Após décadas de luta para asfaltar os 120 quilômetros do trecho paranaense da Estrada da Ribeira (BR-476), a batalha agora é por obras que garantam a segurança de motoristas e pedestres. A pavimentação da rodovia ainda nem foi inaugurada e está ameaçada por 101 pontos com risco de deslizamento de terra. Desses, 45 apresentam perigo iminente. A avaliação é do geólogo Cícero Lachowski, que há anos estuda a região. Junto com a reportagem, ele percorreu todo o trajeto, entre Bocaiúva do Sul e Adrianópolis.

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O adiamento da cerimônia de entrega da obra, que contaria com a presença do presidente Lula, é prova dessa situação. A celebração foi cancelada temporariamente devido a um desmoronamento que fechou por cinco dias o tráfego no quilômetro 23, em Adrianópolis, no mês passado. Outro incidente similar ocorreu na semana seguinte, interditando o trânsito por várias horas.

Além desses dois casos, constantes deslizamentos de encostas destroem a nova pavimentação, terminada há três meses, e põem em risco a vida de motoristas e pedestres. A situação mais crítica é verificada entre as cidades de Tunas do Paraná e Adrianópolis. Em uma extensão de 53 quilômetros, Lachowski diagnosticou 67 locais de risco. "Por sua formação montanhosa, a região apresenta grandes probabilidades de escorregamento e tombamento de blocos, o que coloca em risco todos os que passam pela estrada", alerta o geólogo.

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Segundo ele, o trecho que necessita de atenção mais urgente continua sendo o quilômetro 23. "Eles apenas retiraram o material da pista. Nenhuma obra de contenção está sendo realizada no local, que pode voltar a ceder, provocando graves acidentes", diz Lachowski. O geólogo lembra que a ação das chuvas facilita os deslizamentos. "No entanto, não podemos dizer que a água é o agente causador. Ela é um detonador, mas não o único."

Os motivos que colaboram para a queda do material na pista vão desde o desmatamento e a vibração provocada pelo peso dos caminhões, até a inclinação das estruturas rochosas, voltada para a rodovia. "A própria ação do tempo também ajuda, mesmo por que toda a região apresenta taludes (encostas) instáveis", lembra Lachowski, enfatizando que o grande erro foi cometido com a pavimentação. "Antes de asfaltar a estrada era preciso fazer uma correção em seu corte original."

O coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná, geólogo e professor Renato de Lima, reforça que o projeto antigo da estrada não pôde se valer de formas modernas de planejamento de uma rodovia. "Um novo traçado custa caro, mas pavimentar um traçado antigo exige obras de contenção adequadas, que respeitem a formação rochosa, e um monitoramento constante dos processos geológicos que ali ocorrem", sugere Lima. "Deslizamentos são processos naturais, mas em alguns pontos são favorecidos pelo corte da estrada."