Os catadores do Aterro Sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, que será oficialmente fechado domingo, enfrentaram ontem uma grande confusão para resgatar o cartão da Caixa Econômica Federal, que dará direito às indenizações pelo encerramento das atividades no local. Centenas de trabalhadores formaram uma longa fila no entorno do Ciep da região, ponto escolhido para a distribuição dos cartões. Irritados com a demora no atendimento, os catadores começaram a protestar, o que provocou tumulto. Policiais militares intervieram e pelo menos um deles chegou a exibir uma pistola para intimidar a multidão.
Após quase 35 anos de atividades, o aterro sanitário já deixou de receber volumes grandes de lixo. Até domingo, o local continua aceitando apenas resíduos sólidos em pequena quantidade.
Segundo a Secretaria de Conservação, foi feito, na quinta-feira, o depósito na Caixa Econômica Federal, na conta de cada catador. A lista tem 1.603 nomes, e o valor das indenizações chega a R$ 23 milhões. O pagamento seria feito ao longo de 14 anos, mas a prefeitura resolveu desembolsar o valor total. Cada catador receberá aproximadamente R$ 14 mil. Mas, para obter o cartão, que dará acesso aos saques, os beneficiados enfrentaram uma longa fila. "A gente está sendo tratado como bicho. Ninguém organiza a fila e ficamos imprensados contra a grade. Passar por isso é uma grande humilhação", reclamava a catadora Maria Aparecida Rocha. Assim como ela, a maioria dos catadores dormiu na fila para resgatar o cartão.
Há mais de 16 anos trabalhando como catadora em Gramacho, Zélia Costa chegou ao Ciep às 22h de quinta-feira. "Dormi na fila. Tem mulher com criança, idosos. Todos passando por isso. Tantos anos de trabalho, e tudo acaba assim." De acordo com a prefeitura, até o no fim do dia, todas as pessoas que estavam na fila foram atendidas.
O lixão de Gramacho sempre esteve envolvido em polêmicas. A prefeitura havia anunciado o fechamento do local no dia 23 de abril, mas a data foi transferida para maio por conta do impasse com a criação do fundo de amparo aos catadores.
Devido à confusão na data do fechamento, caminhoneiros de empresas particulares que transportam entulho estiveram na manhã de ontem no aterro sanitário. Eles alegaram não terem sido avisados de não seria mais possível descarregar os materiais no lixão. "Continuamos retirando entulhos do Centro e da Zona Sul, não paramos de trabalhar. Mas chegamos em Gramacho e fomos impedidos de entrar", protestou o caminhoneiro Diego Assunção. O fechamento do lixão, segundo a prefeitura, foi publicado inúmeras vezes no Diário Oficial, e todo o lixo pode ser descarregado nos centros de tratamento do estado.