Se o sistema brasileiro de energia fosse uma construção, Itaipu seria sua viga mestre. A usina em Foz do Iguaçu representa 16% de todo o potencial de geração do Sistema Interligado Nacional (SIN), e na prática responde por 20% da geração de energia do país. Com linhas de transmissão que vão diretamente para o Sudeste, maior mercado consumidor do país, a energia gerada em Itaipu não é substituída com facilidade pelas outras 150 hidrelétricas, 49 termelétricas e duas usinas nucleares do SIN. Como mostrou o apagão que começou às 22h13 da última terça-feira, uma queda abrupta no fluxo de energia da usina faz com que o resto do sistema sofra uma sobrecarga e entre em parafuso. Em outras palavras, Itaipu é grande demais para falhar.
Quando as três linhas de transmissão de corrente alternada de Itaipu caíram segundo o governo, por causa de um raio , outras usinas tentaram suprir a oferta perdida. Como a demanda tornou-se grande demais, elas também caíram. Iniciou-se então um efeito dominó que acabou tirando da tomada 18 estados e 70% do PIB brasileiro. Esse processo em cascata deveria ter sido evitado com o "ilhamento" um mecanismo de segurança da rede que isola determinadas áreas, equilibrando a oferta e a demanda de energia sem riscos para as linhas de transmissão. Por que o "ilhamento" não funcionou é uma das perguntas ainda sem respostas.
Uma possibilidade é que o sistema simplesmente não possui proteção para a queda de energia na quantidade gerada em Itaipu. "O sistema é inteligente, mas é o homem quem programa e diz como ele deve se comportar na ocorrência de um determinado evento. É preciso investigar se havia uma programação para um evento como o que ocorreu na terça-feira", afirma Rafael Schechtman, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE).
Sistema interligado
O Brasil tem o maior sistema interligado de transmissão de eletricidade do mundo. A escolha deriva das características do parque gerador, com cerca de 85% da oferta vindo de hidrelétricas que guardam a energia em forma de água armazenada em seus lagos. Como no país os ciclos de chuvas das regiões ocorrem em épocas diferentes, a interligação aumenta a segurança de que não haverá racionamento quando os reservatórios do Nordeste e Sudeste estão cheios, é época de estiagem no Sul, que importa energia; quando chove no Sul é o período de seca em parte do Sudeste e no Nordeste, que usam o excedente de outras regiões. A fraqueza desse sistema, porém, é que a grande distância entre as usinas e os principais centros consumidores aumenta a probabilidade de falhas e acidentes.
Para diminuir esse risco e depender menos de Itaipu, o país pode diversificar as matrizes energéticas, aumentar o número de linhas de transmissão e tornar o sistema mais inteligente, com investimento em tecnologia da informação.