Em maio, a reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com todas as prefeituras de capitais brasileiras, solicitando informações sobre dados abertos. Apenas Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife informaram ter portais específicos para o tema, onde disponibilizam para download todos os dados públicos do município. As demais ou informaram ter portal da transparência - obrigatório por lei e restrito a dados de finanças - ou não responderam.
Mesmo nas cidades em que os portais existem, o acesso aos dados depende de uma parceria entre poder público e desenvolvedores (sejam eles startups, universidades ou pesquisadores independentes). Isto porque nem sempre o formato em que os dados são disponibilizados estão no formato exigido pelos desenvolvedores. É aí que entra o diálogo: os municípios têm que estar abertos a adequarem estas informações, o que muitas vezes exige tempo e conhecimento técnico.
Um exemplo são as informações de trânsito em tempo real. Hoje, boa parte das cidades médias e grandes têm informações de momento do GPS dos ônibus, segundo Ivo Pons, da Scipopulis (startup que trabalha na área). No entanto, apenas São Paulo, Rio de Janeiro e Teresina disponibilizam de forma pública e gratuita.