O governo do Paraná e os educadores da rede estadual de ensino – em greve desde o dia 9 de fevereiro – endureceram, ontem, seus respectivos posicionamentos diante da paralisação. O Palácio Iguaçu entrou com uma ação junto ao Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) pedindo que a greve seja declarada ilegal. Os líderes do movimento grevista, por sua vez, publicaram uma nota exigindo a retomada das negociações e orientando a categoria de que a paralisação continue.
“Agora não tem mais conversa”, diz Sciarra
O secretário-chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD), confirmou ontem que o governo do estado encerrou definitivamente as negociações com os professores e servidores da rede estadual de ensino. Para ele, o sindicato da categoria foi intransigente ao não querer pôr fim à greve, mesmo após as partes terem chegado a um suposto acordo na última quarta-feira.
“A retomada das negociações está totalmente descartada. Não vamos nem mais responder [ao sindicato]. Agora não tem mais conversa”, afirmou Sciarra. “Não vamos recuar daquilo que nos comprometemos, mas também não vamos avançar mais”, ratificou.
Horas antes, o comando de greve havia publicado uma nota em que exigia que o governo retomasse as negociações. Segundo o comunicado, “as propostas apresentadas são insuficientes para reverter o caos instalado no ‘pior início do ano letivo’ de nossa história”. A APP-Sindicato ressalta que as reivindicações da categoria não foram integralmente acatadas, principalmente as que dizem respeito a aspectos financeiros. (FA)
O objetivo do governo é conseguir uma liminar, ainda neste fim de semana, para forçar o início das aulas já na próxima segunda-feira (2). Segundo o secretário-chefe da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD), a via judicial foi adotada porque a governo considera que atendeu a todas as reivindicações apresentadas pelos educadores e que, portanto, não haveria razões para a manutenção da greve. “Não tem motivo para a paralisação continuar. Nós avançamos além da pauta inicial. A greve extrapolou a questão reivindicatória. Agora, o que temos, de fato, é um movimento puramente político”, disse.
Oficialmente, o Palácio Iguaçu não revela os argumentos da ação judicial. Extraoficialmente, no entanto, a Gazeta do Povo apurou que a Procuradoria-Geral do Estado alega que os pedidos iniciais dos professores e funcionários foram atendidos – com compromissos firmados oficialmente pelo governo – e que a greve prejudica os 970 mil alunos que há três semanas estão sem aulas. Até o fechamento desta edição, o Judiciário não havia decidido nada sobre o pedido.
Nossa avaliação é de que tem como rever posições econômicas do estado e administrar os recursos de uma outra forma
Paralelamente, o governo do estado correu para preparar as escolas para o início do ano letivo. Ao longo da semana, professores temporários – contratados via Processo Seletivo Simplificado (PSS) –foram chamados aos núcleos regionais de ensino, para deixarem a documentação em dia. Ficaram de sobreaviso.
“Fizemos uma videoconferência com os chefes de núcleo. Todos estão aptos para entrar em aula já na segunda-feira. Evidentemente que não teremos adesão de 100%, porque os grevistas estão espalhando que não vai ter aula. Mas temos plenas condições”, garantiu Sciarra.
Outro lado
A APP-Sindicato, que representa os educadores estaduais, soube, pela reportagem, do ajuizamento da ação que pede a ilegalidade da greve. A informação foi mal recebida pelos sindicalistas. “A gente avalia que optar pelo caminho de judicializar é algo para acirrar o descontentamento e a desconfiança da categoria para com o governo. Entrar com ação é jogar um galão de gasolina sobre um incêndio”, disse o presidente da entidade, professor Hermes Silva Leão.
Ilegal
Nesta semana, o governo do Distrito Federal conseguiu, em uma ação semelhante, que a greve dos professores fosse considerada ilegal pela Justiça. Ao responder a ação movida pelo governo, o Tribunal de Justiça local decidiu pela interrupção da paralisação, determinando o retorno imediato das aulas.
Antes disso, o comando de greve havia publicado uma nota destacando a necessidade de a categoria continuar com a paralisação. Uma assembleia está marcada para quarta-feira (4), quando os professores devem votar se optam pela continuidade ou pelo fim da greve .
Quatro universidades decidem manter paralisação
- Antonio Senkovski
Técnicos e professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da Universidade Estadual de Maringá aprovaram, ontem, a manutenção da greve das categorias. Ocorreram ainda assembleias na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro) e na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Nestas duas últimas, há quatro sindicatos. Uma entidade sindical de cada instituição aprovou ontem a continuidade da greve, mas ainda faltam duas, que terão deliberações na segunda-feira (2).
Em todas as instituições que fizeram assembleias ontem, os dirigentes sindicais resumiram em uma palavra o principal motivo de a greve prosseguir: desconfiança. O presidente do Sindicato dos Professores da Unioeste, Antônio Bosi, foi categórico. “Nenhum dos servidores presentes na assembleia confia nesse governo.” Na UEM, a secretária-geral do sindicato dos docentes citou outro ponto fundamental para a manutenção da greve nas universidades: “o governador não pode obrigar a gente a fazer um projeto [alteração da Paraná Previdência] em um momento de asfixia econômica, que ele mesmo se colocou.”
Na maioria das assembleias, a discussão foi bastante acalorada. A Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e a Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp) terão assembleias na próxima semana.
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