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Ciência

Governo anuncia R$ 865 milhões para pesquisa

Paula e seus alunos desenvolveram um teste de suscetibilidade genética para doenças bucais: parceria bem-sucedida com a iniciativa privada | Priscila Forone / Gazeta do Povo
Paula e seus alunos desenvolveram um teste de suscetibilidade genética para doenças bucais: parceria bem-sucedida com a iniciativa privada (Foto: Priscila Forone / Gazeta do Povo)
Confira como os recursos anunciados serão usados |

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Confira como os recursos anunciados serão usados

O ministro da Ciência e Tec­nologia, Sérgio Machado Re­­zende, anunciou ontem um investimento de R$ 865 milhões em pesquisa científica neste ano, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Conselho Nacional de Desen­volvimento Científico e Tec­nológico (CNPq). O anúncio foi feito durante a abertura da 62.ª reunião anual da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC), que vai até sexta-feira, em Natal, Rio Grande do Norte.

Com editais e ações em execução, as duas instituições já somariam mais de R$ 2 bilhões em investimentos neste ano, segundo a SBPC – R$ 913 bilhões do CNPq (30% a mais que em 2009) e R$ 1,3 bilhão da Finep (metade do que foi aplicado no ano passado). Especialistas consideram o dinheiro suficiente para o fomento à pesquisa, mas apontam a falta de aproximação entre universidades e empresas como um entrave para a aplicação prática dos estudos.

Distribuição

A maior parte dos recursos anunciados, R$ 835 milhões, partirá da Finep. Desse montante, R$ 500 milhões farão parte de uma chamada pública para concessão de subvenção econômica para empresas privadas. Nessa modalidade, o governo investe diretamente nas empresas recursos públicos que não precisam ser devolvidos e compartilha com elas os custos e riscos inerentes ao negócio. Outros R$ 335 mi­­lhões financiarão pesquisas em universidades e outras instituições de Ciência e Tecnologia – R$ 173 milhões serão liberados já em agosto, por meio de dez editais, para pesquisas com foco em áreas como sistemas de produção agropecuária, construção naval e transporte aquaviário (veja box). Os outros R$ 30 mi­­lhões sairão do CNPq.

Segundo informações da Agência Brasil, o país ocupa o 13.º lugar na publicação de ma­­terial científico – ficando na frente de países como Rússia e Holanda. "Estamos perdendo o complexo de vira-lata", afirma o ministro. Em 2008, os pesquisadores brasileiros publicaram 30 mil artigos científicos.

Falta de interação

Segundo o professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vice-presidente da regional sul da Academia Brasileira de Ciências, Francisco Mauro Salvano, nunca se investiu tanto em pesquisa no Brasil como nos últimos anos, mas a falta de interação universidade-empresas persiste. "Isso fica claro quando vemos a Região Sudeste, e São Paulo em particular, como quem mais investe em pesquisa no país. Lá eles têm instituições como a Fapesp (Fun­dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que fazem essa interface."

Para o diretor de pesquisa e pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Waldemiro Gremski, o Brasil não tem uma cultura de aproximação da universidade com a empresa. "95% de toda a pesquisa brasileira é feita na universidade e deveria ir para a sociedade. Mas não é isso que acontece. Geralmente, as pesquisas são apenas publicadas em periódicos, o que é muito bom, mas não pode se esgotar aí. Tem de terminar em um novo produto ou tecnologia", salienta.

A coordenadora de pesquisa e desenvolvimento da Ciência e Tecnologia da Universidade Fe­­deral do Paraná (UFPR), Gra­ciela Muniz, diz que há uma vaidade acadêmica no Brasil, enquanto em outros países são as empresas que estão na frente das pesquisas. "Tem de ser uma via de mão dupla. Queremos saber o que eles esperam da gente, e vice-versa." Essa interação fica ainda mais evidente diante do aumento de investimentos em pesquisa na instituição. "A UFPR recebeu em 2007 do CT-Infra [fundo que apoia a pesquisa e ampliação da infraestrutura nas instituições públicas de ensino superior] um valor de aproximadamente R$ 2 milhões, enquanto de 2008 para cá, esse montante chegou a quase R$ 19 milhões", exemplifica.

Salvano adverte, porém, para um equilíbrio sadio entre a chamada pesquisa básica (com base no conhecimento pelo conhecimento) e a investigação aplicada (com base em necessidades reais de empresas). "Não podemos ignorar totalmente a pesquisa básica e como seus resultados inesperados podem render depois uma aplicação no setor tecnológico. A penicilina [antibiótico que foi descoberto por um acaso pelo médico Alexander Fleming, em 1928], por exemplo, foi um resultado inesperado de uma pesquisa básica."

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Interatividade

O que deve ser feito para melhorar a interação entre universidades e empresas?

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