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O Google incluiu na categoria de propagandas políticas os anúncios da produtora Brasil Paralelo publicados em seu serviço de publicidade, o Google Ads. Até mesmo propagandas de conteúdos infantis – como desenhos animados da plataforma BP Select Kids – e educacionais – como um curso de gramática – receberam essa classificação.
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Na semana passada, a empresa norte-americana divulgou a primeira edição brasileira de seu relatório de transparência de campanhas políticas, e a Brasil Paralelo figurou como principal anunciante político do país no período de novembro do ano passado até junho deste ano, com mais de R$ 300 mil investidos no Google Ads. A presença da empresa de mídia na liderança da lista ganhou destaque depreciativo em diversos veículos de comunicação e até mesmo no site oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que publicou um artigo definindo a Brasil Paralelo como “uma produtora de conteúdo com interesse direto em interferir na política nacional com suas distorções e mentiras”. Na realidade, desde 2016, a empresa de mídia lança documentários desafiando visões de mundo hegemônicas entre intelectuais brasileiros.
Uma observação minuciosa do relatório deixa evidente que a Brasil Paralelo é um peixe fora d’água entre as empresas e pessoas físicas que foram classificadas pelo Google como anunciantes políticos. A lista é composta principalmente por partidos políticos – como PSDB (R$ 215 mil em gastos com publicidade), PSB (R$ 175 mil), União Brasil (R$ 131 mil), Progressistas (R$ 31 mil) e MDB (R$ 26 mil) –, empresas de gestão eleitoral, plataformas de pesquisa política ou pessoas físicas diretamente vinculadas à política, como candidatos ou pré-candidatos às eleições.
Ainda que alguns filmes e séries da Brasil Paralelo tratem diretamente de política, plataformas como Globoplay, Netflix e Amazon Prime Video, que também anunciam no Google Ads e eventualmente abordam temas políticos, não foram incluídas no relatório.
O anúncio do episódio do programa “Investigação Paralela” que trata do caso Celso Daniel, por exemplo, teve seus dados expostos pelo Google Ads, enquanto a Globoplay, que conta com o documentário “O Caso Celso Daniel” em seu catálogo, não foi listada pelo Google.
Iniciativas que também anunciam no Google Ads e têm um grau de engajamento político maior que o da Brasil Paralelo não foram incluídas na lista de transparência do Google. A organização feminista AzMina, por exemplo, não foi mencionada no relatório, mas anuncia no Google Ads e busca participar diretamente da política brasileira promovendo candidaturas feministas. Também não está na lista o coletivo Nossas, responsável por iniciativas como a “Amazônia de Pé”, que está anunciada no Google Ads e tem um objetivo manifestamente político: fazer lobby pela aprovação do Projeto de Lei Amazônia de Pé.
Nos últimos dias, depois de conversas com a Brasil Paralelo, a gigante de tecnologia começou a remover alguns conteúdos, como os infantis, da categoria de anúncios políticos. Outras propagandas estão sendo excluídas da lista aos poucos, mas os representantes da produtora reclamam da lentidão com que isso está sendo feito e querem, na verdade, que todos os seus anúncios sejam removidos da lista.
Para a Brasil Paralelo, a repercussão pública do relatório já trouxe danos à sua imagem, e por isso uma ação judicial contra o Google não está descartada. “A atuação do Google neste caso traz enorme prejuízo reputacional, o que pode gerar reparação civil dos danos causados, além das demais medidas cabíveis na esfera jurídica competente”, diz a empresa. “A Brasil Paralelo não é anunciante de propaganda política, mas uma plataforma de streaming de filmes e documentários. A aparente tentativa de rotular a imagem da BP com atividade política é incorreta e lesiva.”
Consultado pela reportagem da Gazeta do Povo sobre o caso, o Google enviou a seguinte nota:
"Nosso Relatório de Transparência de Anúncios Políticos foi criado com o objetivo de oferecer aos nossos usuários um nível sem precedentes de informações a respeito da publicidade política em nossas plataformas. O Relatório é atualizado constantemente e todos os anunciantes estão sujeitos a revisão de acordo com nossas políticas de publicidade. Aplicamos nossas políticas de maneira consistente, independente de visão política, e temos processos de contestação para endereçar situações em que os anunciantes não concordam com a classificação dos anúncios."
TSE e Google firmaram parceria por eleições no Brasil
O caso da Brasil Paralelo ganha ainda maior relevância porque, em fevereiro deste ano, o Google e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) firmaram um memorando estabelecendo uma parceria para “o combate à disseminação de desinformação no processo eleitoral de 2022”, como afirma o documento. A suspeita de viés ideológico no relatório do Google Ads poderia comprometer a legitimidade do Google como ator parceiro do TSE no processo eleitoral brasileiro.
O relatório de transparência dos anúncios políticos do Google Ads é mencionado no memorando como um dos elementos da parceria, por dar “visibilidade sobre quem contratou esses anúncios, quanto pagou, para quem foram destinados, e quais foram os parâmetros usados na segmentação dessa publicidade”. O foco desse relatório, segundo o memorando, diz respeito aos “anúncios relacionados a titulares e candidatos a cargos eletivos na esfera federal”, classificação em que os conteúdos da Brasil Paralelo não se encaixam.
O próprio Google define a publicidade eleitoral como “toda aquela que menciona partidos políticos, candidatos para cargos de nível federal ou atuais titulares desses cargos”. “Não consideramos anúncios eleitorais aqueles que divulgam produtos ou serviços, incluindo material político promocional (como camisetas) e anúncios exibidos por sites de notícias para promover a cobertura de partidos políticos, candidatos ou governantes eleitos”, garante o Google em uma postagem que esclarece dúvidas sobre seu relatório de transparência de publicidade política.
O memorando assinado com o TSE prevê uma participação do Google em diversas iniciativas nas eleições brasileiras, o que torna ainda mais grave a suspeita de parcialidade ideológica. O Google se comprometeu, por exemplo, a promover treinamentos das equipes do TSE, dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), de partidos políticos e de organizações de checagem de fatos na gestão de canais no YouTube e de informações sobre o funcionamento do YouTube e do Google Ads.
Além disso, o TSE pediu ajuda do Google para usar suas plataformas para esclarecer eleitores brasileiros sobre desinformação eleitoral. O Google manterá ainda um canal de denúncias sobre conteúdo suspeito durante as eleições.