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ABUSO POLICIAL

Governo transfere corregedora após vídeo de ex-escrivã despida à força

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, transferiu nesta quinta-feira (24) a delegada Maria Inês Trefiglio Valente da diretoria da Corregedoria Geral da Polícia Civil para a Delegacia Geral de Polícia Adjunta. A transferência acontece dias após a policial afirmar que agentes da Corregedoria agiram "dentro do poder de polícia" ao arrancar à força as roupas de uma escrivã investigada por corrupção.

Segundo nota da Secretaria da Segurança Pública (SSP), responderá pela Corregedoria Geral de Polícia o delegado Delio Marcos Montresor, que já exerce suas funções naquele departamento. O comunicado, porém, não cita o caso como causa da transferência.

Em 15 de junho de 2009, a ex-escrivã, atualmente com 29 anos, teve a calça e a calcinha arrancadas à força na presença dos delegados da corregedoria, de uma policial militar e uma guarda-civil dentro do 25º Distrito Policial, em Parelheiros, na Zona Sul. A equipe da Corregedoria a investigava por crime de concussão (quando um servidor exige o pagamento de propina). Ela era acusada de cobrar R$ 200 de um suspeito de porte ilegal de arma para favorecê-lo no inquérito.

Para conseguir flagrar esse dinheiro, a Corregedoria obrigou a escrivã a tirar a roupa na frente de policiais homens. Ela se recusou e disse que só se despiria na presença de mulheres. Mas um delegado disse que era preciso a presença dele na sala para que a escrivã não alegasse que a PM e a Guarda Metropolitana forjaram a prova do crime, caso encontrassem algum dinheiro com ela.

Nenhuma policial feminina da Corregedoria surgiu para acompanhar a operação. Mesmo assim, os policiais homens a algemaram com as mãos para trás. Em seguida, a jogaram no chão, a seguraram e baixaram suas roupas, deixando-a nua da cintura para baixo. Toda essa ação foi gravada pela corregedoria. Doze de um total de 45 minutos do vídeo caíram recentemente na internet e foram parar no site Youtube.

Nas imagens, logo após a escrivã ficar seminua, o delegado responsável pela investigação aparece com quatro notas de R$ 50 e dá voz de prisão à escrivã. À época, ela cursava o 5º ano de direito. A mulher respondeu a processo administrativo e foi exonerada da Polícia Civil em outubro de 2010.

A corregedoria concluiu que os delegados envolvidos na ação agiram com "moderação" e arquivaram o inquérito contra os policiais. Eles alegaram que o vídeo da operação policial contra ela mostra as tentativas de que ela se deixasse revistar sem o uso da força.

O advogado da ex-escrivã tenta reverter sua exoneração da Polícia Civil. O inquérito criminal ainda corre na Justiça. A primeira audiência do caso só deverá ocorrer em maio, conforme seus advogados.

"Foi um excesso desnecessário. Ela só não queria passar pelo constrangimento de ficar nua na frente de homens", disse o advogado Fábio Guedes da Silveira.

A ex-escrivã, que não quis ter o nome divulgado, afirmou que se sente humilhada em dobro com a veiculação do vídeo na internet com a cena dentro da delegacia. "É uma dupla humilhação, no dia e agora", disse a mulher, que preferiu não comentar a acusação.

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