O Comandante Militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, admitiu na quarta-feira que traficantes ainda vendem drogas em bocas de fumo "itinerantes" no Morro do Alemão e acrescentou que a comunidade ficará ocupada pelo Exército até junho, quando o complexo ganhará Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
São mais 120 militares de reforço, ocupando por tempo indeterminado os morros do Adeus e da Baiana, vizinhos ao complexo. O efetivo de militares no local foi aumentado para 1.800. Outros 200 homens já estão à disposição e devem ser integrados à Força de Pacificação nos próximos dias.
Ao admitir que traficantes ainda vendem drogas na região, o general afirmou que voltarão a revistar suspeitos de tráfico de drogas na comunidade.
- Vamos voltar a fazer revistas em pessoas que possam estar fazendo algo errado. Naquela semana, havia sido divulgado que o Exército permaneceria no local. As ações dos bandidos foram uma reação à permanência do Exército lá - disse o general, em entrevista no Comando Militar do Leste (CML), acrescentando que o traficante Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, foragido da Vila Cruzeiro, está por trás do ataque.
O general Adriano Pereira Júnior disse ainda que quatro militares envolvidos na confusão de domingo foram afastados. Um inquérito foi aberto para apurar as responsabilidades.
Militares e policiais voltarão a revistar moradores do Alemão
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que também participou da entrevista, disse que não se pode vender ilusões à população em relação à luta contra o tráfico de drogas:
- Eu tenho sido bastante enfático ao dizer que, após 30, 40 anos de abandono de algumas áreas e total domínio do tráfico, ninguém vai resolver isso a curto prazo. Nós abrimos uma janela para que os serviços públicos e a própria sociedade cumpram o seu papel nessas comunidades.
Nove meses após a chegada da Força de Pacificação ao Alemão, o clima de medo e tensão retornou ao maior complexo de favelas do Rio. A lei do silêncio voltou como um fantasma para a população que já vivia dias de paz. Na Rua Joaquim de Queiroz, um dos acessos à Favela da Grota, uma barreira com ralos de ferro arrancados do chão, para evitar a entrada de carros, era um sinal da volta do tráfico à comunidade. Quando carros blindados se posicionaram no principal acesso à Grota, criminosos soltaram fogos para alertar seus cúmplices.
Quatro veículos blindados do tipo Urutu foram usados para patrulhar as entradas dos morros. Todos os veículos e moradores que entravam eram revistados. Cinco artefatos explosivos de fabricação artesanal foram encontrados na Rua Nova. As estações do teleférico se transformaram praticamente em bases do Exército: nesses pontos, militares de binóculos vigiam a movimentação no complexo.
Um morador do Alemão contou que alguns traficantes sequer saíram da comunidade e outros já estão no local há tempos. Segundo ele, o tráfico quer provocar uma reação dos militares, para forçar a saída do Exército:
-É claro que o tráfico quer voltar. Minha sensação foi de frustração. Há morador de bem sendo ameaçado para ser conivente com o tráfico. Tenho medo de voltar aos tempos do terror.
Outro morador disse que traficantes estão montando barricadas em diversos pontos do complexo, para enfrentar os militares. Ele acrescentou que a parte alta da comunidade está cheia de bandidos que nunca saíram da área ou que retornaram nos últimos tempos. Segundo o morador, os criminosos estão por trás das manifestações contra o Exército.
- Os que não foram presos retornaram e estão ameaçando moradores. Eles estão deixando todos acuados e com medo - disse.
Conflito no Alemão recebe destaque no exterior
Os confrontos entre militares do Exército e traficantes no Complexo do Alemão ganharam repercussão no exterior. Pelo menos 17 sites noticiosos citavam ontem os conflitos ocorridos anteontem. Sob o título "Mais tropas entram em favela controlada", a Associated Press ressaltou a decisão de reforçar o contingente de soldados na área, depois que militares ficaram sob ataque de bandidos.
A agência dá destaque ainda às imagens, veiculadas pela TV, de balas traçantes e de moradores correndo. Segundo a reportagem, as forças de pacificação são parte da promessa do país de melhorar a segurança para os Jogos Olímpicos de 2016.
Já a BBC News e o site da al-Jazeera deram destaque para a suposta morte de uma menina de 15 anos durante os confrontos, citando declarações de parentes da adolescente. A informação, contudo, não foi confirmada pela Secretaria de Segurança.
A BBC ressaltou ainda que reforços teriam sido chamados depois de ataques aos militares, que buscam tornar o Rio mais seguro para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
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