Recursos foram acertados após reunião de Lula com reitores, que desagradou professores e servidores.| Foto: reprodução/Canal Gov
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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, na manhã desta segunda (10), um aporte de R$ 5,5 bilhões em investimentos nas universidades e institutos federais de educação, em que os professores e servidores técnico-administrativos estão em greve desde o mês de abril.

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Os recursos foram anunciados após uma reunião do presidente com os reitores das instituições para tentar dar fim à greve, mas que foi duramente criticada pelos sindicados dos professores e servidores que já disseram que não será isso que encerrará a paralisação. Uma nova reunião de negociação com servidores está marcada para terça (11).

Segundo anunciou o ministro Camilo Santana, da Educação, o montante fará parte do Novo PAC para universidades federais e hospitais universitários dividido em R$ 3,17 bilhões para consolidação das instituições, R$ 600 milhões para expansão e R$ 1,75 bi para hospitais universitários. Os novos investimentos, no entanto, ainda são insuficientes de acordo com os reitores.

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Santana disse que os novos investimentos na questão da consolidação serão divididos em dois eixos voltados ao fortalecimento da graduação e a assistência estudantil. Serão 223 novas obras (R$ 1,5 bi), 20 obras em andamento (R$ 889,9 mi) e 95 obras retomadas (R4 692,3 mi). A maior parte das obras (117) será na região Nordeste, com investimento de R$ 808 milhões, seguida pelo Sudeste com 76 obras, mas um montante maior de R$ 815 milhões.

Também anunciou a construção de 10 novos campi vinculados a universidades já existentes nas cinco regiões brasileiras – média de R$ 600 milhões – além da contratação de professores e de servidores técnicos-administrativos para estas novas instalações.

"Nós escolhemos os novos campi pelo vazio educacional, não teve critério político-partidário-eleitoral. [...] Qual é a região que tem menos curso superior? É lá que a gente vai fazer", disse Lula.

Santana também anunciou investimentos na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que gerencia os hospitais universitários brasileiros. Serão R$ 1,75 bilhão em investimentos, com 37 obras em 31 hospitais para ensino e atendimento à população, sendo oito novos hospitais em universidades federais do RS, MG, AC, RR, RJ, MG, SP e CE.

O ministro também anunciou a recomposição orçamentária de custeio do que foi cortado no orçamento deste ano, de R$  347 milhões, e agora haverá a complemtnação de R$ 400 milhões. Também serão acrescidos recursos às universidades federais (R$ 279,2 milhões, com orçamento chegando a 6,38 bilhões) e institutos federais (R$ 120,7 milhões, a 2,72 bilhões).

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Camilo Santana comparou o orçamento de 2022 das instituições – ainda sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) – e universidades federais “antes do presidente Lula” foi de R$ 72 bilhões para investimentos, pessoal e custeio. “O orçamento deste ano já foi para R$ 83,1 bilhões”, pontuou ressaltanto que os anúncios feitos nesta segunda (10) e mais o que está previsto no Novo PAC vão elevar os recursos em R$ 10 bilhões até 2026.

Proposta aos grevistas vai custar mais R$ 20 bilhões

O ministro Camilo Santana afirmou que reconhece o movimento grevista e disse que a ministra Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos) tem feito um grande esforço para negociar com os professores e servidores e para ter conseguido conceder o reajuste de 9% no ano passado. “A greve é quando não há mais diálogo, não há mais condições de debater e discutir”, disse afirmando que antes de Lula não havia um diálogo com a categoria.

“As mudanças no reajuste geral mas também mudanças na carreira. A última proposta que foi negociada com os docentes, que inclusive um dos sindicatos assinou a negociação, com os 9% que foram dados no ano passado, a variação até 2026 de reajuste dos professores varia de 23% a 43%”, afirmou Camilo Santana ressaltando que as perdas são “de anos” que não podem “ser compensadas em um curto espaço de tempo” – em um ano e meio de gestão de Lula.

Ele ressaltou que o que já foi proposto aos professores e o que será apresentado aos técnicos-administrativos nesta terça (11) vai representar um impacto de R$ 20 bilhões apenas em despesas de pessoal no orçamento do ministério.

Lula critica grevistas

Pouco depois, Lula criticou o movimento grevista e afirmou que “se vocês analisarem o conjunto da obra, vocês vão perceber que não há muita razão para essa greve estar durando o que está durando, porque quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor. Quem está perdendo é o Brasil e os estudantes brasileiros, isso precisa ser levado em conta”.

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Ainda segundo o presidente, “não é por 2%, 3%, 4%, que a gente fica a vida inteira em greve”. “Vamos ver os outros benefícios, vocês já tem noção do que foi oferecido? Porque no Brasil tá cheio de dirigente sindical que é corajoso para decretar uma greve, mas não tem coragem de acabar com a greve”, emendou.

“O montante de recursos que a companheira Esther colocou à disposição não é recusável”, completou.

Recursos não são suficientes, diz reitora

Márcia Abrahão, reitora da Universidade de Brasília (UnB) e representantes dos reitores, afirmou que “o PAC certamente é um alento, vai atender as obras novas tão necessárias e alguma expansão”, mas que os investimentos ainda não são suficientes para suprir o que as instituições necessitam.

Ela afirmou que houve uma redução no orçamento entre os anos de 2017 e 2023, e que espera chegar a um montante de R$ 8,5 bilhões ainda neste ano contra os R$ 6,38 bilhões previstos.

A crítica ao montante também foi ressaltada por Elias de Pádua, reitor do Instituto Federal de Goiás, que disse que “temos que, dia após dia, fazer a impossível escolha entre manter o funcionamento de um programa para jovens portadores de deficiências ou fornecer energia, água, segurança e limpeza para um de nossos campi”.

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“O atual orçamento, mesmo reconhecendo os avanços [...] é equivalente ao do ano de 2015, período este onde o número de unidades funcionando representava aproximadamente 60% das existentes, sem falar dos novos 100 campi que farão parte da nossa estrutura”, pontuou.

Pádua emendou, e afirmou: "suplicamos ao governo federal que avance nas negociações para o fim da greve, [um] movimento legítimo e justo mas que já gera reflexo como o aumento da evasão escolar e prejuízo de cumprimento do calendário acadêmico".

Lula, por outro lado, afirmou que nunca se recusou a receber os reitores para conversar – e que ele mesmo liga quando acha necessário – mas, mostrou irritação quando saem reportagens relatando as dificuldades e falta de verbas nas universidades.

“Isso é uma coisa melancólica, é uma coisa triste. Ao invés de sair na imprensa, venha pro governo e diga ‘tá faltando tal coisa’. Prove que tá faltando que a gente tem que arrumar dinheiro. Porque, se a gente não consegue atender as necessidades básicas das universidades [...] isso é o elementar pra gente colocar o Brasil em situação de igualdade com outros países que já enfrentaram a educação”, ressaltou dizendo que a “elite política nunca teve preocupação com a educação do povo, porque os filhos deles vão estudar no exterior”.

O Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), que representa mais de 70 mil professores no país, ainda não se pronunciou sobre o anúncio desta manhã. A entidade classificou a convocação apenas dos reitores pelo presidente como vergonhosa.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]