Um grampo feito com autorização da Justiça mostra o ex-diretor do Hospital Regional de Sorocaba, Heitor Consani, negociando com um empresário a participação em uma licitação. Na cidade distante 99 km de São Paulo, foi descoberto um esquema de fraude nos plantões médicos, com profissionais recebendo salário sem ir ao trabalho.

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De acordo com o Ministério Público, além das 12 pessoas indiciadas no inquérito, mais 50 podem ter sido beneficiadas pelas irregularidades. Nesta segunda-feira (20), mais um integrante do alto escalão deixou o governo depois das denúncias reveladas no domingo (19) pelo Fantástico. O coordenador estadual de Saúde, Ricardo Tardelli, pediu demissão. No dia anterior, o Secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude, Jorge Roberto Pagura, já tinha pedido para deixar o cargo.

Novas escutas telefônicas revelam irregularidades em uma licitação na unidade hospitalar, mostrando que o desvio de dinheiro público nos hospitais estaduais pode ir além do pagamento por plantões não trabalhados. As conversas mostram o ex-diretor do hospital, Heitor Consani, negociando com um empresário a participação em uma licitação.

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Consani: "Nós vamos licitar agora em janeiro, a portaria do hospital. Cara, não sei se interessa para vocês, é 90 'paus' por mês". Empresário: "Interessa sim, Heitor. Vamos entrar com você sim. Já tem edital, alguma coisa, ou não?" Consani: "Então, eu tenho o modelo. Cara, vou ver se consigo pegar o modelo e mandar para vocês verem".

Um edital de licitação não pode ser revelado até a publicação no Diário Oficial. Consani foi uma das 12 pessoas presas na semana passada. Ele conseguiu um habeas corpus e está solto. "Ele nega peremptoriamente", afirma o defensor de Consani, o advogado Alberto Zacharias Toron.

Colaboração com a polícia

O Ministério Público em Sorocaba vai tentar reverter a decisão da Justiça, pois os promotores querem que ele preste um novo depoimento. Além de Consani, três pessoas foram soltas porque colaboraram com a polícia. Nesta segunda, o MP pediu a prorrogação da prisão dos outros oito presos por mais cinco dias.

Pagura deixou o governo porque, de acordo com as investigações, foi pego negociando a frequência dos plantões não trabalhados. Para a polícia, Ricardo Tardelli, que também pediu demissão, sabia do esquema de fraude.

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O governo paulista anunciou que vai pagar os plantões separadamente dos salários para aumentar o controle e que serão implantados pontos eletrônicos para médicos em todos os hospitais estaduais.

A Secretaria Estadual da Saúde determinou uma auditoria em todos os hospitais onde há plantões médicos. E o governo de São Paulo quer ainda que a Corregedoria do Estado, responsável por investigar denúncias contra funcionários públicos, seja mais rápida para que o processo dure no máximo quatro meses.