Sons, cheiros, cores, texturas. Tudo o que um livro precisa ter para encantar quem ainda não domina a junção das sílabas está presente na Bebeteca Papai Quinha, em Mandaguari, na Região Norte do Paraná. O projeto criado em 2010 pela Comunidade Social Cristã Beneficente (CSCB), entidade filantrópica idealizada há quase três décadas pelo médico Osvaldo Alves, estimula cerca de 200 crianças carentes entre zero e cinco anos a embarcarem no universo mágico da literatura.
São oito creches atendidas. A cada dia uma instituição envia, em ônibus cedido pela prefeitura, um grupo de 40 crianças para o cantinho criado em uma casa comprada com recursos da própria CSCB, no Jardim Independência. No chão, coberto por tatames, cerca de 500 obras literárias fazem os pequenos viajarem. A ideia de montar o espaço partiu de Tânia Gomes, presidente da comunidade e pós-doutoranda em História Social pela Universidade Federal do Paraná.
Após anos trabalhando com crianças e adolescentes, a profissional diz ter entendido que, por falta de estímulo nos primeiros anos de vida, a maioria dos adolescentes pouco se importa com a leitura. Foi aí que, segundo ela, surgiu a ideia de implantar por aqui um projeto já realizado em alguns estados brasileiros. Após doações de outras bibliotecas e compras feitas com dinheiro da entidade, o local ganhou vida.
No princípio, conta Tânia, a maioria dos livros terminava o dia em frangalhos. Os pequeninos mordiam, rasgavam, jogavam as páginas já soltas de lá para cá. Mas não demorou para que a percepção deles falasse mais alto. "De vez em quando disponibilizamos DVDs infantis, músicas, pintura, contação de histórias, mas não desviamos o foco: nossa prioridade é o livro e tem dado certo."
Como resultado, as crianças se tornam mais ativas, criativas e com maior facilidade de comunicação, segundo a psicopedagoga clínica e institucional Gisley Saris Hernandes, que trabalha na entidade. Para exemplificar, ela cita uma ex-aluna que até os 3 anos não falava. Após o trabalho na bebeteca, em menos de três meses a menina já elencava um vocabulário condizente com a idade.
"Introduzindo a leitura no universo infantil, a criança se abre para o mundo e irá crescer sentindo necessidade de ter sempre um livro por perto para se comunicar. Isso se estenderá pela vida adulta", salienta a psicopedagoga.
Iniciativa também encanta as mães
A dona de casa Daiane Francieli Amaral ouviu falar sobre a bebeteca e foi conferir. No colo levou o filho João Vitor, de 8 meses. No carrinho, o sobrinho Miguel Henrique. Os olhos arregalados das crianças admirando a sala colorida entregou o fascínio. Não demorou muito para o mais velho se debruçar no chão e puxar o livro mais próximo. "Foi um deslumbre para eles e para mim. Outras mães já me falaram e achei a ideia muito boa", considera Daiane.
A psicóloga Roberta Sincero Benedetti avalia o modelo educacional como um estímulo cognitivo a mais no crescimento da garotada. "É impossível que não haja modificação no desenvolvimento [das crianças]. Elas aprendem desde cedo que ler é um barato", brinca.
Mas os benefícios não terminam aí, diz Roberta. O senso de organização e divisão também é assimilado. "Com o tempo, as crianças passam a entender o momento de sentar e pegar os livros, a hora de guardá-los, o momento de ficar em silêncio", comenta. "E até ao emprestar o livro para o coleguinha, eles aprendem a dividir, e isso se aplica na vida."
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