Brasília O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que o governo pretende abrir os arquivos do período da ditadura militar. Segundo ele, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) deverá ser a responsável pelo trabalho. Ele negou que haja resistência por parte dos militares em dar continuidade às investigações. Mas não detalhou como será executada esta etapa das apurações.
"Nós queremos contribuir e trabalhar para que a sociedade brasileira feche a página desta história, vire a página de uma vez por todas e que a gente possa construir um futuro com muito mais solidariedade", disse o presidente, depois de cerimônia no Palácio do Planalto para o lançamento do livro "Direito à Memória e à Verdade", que relata detalhes da ditadura militar no Brasil.
Durante a solenidade de lançamento do livro, não havia militares presentes. O documento, de 500 páginas, conta a história dos 11 anos de trabalho da comissão especial que analisou 479 casos, entre eles de desaparecidos e mortos.
Porém, o presidente negou que ocorra algum tipo de resistência da parte dos militares em dar continuidade às investigações. "Acho que há vontade dos militares e da polícia. O que nós vamos fazer é aquilo que temos condições de fazer", destacou Lula.
Segundo Lula, a comissão especial que analisa os processos que tratam das vítimas do período militar deverá ser ampliada. Sob a coordenação da ministra Dilma Rousseff, a comissão entrará em uma nova etapa. "A comissão vai ser ampliada, vamos ver quais as dificuldades, preparar novos membros e continuar o debate. É um debate que tem ressentimento, que tem dor e lágrima, mas é preciso fazer pela sociedade e vamos fazê-lo", disse o presidente.
Dando a entender que é a favor da abertura dos arquivos, o secretário Paulo Vanucchi (Direitos Humanos) disse que o silêncio não contribui em nada. "O silêncio e a omissão não permitem a idéia de reconstituição, sobretudo, o direito de 180 famílias de sepultar os mortos. As informações têm de ser prestadas", afirmou.
Emoção
A cerimônia de lançamento do livro foi marcada por emoção. A mãe do estudante Fernando Augusto dos Santos, desaparecido em 1974, provocou lágrimas na platéia e fez o presidente levantar da cadeira para abraçá-la. "O senhor, por favor, dê uma resposta breve porque já estou com a idade avançada", afirmou Elzita Santos, dirigindo-se a Lula, apelando para que mantenha as investigações relativas ao período da ditadura.
Criada em 1995, a comissão especial é responsável pelas análises de processos de vítimas da ditadura. De lá para cá foram julgados 339 casos e concedidas indenizações que variam de R$ 100 mil a R$ 152,5 mil. Segundo Marco Antônio Rodrigues Barbosa, um dos coordenadores da comissão, o trabalho executado é, sobretudo, de "reconstituição da memória". "A morte deles (vítimas da ditadura) não foi em vão", disse.