Varejistas alegam que estão sendo onerados no gerenciamento dos vasilhames, já que as indústrias não aceitam o retorno dos garrafões| Foto: Fábio Dias

O que diz o Procon

O diretor do Procon em Maringá, Dorival Dias, avisa que já começou a fiscalizar as distribuidoras. Ele orienta os consumidores para que atentem aos prazos de validade tanto da água quanto do vasilhame. Destaca que, se alguma empresa estiver usando galões vencidos, será multada. Como o comprador já pagou uma vez pelo recipiente – que tem preço médio de R$20 – ele não tem obrigação de arcar com esse custo pela segunda vez. Deve recusar se o galão entregue em casa estiver vencido, pois depois terá dificuldade em provar o abuso por parte da empresa. "Os consumidores devem denunciar as irregularidades. Depois o Procon verifica se foi acidental ou se a empresa está burlando a lei", disse.

CARREGANDO :)

Maringá - Sem saber quem são os responsáveis pela destinação dos galões de água mineral com prazo de validade vencido, os distribuidores estão estocando um problema em seus estabelecimentos. Há seis meses em vigor, uma portaria do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministério de Minas e Energia, determina que garrafões retornáveis de 10 e 20 litros com mais de três anos de fabricação sejam recolhidos e inutilizados.

Os varejistas alegam que estão sendo onerados sozinhos no gerenciamento dos vasilhames, já que as indústrias não aceitam o retorno dos garrafões. Além disso, os catadores de recicláveis se interessam pouco pelo produto e o resultado são pilhas de embalagens plásticas, muitas vezes armazenadas precariamente.

Publicidade

Não há dados sobre a quantia de galões vencidos, mas estimativas do setor apontavam que, em 1.º de setembro, quando a portaria entrou em vigor, cerca de um milhão de embalagens vencidas estavam em circulação no Paraná. Depois disso, o passivo ainda aumentou, já que a partir de janeiro deste ano, os fabricados em 2006 também perderam a validade.

Aparentemente, todo esse montante continua na posse dos distribuidores. "Eu guardo aqui (mostrou o local), mas tem outros comerciantes que deixam espalhados no quintal", disse o empresário Adriano Luis Santos, dono de uma revenda de água mineral em Maringá. Dentro do estabelecimento, parte do espaço está tomado por uma pilha de quase 400 galões vencidos. "A mineradora não pega de volta e os catadores não têm interesse. Os galões são leves e só fazem volume", reclamou.

De fato, é baixa a quantidade de embalagens que são destinadas para a reciclagem. "Chegam uns dez por semana. Tem gente que tem guardado em casa e dá para os catadores", disse Neide Pereira Sales, presidente da Cooperativa Canção de Reciclagem. Ela explica que o número é pequeno, e que a expectativa era de que fosse maior. Cada galão é comprado por R$ 0,50 dos catadores. O gerente de coleta da secretaria de serviços públicos de Maringá, Claudio Parizotto, confirma que esse material quase não é descartado. "Achamos que isso (portaria da DNPM) ia fazer com que muitos galões ficassem espalhados, mas isso não aconteceu", disse. Ele ainda afirma que as embalagens não estão sendo jogadas irregularmente em terrenos baldios e fundos de vale, em Maringá. Segundo o gerente, a prefeitura fiscaliza áreas onde o acúmulo de lixo é frequente, mas que não encontram galões.

Contudo, ele desconhece que os catadores não se interessem pelo produto, que tem o mesmo valor que garrafas pet, por exemplo. Segundo Parizotto, os varejistas de Maringá que tiverem interesse devem entrar em contato com a prefeitura e pedir que os galões sejam retirados e levados para as cooperativas, sem nenhum custo. O telefone de contato é 44 - 3261 5511. Já a Vigilância Sanitária explicou que os agentes da dengue fazem vistorias regulares nos domicílios e comércio e até hoje não foram encontrados recipientes do gênero acomodados a céu aberto. Quem souber de algum caso, deve ligar para a vigilância e comunicar a ocorrência.

Sustentabilidade

Publicidade

Não existe uma regulamentação específica sobre a destinação das embalagens retornáveis de água mineral, por isso as empresas – indústria e distribuidores – são orientados a seguir as normas de gerenciamento de resíduos sólidos estabelecidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), explicou Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Industria de Águas Minerais (Abinam). "É uma responsabilidade solidária entre indústria e varejo", disse ele. "Mas tem gente que não quer pagar sua parte".

Caso a distribuidora tenha problemas para destinar as embalagens, eles devem buscar a indústria que envaza e fornece o produto e pedir orientação sobre o manejo dos galões. Segundo Lancia, a fiscalização do consumidor tem sido fundamental nesse sentido, pois o cliente não está mais disposto a comprar um produto associado a problemas ambientais. "Se a empresa não cuidar disso (gerenciamento de resíduos), o consumidor muda de marca. É preciso ter atenção a sustentabilidade, principalmente no mercado de água mineral", destacou.

Os números de vendas de água mineral nos últimos anos mostram que o problema tende a ser crescente. Em 2005, foram comercializados 5,6 bilhões de litros no Brasil. Esse volume saltou para 7,8 bilhões de litros em 2009, sendo que 57% chegaram ao consumidor em garrafões retornáveis, de 10 e de 20 litros. Já o DNPM explicou em nota que fiscaliza rotineiramente as mineradoras, mas que não tem uma estatística de irregularidades consolidada.