Memória

É a segunda vez só neste ano que o Gaeco se depara com a figura do "bate-pau" envolvido em um esquema de corrupção na região de Curitiba. Em março, 16 pessoas foram presas na Delegacia do Alto Maracanã, em Colombo. Entre elas, pelo menos dois bate-paus.

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Policiais do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) prenderam na quarta-feira (8) um subtenente da PM que trabalhava como gestor da Delegacia de Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba, sob a acusação de desvio de material apreendido. Outras duas pessoas que participavam do suposto esquema como policiais informais - conhecidos como "bate-pau" - também foram detidas. Peças automotivas e armas apreendidas em operações realizadas pela delegacia seriam embolsadas pelos acusados, de acordo com o Ministério Público, órgão ao qual o Gaeco está vinculado.

As investigações começaram há dois meses. Segundo o MP, um dos veículos apreendidos pelo trio, roubado em Cerro Azul,região metropolitana de Curitiba, em 24 de novembro de 2008 e recuperado no dia seguinte, chegou na delegacia funcionando normalmente e hoje apenas sua carcaça está no pátio da unidade policial.

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O nome dos acusados não será divulgado até que a Justiça aceite a denúncia do caso, segundo o promotor Leonir Batisti, responsável pelo Gaeco de Curitiba. Além do subtenente e os dois auxiliares presos na quarta, um mecânico e outro "bate-pau" foram presos no final do mês passado, ambos em situação de flagrante. Foram apreendidas várias armas de fogo e o motor de um veículo apreendido, que estava instalado no carro de um dos suspeitos. O grupo revela a precariedade da segurança na cidade, que tem mais de 20 mil habitantes.

O "bate-pau", figura repudiada em manifestações oficiais da Secretaria de Estadual Segurança Pública (Sesp), surgiu da falta de policiais. Com baixo efetivo, os delegados desviavam parte dos recursos da delegacia para manter essa figura, que geralmente é um amigo dos funcionários legais da delegacia. Outra forma usada pelo "bate-pau" para se sustentar é por meio de propinas junto a população, que passa a ter nele um referência de segurança, e com desvio de apreensões - que é a suspeita do MP nesse caso.

Outro elemento fora do que está previsto na Lei é um policial militar responsável por uma delegacia - função que cabe ao delegado. Para Batisti, o subtenente servia para resolver os pequenos conflitos da população. Casos mais complexos eram encaminhados para a delegacia de Campo Largo, que tem um delegado, para a instauração de um inquérito.

O suposto esquema descoberto em Campo Magro "pode acontecer em 'N' lugares", segundo Leonir Batisti. "Se estivesse investigando casos similares, não os divulgaria", despistou Batisti.

Explicações

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A Secretaria da Segurança Pública do Estado do Paraná (Sesp-PR) divulgou, no fim da tarde desta quinta-feira (9), uma nota oficial explicando a prisão das três pessoas na delegacia de Campo Magro, e diz que o subtenente da PM não era o gestor do local. Segundo a Sesp, desde o dia 5 de maio o delegado Artem Dach comandava a delegacia. Antes dessa data a delegada Gisele Durigan respondia pelo local.

O oficial da PM estaria atuando apenas no atendimento ao público e no apoio à Polícia Civil. A Sesp nega que o homem estaria desempenhando funções exclusivas de policiais civis, como instauração de inquéritos ou operações. Os outros dois funcionários presos na operação do Gaeco não têm vínculo com a Sesp, segundo a nota oficial. Eles eram cedidos pela prefeitura para realizar serviços administrativos.

A secretaria finaliza o texto afirmando ser "radicalmente contra a corrupção policial e em todo o tempo de investigação do Gaeco esteve ciente e colaborando em tudo o que foi necessário." De 2003 a 2008, a Sesp excluiu 137 policiais civis e 249 policiais militares que transgrediram normais disciplinares.