Pablo Henrique Alves, 12 anos, tem paralisia cerebral, não fala e só movimenta os olhos e alguns membros do corpo, como o dedo indicador. As agruras, no entanto, não afetaram sua intelectualidade. Com a ajuda de sua professora e a Tecnologia Assistiva (TA) serviço, produto ou método que proporciona ou amplia a habilidade de pessoas com deficiência ele escreveu uma "biografia digital" de seu cantor preferido: o sertanejo Luan Santana.
Para ajudá-lo na confecção do material, a professora de atendimento educacional especializado Maira Cristina Farias, que dá aulas para ele, utilizou um software de comunicação alternativa chamado boardmaker. Nele, há um banco de símbolos e figuras que podem ser facilmente identificados. "Quando queria colocar algo na biografia, o Pablo escolhia alguma das figuras. Esse tipo de tecnologia se destina a pessoas que, como ele, têm dificuldade de fala e de escrita."
Como não consegue ir à escola, as professoras vão até a casa dele. Além de Maira, responsável pelo atendimento especializado, ele também é atendido por uma professora do ensino regular. "Os conteúdos são relacionados e ajudam no desenvolvimento dele", diz a psicóloga Christianne Oliveira, da Gerência de Educação Especial de Pinhais, onde ele mora.
No país, de acordo com o último Censo, há 45,6 milhões de pessoas com deficiência. Só nas séries iniciais, caso de Pablo, que está no terceiro ano do fundamental, há 648 mil matriculados em classes comuns (do ensino regular) e 30.453 mil em classes especiais, conforme levantamento do Observatório do Plano Nacional de Educação, baseado em dados do Ministério da Educação.
Investimento
Neste ano, o governo federal liberou R$ 140 milhões para o financiamento de projetos de tecnologia assistiva, tanto para a educação quanto para outros segmentos. No Catálogo Nacional de Produtos de Tecnologia Assistiva (portal que reúne projetos de TA desenvolvidos no Brasil) há 1,4 mil produtos para pessoas com deficiência auditiva, múltipla, visual e física.
"A tecnologia é uma importante ferramenta para eles. Algumas escolas inclusive mudam o mobiliário para atender as necessidades dos alunos", relata Alejandra Meraz Velasco, coordenadora geral do Movimento Todos pela Educação.
Música que faz sorrir
Em 2005, a dona de casa Neusa Alves viu sua vida mudar. Seu filho, Pablo, então com 2 anos e 11 meses, teve paralisia cerebral após ter contraído meningite. Ele ficou um ano e 7 meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Tive que deixar meu trabalho e viver para ele", diz Neusa. Ela tem mais duas filhas.
Ao sair do hospital, Pablo voltou para casa cabisbaixo. Na cama, ligado a diversos aparelhos, vivia com a cara fechada. Até que um dia sua irmã mais velha resolveu colocar um DVD do cantor Luan Santana para ele ouvir. "Ele se transformou totalmente. A música virou sua paixão", diz Neusa.
Às vezes, ele assiste ao mesmo clipe por horas. "Se você tenta tirar, ele chora", brinca Neusa. E foi por causa dessa paixão que Maira resolveu escrever junto com ele a biografia do cantor sertanejo. Na sexta-feira, dia em que o cantor fará uma apresentação em Curitiba, Christianne pretende entregar o trabalho de Pablo e Maira para o cantor. Vamos torcer.