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O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania manifestou contrariedade à resolução pró-aborto aprovada nesta segunda-feira (23) pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O documento promove o aborto em crianças e adolescentes que relatem estarem grávidas por estupro, que corram risco de vida ou cujos fetos tenham anencefalia.
Em nota, a pasta destacou que os integrantes do governo que compõem o órgão votaram todos contra a aprovação da norma e que as regras aprovadas deveriam ser discutidas no Congresso, conforme parecer jurídico apresentado na própria votação.
“O parecer indicou, entre outros aspectos, que a minuta de Resolução apresentava definições que só poderiam ser dispostas em Leis – a serem aprovadas pelo Congresso Nacional, indicando a necessidade de aperfeiçoamento e revisão de texto, garantindo maior alinhamento ao arcabouço legal brasileiro”, diz a nota do governo.
Na assembleia, realizada de maneira extraordinária nesta segunda-feira (23), a resolução foi aprovada com 15 votos favoráveis (todos de representantes da sociedade civil) e 13 contrários (todos de integrantes do governo). Dois conselheiros indicados pelos ministérios da Justiça e dos Povos Indígenas se ausentaram no momento da votação final – se tivessem participado e votado contra, poderiam ter evitado a aprovação ao empatar o placar.
O Conanda discute desde setembro a resolução, que define conceitos, procedimentos e deveres de órgãos públicos e instituições no encaminhamento de meninas que engravidam. O texto foi elaborado e aprovado com empenho das entidades da sociedade civil (que incluem ONGs, movimentos sociais, institutos de pesquisa e centrais sindicais, principalmente). Ao contrário de outras propostas, a minuta dessa resolução não foi submetida a consulta pública.
A resolução aprovada abre brecha para que uma menina grávida, que relate gestação resultante de abuso, possa abortar sem o consentimento dos pais. Prevê ainda que ela seja levada rapidamente a algum hospital que realize o aborto, tenha garantido direito ao sigilo sobre sua identidade, não precise apresentar boletim de ocorrência relatando a violência e tampouco autorização judicial para a realização do procedimento.
Por fim, a resolução também prevê a realização do aborto em qualquer fase da gestação, o que incluiria, portanto, a realização do procedimento até o limite dos 9 meses da gravidez.
Na nota divulgada após a aprovação, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania também expressou queixa com a forma da votação. Durante a assembleia, uma representante do governo foi impedida de votar pelo adiamento da proposta porque teria entrado na reunião virtual após a chamada oral; outro conselheiro teve um pedido de vista negado.
“Durante a discussão da proposta, o governo federal questionou insistentemente os termos da Resolução e o MDHC fez um pedido de vistas, conforme previsto pelo Regimento Interno do colegiado”, relata a nota do governo. “Embora o pedido de vistas seja direito de qualquer conselheiro previsto regimentalmente, o pedido foi colocado em votação e negado pelo Pleno do CONANDA, e a resolução foi posta em votação e aprovada, apesar dos votos contrários de todos os representantes do governo.”
Na conclusão da nota, a pasta diz que “o Governo Federal segue em consonância com a legislação que resguarda a prioridade absoluta de crianças e adolescentes, reafirmando estar aberto ao amplo debate com a sociedade e todos os poderes”.
Quem votou a favor e quem votou contra a resolução pró-aborto do Conanda
Votaram favoravelmente à aprovação da resolução:
- Elisa Tauáçurê da Silva Ferreira, Associação Mães na Luta
- Edmundo Ribeiro Kroger, Central de Educação e Cultura Popular (Cecup)
- Antônio Lacerda Souto, Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag)
- Clóvis Alberto Pereira, Organização Nacional dos Cegos do Brasil
- Lucinete Correa Tavares, Instituto Ecovida
- Renato César Ribeiro Bomfim, Casa de Cultura Ilê Asé Dósoguiã (CCIAO)
- Marina de Pol Poniwas, Conselho Federal de Conselho Federal de Psicologia (CFP)
- Marco Antônio Soares, Central Única dos Trabalhadores (CUT)
- Deila do Nascimento Martins Cavalcanti, Gabinete de Assessoria Jurídica das Organização Populares (Gajop)
- Antonio Pasin, Federação Brasileira de Associações Socioeducacionais de Adolescentes (Febraeda)
- Dayse Cesar Franco Bernardi, Associação de Pesquisadores e Formadores da Área da Criança e do Adolescente (Neca)
- Débora de Carvalho Vigevani, Instituto Fazendo História
- Ana Claudia Cifali, Instituto Alana
- Sérgio Eduardo Marques da Rocha, Aldeias Infantis SOS Brasil
- Carlos Frederico dos Santos, União dos Escoteiros do Brasil
Votaram contra a aprovação da resolução:
- Maria do Pilar Lacerda, Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania
- Lucas Leonam Lima da Silva, Ministério da Fazenda
- Andrea Oliveira de Nascimento, Ministério do Trabalho e Emprego
- Amanda Anderson de Souza, Ministério da Previdência Social
- Sonia Isoyama Venâncio, Ministério da Saúde
- Erasto Fortes Mendonça, Ministério da Educação
- Maria de Jesus Bonfim de Carvalho, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome
- Amarildo Baesso, Casa Civil da Presidência da República
- Danyel Iório de Lima, Ministério do Planejamento e Orçamento
- Edilma Nascimento, Ministério da Igualdade Racial
- Cristiane Sobral Correa Jesus, Ministério da Cultura
- Jessica Raiany Santos Costa, Secretaria Nacional de Juventude, Secretaria-Geral da Presidência da República
- Paulo Quermes, Ministério do Esporte