Assim que a banda de rock curitibana Stereo33 divulgou na internet a intenção de grafitar um muro no bairro São Francisco, setor histórico da capital, um leitor que se identificou como pichador ameaçou estragar a obra. O comentário foi publicado minutos depois da postagem, o que convenceu o grupo a respeito da veracidade da ameaça. Os pichadores que atuam no São Francisco são muito rápidos, e um muro recém-pintado geralmente não resiste à primeira noite. Ainda assim, a banda resolveu seguir em frente com o projeto, parte da estratégia de lançamento de um novo clipe. Em vez de investir em outdoors e anúncios publicitários, gastaram em latas de spray e na contratação de um grafiteiro amigo. A obra, executada ontem, remete ao tema e à estética do clipe. Mas não deixe nenhum pichador saber disso.
Eles têm entre 27 e 32 anos, usam os moletons folgados e os tênis grandes dos jovens urbanos, pontuam a fala com palavrões e querem evitar ser vistos como caretões precoces, que saem à rua imbuídos de bom-mocismo para combater a pichação. "Consideramos que tanto a pichação quanto o grafite são duas formas de o cara se expressar. Só que o grafite é mais caro e tem uma proposta artística mais aprofundada", diferencia o grafiteiro Marcio Cavalheiro, o "Case", relembrando os tempos em que passava a noite tomando abordagem e corridão da polícia.
A proposta, então, é provocar o pichador a sofisticar o seu olhar. "A pichação sempre vai existir. A ideia não é combater, mas propor uma abordagem diferente", ressalta Álvaro Neves Junior, um dos integrantes da banda. "Além disso, acho errado atacar o patrimônio de outra pessoa sem pedir permissão".
Nesta primeira investida, a banda ofereceu o grafite para o depósito do bar O Torto, que fica em frente do boteco. Outros nove endereços na região estão na lista, todos no setor histórico. O São Francisco é o quarto bairro de Curitiba com mais denúncias de pichação feitas à Guarda Municipal, atrás do Centro, Sítio Cercado e Boqueirão.
Estratégia
A escolha do São Francisco também faz parte da estratégia comercial da banda. O bairro tem alto movimento de pessoas, jovens principalmente, e O Torto é um dos pontos de encontro mais populares. "Infelizmente, os centros da cidade acabam se deteriorando e se esvaziando. Não queremos que isso aconteça por aqui", diz Álvaro.
Felipe "Kojake", também integrante da banda, defende a tomada do espaço a partir da manifestação de uma cultura urbana e local. "Unindo música com arte, chegamos a um resultado maior. E longe da guerra pichação versus grafite. Essa discussão sobre quem é marginal e quem não é não faz sentido".
Vida e Cidadania | 2:20
A proposta do grupo de rock curitibano Stereo33 é criar obras de arte sobre as velhas pichações dos muros do bairro São Francisco, no centro histórico da capital. Os temas e a estética das pinturas estão relacionados ao novo clipe da banda.