Uma pesquisa, coordenada no Brasil pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas (CEAPG-FGV EAESP) e na Espanha pelo Centro de Inovação do Setor Público da PwC e do IE Business School, em cooperação com a Telefonica Vivo, mostrou que tanto cidadãos, quanto gestores e especialistas acreditam que está nas mãos do poder público, em especial os executivos municipais, a condução do processo de transformação das cidades inteligentes. “Encabeçar não quer dizer resolver tudo, mas estar à frente. Porque o governo [é o ator que] consegue mobilizar todos os setores de forma mais fácil e ágil que os outros setores. O papel de liderança, de construir os arranjos para isso, é superimportante”, diz Maria Alexandra Cunha, pesquisadora da FGV que participou do estudo Smart Cities: transformação digital das cidades.
Segundo ela, as polêmicas votações de projetos endurecendo punições a serviços inovadores como o Uber nas cidades brasileiras são um exemplo de como muitos municípios não estão sabendo lidar com esse papel de liderança. ““O Uber é só uma manifestação dos enormes problemas de regulação que a gente tem numa cidade inteligente”, diz Maria Alexandra, citando também exemplos como a polêmica em torno do desejo dos provedores de limitar o tráfego de dados na banda larga fixa e as demais discussões em torno do marco civil da internet. “O que se espera, minimamente, em uma cidade inteligente é o amplo acesso à internet”, complementa ela.
A promoção dos arranjos institucionais e legais, aliás, é uma das principais tarefas do poder público como líder no processo de evolução das cidades inteligentes. É o que indicam os 120 especialistas entrevistados no estudo em questão.
Áreas prioritárias
Outro destaque do estudo vem das expectativas que os cidadãos têm em relação às cidades inteligentes. Embora o levantamento, feito com 1,6 mil brasileiros e 1,2 mil espanhóis via questionários na web não tenha validade científica, ele indica que há uma leve diferença entre o que o cidadão de cada país entende como área ou desafio prioritário para as cidades inteligentes.
Embora ambas as nacionalidades coloquem a saúde como área prioritária nesse sentido, os espanhóis também elegem o meio ambiente, enquanto os brasileiros apontam a educação e o meio ambiente.
Segundo Maria Alexandra isso tem a ver com a aparente diferença encontrada entre a visão europeia e a latino-americana sobre cidades inteligentes. “Para os estrangeiros, a cidade inteligente é aquela que dá conta das demandas atuais, como mobilidade, sustentabilidade e diversidade. Já para os brasileiros, a cidade inteligente é aquela que ataca esses problemas recentes mas também tem que dar conta dos problemas históricos, muitos daqueles já resolvidos na Europa, como educação básica, moradia e saneamento.”
A pesquisadora explica que em termos de satisfação, a área com a qual os brasileiros estão menos contentes é a segurança. “Embora seja uma atribuição do Estado, a segurança é vista como um problema que a cidade inteligente pode e deve resolver. Entre as mulheres, então, essa sensação é ainda maior. Ainda não exploramos os resultados em termos de gênero, que é algo que pretendemos fazer na sequência, mas imagino que esse resultado em relação às mulheres venha do fato de elas serem mais vítimas da violência e também do sentimento pela família como um todo.”