Comida não chega a cidades do Maranhão
Dados da Defesa Civil do Maranhão atestam que 35% dos municípios que decretaram situação de emergência no estado ainda não receberam cestas básicas por causa do difícil acesso ou de falta de repasse de informações dos prefeitos sobre as reais necessidades desses locais. Até o momento, foram enviadas ao estado aproximadamente 850 toneladas de alimentos. Parte é formada de doações e parte recebida do governo federal.
Doações nos Bombeiros ou Provopar
As doações para os desabrigados e desalojados podem ser feitas em qualquer sede do Corpo de Bombeiros ou do Provopar. Nos Bombeiros, os donativos se concentram no Portão, mas os oficiais estão orientados a receber em qualquer sede. Neste momento, as principais necessidades dos estados que sofrem com os desastres naturais são colchões; roupas leves para adultos e crianças (masculinas e femininas); enxovais para bebês; roupas de cama e travesseiros; e alimentos de fácil preparo não perecíveis. Para auxiliar na arrecadação, algumas das cidades catarinenses, como Itajaí, estão repassando os donativos recebidos em novembro e que não foram usados.
O governo federal autorizou a liberação de R$ 880 milhões para serem aplicados nas regiões Norte e Nordeste, atingidas pelas chuvas dos últimos meses. Publicada no Diário Oficial da União ontem, a medida provisória prevê o uso dos recursos da seguinte forma: R$ 670 milhões para restabelecimento de cenário e recuperação de danos; R$ 60 milhões no socorro e assistência; e R$ 150 milhões em obras preventivas. Um total de R$ 515 milhões deve ser liberado o mais rápido possível, e os estados beneficiados serão: Maranhão (R$ 120), Piauí, Ceará e Amazonas (R$ 80); Pará (R$ 55); Bahia e Rio Grande do Norte (R$ 30); Sergipe (R$ 15); Alagoas (R$ 10); e Paraíba (R$ 5).
As mazelas sofridas pelos catarinenses foram piores do que a que esses dez estados brasileiros estão enfrentando? Em uma comparação entre o auxílio destinado às duas tragédias, parece existir uma tendência de favorecimentos aos catarinenses espécie de teoria dos "dois pesos, duas medidas". Nas dificuldades do fim do ano passado, 63 cidades foram afetadas em Santa Catarina, com 137 mortes, 51 mil desalojados e 27 mil desabrigados. O apoio contou com 24 helicópteros e quatro aviões da Força Aérea. A sociedade civil enviou R$ 34 milhões, além dos donativos. O governo federal e o Congresso Nacional prometeram R$ 360 milhões para a reconstrução.
No Nordeste e Norte, 299 cidades sofrem, com 200 mil desalojados e 114 mil desabrigados. Apenas três helicópteros e três aviões, porém, auxiliam as vítimas. As doações não alcançaram, até o momento, R$ 4 milhões. A tendência se repete nas arrecadações de donativos no Paraná. De acordo com a Defesa Civil do Estado, apenas 30 toneladas foram arrecadadas nos 15 dias de campanha para o Nordeste e Norte. Para Santa Catarina, em 30 dias de campanha, o Paraná juntou 2 mil toneladas de donativos.
Causas
Chefe da Seção Operacional da Coordenadoria de Defesa Civil do estado, o tenente Eduardo Gomes Pinheiro aponta a proximidade entre Paraná e Santa Catarina para a onda de solidariedade que contaminou o estado no ano passado. "Há vários paranaenses morando em Santa Catarina. E vários catarinenses morando no Paraná, por isso há laços mais estreitos", diz. Pinheiro relaciona as irregularidades na distribuição dos donativos em Santa Catarina como dificuldade para convencer os cidadãos a doarem. "Na destinação final, fica a dúvida se aquilo que foi doado será aproveitado por quem precisa. As fraudes colocam em dúvida o trabalho de pessoas sérias", opina.
Historiador e professor titular da Unicamp, Jaime Pinsky afirma que a sociedade está acostumada a ver a população da Região Nordeste e Norte sofrer e, por isso, não se comove. "É um fenômeno de caráter social, que coloca essas dificuldades como algo normal", diz. O antropólogo e professor da Universidade Federal do Paraná Carlos Alberto Balhana segue raciocínio semelhante. "Parece que há uma pobreza sem conserto. Seria uma terra que está sempre consumindo ajuda, mas não repõe os investimentos", afirma. "O Sul representa a riqueza, auxiliando no progresso da nação e, por isso, precisando de mais ajuda. É uma espécie de preconceito histórico."
A diferença na divulgação das dificuldades também pesa no clamor da sociedade. "Sabe-se menos o que está acontecendo por lá. Houve mais inserções nos programas de grande audiência, e as pessoas deixam de perceber a gravidade dos fatos e não se comovem", diz Pinheiro, da Defesa Civil.
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