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futuro das Cidades

Uma solução para a hora do rush: e se as cidades funcionassem em turnos?

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Sim, a ideia é mais maluca do que a dos cientistas que sugeriram, em fevereiro deste ano, a criação de um fuso horário universal. Desafiados pela Ford a pensar uma solução para a hora do rush nas cidades, os alunos do curso de mestrado em Artes e Design Transdisciplinar da escola de design Parsons, em Nova York, imaginaram a mobilidade como algo completamente diferente do que se conhece hoje. Eles usaram o chamado design especulativo – método no qual os designers se permitem pensar “fora da casinha” – e perguntaram a si mesmos várias questões no estilo “E se?”. Ignoraram, por exemplo, a forma tradicional de pensar a mobilidade como uma forma de ir do ponto A para o ponto B.

“O que nós tentamos fazer com os nossos alunos é fazê-los identificar alguns parâmetros-chave existentes no mundo hoje que nos impedem de ir para frente, coisas que podem parecer obstáculos, e então os incentivamos a pensa sobre como seria remover essas barreiras temporariamente?”, explicou um dos professores da aula de “especulações sobre mobilidade” da Parsons ao site Next City, Elliott Montgomery.

Pois bem. Após algumas voltas pela megalópole norte-americana, um cafezinho e um donut aqui e ali, os alunos voltaram para a sala de aula para discutir o que viram e pensar sobre os grandes desafios do dia a dia dos nova-iorquinos. O resultado saiu em um hotsite e foi resumido em 6 especulações sobre mobilidade.

A primeira, e mais curiosa delas, foi batizada de Interzona. “É possível ‘fatiar’ o tempo dentro de uma cidade?”, provocam os alunos Andrea Karina Burgueño, Ricardo Dutra e Stephanie Lukito. A proposta deles consiste na eliminação da ideia da hora do rush ao se criar três zonas do tempo dentro da cidade de Nova York: a primeira delas funcionaria duas horas antes do horário local (ou seja, do horário padrão da costa leste dos Estados Unidos), e a terceira duas horas depois.

“Apesar de esforços como carros compartilhados e acréscimos no transporte público, a rotina dita que as pessoas se locomovam em horários similares durante o dia. Em vez de empregar as tradicionais medidas de mitigação de trânsito, esse projeto inverte a maneira que pensamos sobre planejamento”, afirmam os estudantes no trabalho.

Embora algumas cidades estejam, literalmente, querendo incentivar que as pessoas trabalhem e produzam à noite tanto quanto durante o dia, reforçando, inclusive, o sistema de transporte para isso – como é o caso de Londres –, as pessoas, empresas e mesmo cidades não são ilhas, dependem do relacionamento com outras pessoas, empresas e cidades, e dificilmente conseguiriam manter três zonas do tempo em funcionamento sem que isso interferisse em suas própria existência. A parte mais factível de toda a ideia, então, e que já é adotada por muitas empresas e organizações, é o escalonamento de horários, ou seja, a flexibilização dos turnos de trabalho. Pode ser que daqui a alguns anos, quando as populações nas cidades explodir, ‘viver’ em diferentes horários seja algo que venha naturalmente e, eventualmente, as cidades tenham que criar ‘secretarias e departamentos do Tempo’. Até lá, a discussão dos alunos da Parsons serve apenas para tentarmos pensar a mobilidade fora do sistema já existente.

Todas as ideias sugeridas pelos alunos da Parsons mexem com o status quo, com modo com as cidades funcionam hoje. Mas se a própria ONU já admitiu que o modelo de urbanização atual é falido e espera definir no próximo mês de outubro uma nova agenda de compromissos para mudar isso, não é mesmo chegada a hora de pensar o espaço urbano de uma maneira nova.

Para o professor de Gestão Urbana da PUCPR e atual colaborador do Senseable City Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Fabio Duarte, iniciativas como a da escola de Nova York são necessárias. “Criamos um sistema que envolve um conjunto de tecnologias, de posturas sociais, de valores culturais e econômicos que permitem que esse sistema funcione. A partir daí, na maioria das vezes as soluções propostas são variações do que é aceito dentro desse conjunto de valores. Dificilmente ideias realmente novas sairão dessa lógica circular”, avalia. Duarte cita como exemplo a forma como as cidades tentam resolver os problemas de trânsito. “É comum vermos cidades tentando resolver o problema de congestionamentos criando mais vias, alargando avenidas, reduzindo calçadas para dar mais espaço para carros. E o resultado, também comum, é que essas medidas atraem mais carros, que geram mais congestionamentos.”

Para ele, o exercício da escola de Nova York mostra também que há boas ideias por aí e que elas não estão necessariamente nas agências e departamentos especializados de transporte. “A função básica dessas agências é fazer o sistema funcionar, o sistema que conhecem – e não questioná-lo. Daí vem a riqueza desse tipo de iniciativa da Parsons: pensar fora dos hábitos. Curitiba poderia fazer isto? Claro. Crie-se um prêmio Curitiba de inovação urbana, selecione um tema por ano, faça um júri que envolva especialistas em cidades mas também artistas e filósofos, cientistas e feirantes, e solte na praça. Pode ser que nenhuma ideia seja factível. Mas arejaria a forma como vemos nossa cidade.”

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