A geografia do Rio de Janeiro premia a cidade como uma das mais belas do mundo. No entanto, por estar entre o mar e montanhas, a capital fluminense oferece um desafio constante em relação à mobilidade urbana. Some-se a isso seguidos anos de ausência de planejamento e de prioridade no sistema de transporte, principalmente o coletivo. Um dos resultados desse descaso está em um estudo divulgado neste mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A região metropolitana do Rio possui o menor porcentual no país de trabalhadores que se deslocam diretamente para o trabalho com tempo inferior a 30 minutos: apenas 43,9%.
O doutor em Engenharia de Transporte, Walber Paschoal, afirma que falta transporte público para atender a demanda. "E o pouco que é oferecido, é de má qualidade." Segundo ele, um entrave na questão da mobilidade também passa pela atenção à "convergência radial" do Rio, que direciona a maior parte do fluxo de veículos para um centro comercial.
O secretário municipal de Transportes do Rio, Alexandre Sansão, diz que o porcentual da população que usa transporte público é de 70% entre as viagens motorizadas, ante um índice de 50% verificado em São Paulo. Ele admite que há oferta de ônibus excessiva nos bairros da Zona Sul e escassa em regiões mais distantes, como a Zona Oeste.
Como solução para os principais gargalos de locomoção, Paschoal enumera um planejamento em três pontos. Primeiro, de estratégia, para fazer um diagnóstico da qualidade com que os meios de transporte operam. Depois, uma ação tática: implantar simulações para observar o impacto que intervenções propostas teriam no sistema. Por fim, um planejamento operacional. "Acompanhar os efeitos resultantes das ações de estratégia e tática."
Para os Jogos Olímpicos de 2016, Sansão afirma que o Rio contará com quatro corredores de Trânsito Rápido de Ônibus (BRT). Para Paschoal, o governo passará a dar mais atenção ao sistema de transporte com a Copa de 2014 e a Olimpíada. "Vai melhorar a mobilidade. Mas logo estará tudo congestionado de novo", diz, tendo décadas de ausência de planejamento como respaldo para sua previsão.