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Laboratório: apenas superbactérias KPC expostas a ozônio tornaram-se inativas | Marlene Bergamo/Folhapress
Laboratório: apenas superbactérias KPC expostas a ozônio tornaram-se inativas| Foto: Marlene Bergamo/Folhapress

Lacen

Exame rápido já está disponível

O Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen) implantou, há duas semanas, um teste rápido para confirmação da presença da superbatéria resistente KPC (klebsiella, produtora de carbapenemase). O resultado do exame "Easy Q KPC", da empresa francesa bioMérieux, fica pronto em aproximadamente duas horas e analisa até 95 amostras de bactéria – o teste anterior levava quase o dobro do tempo para dar o resultado, com análise de apenas 10 colônias.

De acordo com o diretor-geral do Lacen Paraná, Marcelo Pilonetto, a confirmação mais rápida ajuda nas medidas de barreira dos hospitais. "Quanto antes o hospital sabe que o paciente tem a KPC, mais rápido ele pode isolar e evitar a disseminação para outras pessoas internadas."

Utilizando tecnologia de biologia molecular, o teste confirma se a bactéria resistente é produtora da enzima carbapenemase. "Para dizer que a bactéria é KPC, é preciso identificar a enzima. Podem ter outros mecanismos que levam à resistência", explica a gerente de produto da bioMérieux, Catherine Azzariti. O sistema colhe a amostra da colônia bacteriana, prepara os reagentes, aquece e coloca em um sistema automatizado para detecção.

Segundo Pilonetto, o Paraná é o primeiro estado do país a ter o teste. "Já usávamos um método caseiro, desenvolvido aqui, mas demorava mais". De acordo com o diretor, o custo do teste é acessível (R$ 30 a R$ 40 por amostra) – testes de influenza realizados pelo Lacen no surto da Gripe H1N1 custavam R$ 100. (IR)

Controle faz cair venda

Heliberton Cesca

Em vigor desde 28 de novembro, a venda de antibióticos mediante a apresentação da receita médica em duas vias foi a primeira medida adotada para tentar conter o avanço da KPC. E a determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não demorou a surtir efeito. A venda desse tipo de medicamento caiu 40%, de acordo com estimativa do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Paraná. O consumo abusivo de antibióticos é uma das causas do desenvolvimento da superbactéria.

Com sintomas de infecção urinária, a dona de casa Mafalda Ake de Brito, de 52 anos, confessa que só não comprou um antibiótico direto na farmácia porque sabia da exigência da receita. O primeiro medicamento receitado pelo médico não fez efeito e ela precisou voltar ao Centro Municipal de Urgências Médicas da Fazendinha, em Curitiba, para uma nova consulta. "Estou aqui há três horas com dor. Se pudesse ir na farmácia direto, já tinha resolvido o problema."

Não é bem assim. A médica infectologista Maria Esther Graf lembra que o consumo sem necessidade de antibióticos favorece a resistência bacteriana ao medicamento. "A grande maioria das infecções é viral e não precisa de antibióticos", afirma. Ela defende a atitude da dona de casa Marlene Benedita dos Santos, que levou ao médico o filho de 14 anos para tratar uma dor de garganta acompanhada de febre. "Nunca vou na farmácia sem receita", diz. Para a infectologista Mônica Gomes, a medida da Anvisa favorece o uso correto dos medicamentos. "O antibiótico está sendo usado por quem realmente precisa."

Um estudo concluído pelo Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo conseguiu inativar a chamada superbactéria KPC (klebsiella, produtora de carbapenemase) utilizando gás ozônio. Hospitais de todo o país enfrentaram um surto da bactéria neste ano. A unidade da federação mais afetada foi o Distrito Federal, com 25 mortes. A técnica, testada apenas em laboratório, por enquanto, consegue destruir a camada de gordura e inativar a bactéria. A KPC é chamada de multirresistente porque não responde a antibióticos da classe dos carbapenêmicos (que são a maioria dos medicamentos disponíveis). Segundo o coordenador do estudo, Glacus de Souza Brito, da Divisão de Imunologia Clínica e Alergia do HC, os testes em humanos devem começar em 60 dias.

Dez bactérias foram analisadas e divididas em três grupos. O primeiro teve exposição ao ozônio por cinco minutos. O segundo, ao oxigênio e o terceiro não recebeu nenhum tratamento. Depois de um dia, as bactérias se multiplicaram nos últimos dois vidros, e as do primeiro morreram. A eficácia do ozônio, segundo Brito, se dá por causa da oxidação do gás. "O ozônio é uma das substâncias mais oxidantes que existe. Por isso, na hora que encontra a bactéria, é possível destruir rapidamente, em poucos minutos".

O ozônio tem um nível de oxidação três vezes maior do que o cloro, por exemplo. O pesquisador afirma que, além da KPC, outras bactérias resistentes podem ser combatidas com a mesma técnica. O ozônio, lembra ele, já é amplamente usado para tratamento de infecções em países da Europa. "Para curar uma ferida infeccionada com a bactéria, por exemplo, é possível envolver o local com um saco plástico e fazer vaporização com o gás", diz Brito.

Em humanos, o ozônio pode ser aplicado em pacientes com infiltração no local onde a bactéria está presente, ou com injeções, em casos de infecção interna. O ozônio, ressalta o pesquisador, é uma boa alternativa para os sistemas de saúde, pois é barato e pode diminuir os custos de internação e de compra de antibióticos. Na próxima etapa, o estudo vai investigar se a vaporização do ozônio no ambiente hospitalar é eficaz para eliminação de bactérias.

Casos

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil tinha 330 casos de KPC no final de novembro. Porém, como a notificação pelas secretárias de Saúde não é obrigatória, o número está desatualizado. Só o último boletim da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, divulgado no dia 10 de dezembro, registra 334 casos acumulados de janeiro à dezembro de 2010, sendo 25 mortes.

São Paulo teve cerca de 70 casos no HC. Segundo a Secretaria de Saúde, porém, os números são antigos e o estado hoje não tem surto. No Espírito Santo, seis casos foram confirmados entre abril e outubro deste ano, sendo três óbitos, sem relação direta de causa com a KPC.

No Paraná, foram 257 casos, segundo o superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), José Lúcio dos Santos. Nos próximos dias, será publicada a Resolução nº674/2010, que estabelece a obrigatoriedade de notificação pelos hospitais no estado, centraliza as ocorrências na secretaria estadual e organiza as informações. "Assim, poderemos acionar as medidas de contenção mais rapidamente", enfatiza.

Em Curitiba, foram confirmados três casos no Hospital de Clí­nicas da UFPR e quatro no Hospital Evangélico, sendo um óbito. O Hospital Universitário de Londrina (HU) concentra o maior número de pacientes com a KPC. São 400, desde 2009, segundo a coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Cláu­dia Carrilho. Atual­mente, 18 pa­cientes com a KPC continuam internados, em isolamento. "A bactéria já é endêmica e faz parte do ambiente hospitalar. Consegui­mos ter um bom controle, mas alguns casos persistem", afirma Cláudia.

Em abril de 2009 e julho deste ano, o HU suspendeu internações na UTI e restringiu atendimento em quase todo o pronto-socorro, como medida de barreira para infecções. Para Cláudia, a falta de recursos humanos combinada com a superlotação facilita esse tipo de surto. "Temos hoje materiais de higiene e medidas de controle de infecção. Porém, nem sempre há adesão dos funcionários, que reclamam da falta de tempo".

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