O gosto por determinado tipo de leitura varia de um bairro para o outro de Curitiba. É o que revelam duas bibliotecárias que atuam em 14 dos 45 Faróis do Saber da cidade. Conversando com a comunidade, as funcionárias identificaram, por exemplo, que o romance "O Mundo de Sofia", de Jostein Gaarder – uma espécie de introdução à filosofia para jovens – está entre os livros mais procurados na Vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial de Curitiba. Ou então que a poesia e a literatura brasileira figuram entre os gêneros preferidos dos jovens que vivem no bairro Novo Mundo. E que os títulos esotéricos interessam à população dos bairros Uberaba, Caiuá, Pinheirinho e Cajuru.

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Essas diferenças entre gostos literários foram identificadas a partir de conversas com freqüentadores dos Faróis do Saber – nada mais que bibliotecas públicas municipais. E haja conversa. De janeiro a junho de 2005 foram realizados nos Faróis do Saber de Curitiba 263.048 empréstimos. As servidoras não chegaram a fazer um levantamento estatístico sobre o assunto, mas o mapa de classificação dos gostos literários está na ponta da língua de cada uma delas. A classificação também foi possível a partir da observação das anotações feitas pelas atendentes dos Faróis do Saber, que servem de base para a compra do acervo.

Esforço

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A bibliotecária Maria Eliane Martins, 45 anos, que trabalha em sete unidades localizadas na região sul de Curitiba, procura não deixar faltar livros de matemática e português no Farol Dona Pompília, no Tatuquara. "Lá tem muitas pessoas que não concluíram a escolaridade e procuro levar muitas apostilas e livros que auxiliam na alfabetização", explica. Já a grande procura por livros de filosofia no Farol Frei Miguel, na Vila Nossa Senhora da Luz, pode ser justificada, na opinião de Maria, pela proximidade com uma faculdade.

Mas vontade de incentivar o gosto pela leitura faz com que Maria Eliane vá além da simples identificação das preferências de cada comunidade. Ela faz uma espécie de revezamento dos livros entre os faróis onde atua, para não deixar faltar certos tipos de livros. De ônibus e com uma mala com rodinhas, a bibliotecária chega a visitar até três unidades por dia para que os leitores recebam mais rápido os títulos que estão aguardando. "Muitas vezes as pesquisas que os alunos têm de fazer são de um dia para o outro e não dá para esperar. Assim, o que estava parado numa prateleira pode servir para outra pessoa", diz a bibliotecária.

Características

Tânia Maria Severino, que atua em 8 faróis nos bairros Cajuru, Uberaba e Santa Felicidade, diz que conhecer as características de cada comunidade é fundamental para identificar as suas preferências. A presença de um curso de enfermagem próximo ao Farol do Saber Emiliano Perneta, no Cajuru, fez com que a procura por títulos na área de saúde aumentasse. "Parece que cada comunidade apresenta a sua necessidade."

Para Tânia, o contato direto com as pessoas permite conhecer aquilo que o público quer ler. "A gente sempre percorre os faróis e acaba fazendo amizade com estas pessoas", conta Tânia. Ela lembra que, ao sentir a falta de um usuário assíduo no Farol do Saber Herbert de Souza, no Uberaba, descobriu que o leitor estava com câncer. "A gente chegou a se oferecer para levar os livros na casa dele porque ele gostava muito de ler", relembra.

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