No último domingo, o diretor de recursos humanos Alexandro Ferreira Laurino recebeu um telefonema a cobrar em sua casa. Do outro lado da linha, um homem que se dizia funcionário da Brasil Telecom informou que Laurino havia sido sorteado em uma promoção e ganharia quatro aparelhos celulares, um televisor e um jogo de cozinha no valor de R$ 18 mil. "Eu deveria retornar a ligação. Um ponto que despertou a minha atenção foi a ligação ser a cobrar", afirma o diretor.
Para receber o prêmio, Laurino teria 40 minutos para adquirir cinco produtos Nestlé e cartões de recarga para celulares pré-pagos com R$ 200 de crédito da Brasil Telecom ou da Tim. Os códigos dos cartões deveriam ser repassados ao golpista. "Nada vem de graça. Quando se oferecem muitos prêmios é preciso ter cuidado. Sempre é preciso confirmar a informação diretamente com a empresa que promove a promoção", diz a delegada Vanessa Alice, da Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas. Foi o que Laurino fez: ao suspeitar de uma armação, enquanto falava com o golpista, sua esposa entrou em contato com o serviço de atendimento ao cliente das empresas envolvidas.
Ao confirmar que estava sendo vítima de um golpe, Laurino entrou em contato com a Polícia Militar por meio do serviço 190, mas o atendente informou que a queixa deveria ser registrada em um Distrito Policial. Sem êxito na denúncia, o diretor informou ao golpista que tinha conhecimento do esquema e pediu que não voltasse a ligar. "Recebi mais três ligações do mesmo número e recebi ameaças", conta. Mais tarde, Laurino tentou novo contato com os golpistas, mas o telefone estava desligado. De acordo com a delegada Vanessa, a ocorrência deve ser encaminhada para a delegacia especializada.
O prefixo do número utilizado no golpe (085) era de Fortaleza, Ceará. A delegada confirma que a maioria do números usados neste tipo de golpe são do Nordeste e Norte do país, além de Minas Gerais e Rio de Janeiro. "Todos os telefones utilizados nesse tipo de ação não são do Paraná, mas isso não indica que o criminoso está longe", afirma a delegada. Isso dificulta e atrasa a operação da polícia, que precisa de autorizações jucidiais para ter acesso aos dados cadastrais dos usuários das operadoras. "Até conseguirmos isso, o número já está indisponível", conta Vanessa.
Outro golpes
Segundo a delegada, esse tipo de golpe ganhou força no segundo semestre de 2003, quando usuários de celulares pré-pagos tiveram que preencher cadastro com as operadoras de telefonia móvel. No entanto, os golpistas não se detêm apenas em conseguir créditos de celulares. Buscam levantar informações (idade, nome completo, número de identidade, CPF) e depósitos em contas bancárias de várias quantias de dinheiro. "Não se passa informação nenhuma por telefone", alerta Vanessa.
Com informações obtidas em ligações, os golpistas passam a executar outras ações. Abrem contas em bancos, solicitam cartões de crédito, compram celulares com cadastro falso, ou até simulam seqüestros e acidentes de trânsito. Eles ligam para duas pessoas de uma família e dizem para uma delas que a outra foi seqüestrada e só será libertada mediante um depósito em uma conta bancária. Assim, o telefone da suposta vítima está ocupado caso tentem algum contato com ela. Sob pressão, a ordem do golpista é atendida.
Várias denúncias contra esse tipo de crime são investigadas em Curitiba, entretanto, a principal dificuldade dos policiais é encontrar provas que incriminem os bandidos. A delegada solicita que as vítimas anotem corretamente o número do telefone e da conta bancária utilizados no golpe para ajudar nas investigações. "São vários grupos pequenos e isolados, com pessoas com funções específicas", conta a delegada. "É um conjunto de pessoas, cometendo um conjunto de crimes (como falsidade ideológica, estelionato e receptação) e fazendo um conjunto de vítimas", acrescenta.
Serviço: denúncias contra golpes como os apresentados na reportagem podem ser registradas na Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas pelo número (41) 3362-4737.
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