O número de imigrantes bolivianos na Grande São Paulo pode chegar a meio milhão, segundo dados não-oficiais da comunidade estabelecida na cidade. Com isso, as condições precárias de trabalho têm ficado cada vez mais expostas, como na segunda-feira passada, quando um boliviano tentou vender dois jovens compatriotas por R$ 1 mil cada em uma feira no Brás, região central de São Paulo, após recusarem o trabalho oferecido pelo agenciador.
Esses jovens incrementam a estatística do Centro de Apoio ao Migrante (Cami), que mostra que o fluxo de imigrantes daquele país segue alto: por ano, entram no país 40 mil bolivianos. Os dados oficiais do Consulado da Bolívia dão conta de que "apenas" 340 mil vivem na região.
Movimento cujo início remete à década de 1990, à entrada de bolivianos soma-se o recente ingresso no país de dezenas de milhares de haitianos, que também formam parte da mão de obra não qualificada absorvida pela indústria têxtil e pela construção civil, explica o agente social Antônio Marcos de Oliveira, do Serviço Pastoral do Migrante, no bairro do Ipiranga.
Roque Pattussi, coordenador do Cami, afirma que essa imigração boliviana, embora cresça, é "flutuante". Existem milhares deles que, após trabalhar em São Paulo por alguns anos, retornam à Bolívia com as economias. "Uma grande parte, contudo, fica na cidade. Eles acabam se casando, muitas vezes dentro da comunidade, têm filhos e não vão embora", diz ele. Vivem ainda na Grande São Paulo 70 mil paraguaios e 17 mil peruanos, segundo números oficiais dos consulados dos dois países e referentes a 2013.
Trabalho nas confecções
O pastor evangélico e jornalista boliviano Zacarias Saavedra, que vive há nove anos no Brasil, diz que atualmente o valor de cada peça de roupa feita por um costureiro boliviano custa R$ 3 e é dividida em três partes iguais de R$ 1: uma fica com o trabalhador, outra com o dono da fábrica e a última para pagar a comida da casa. "Quem compra as roupas são as grandes, médias e pequenas confecções e varejistas brasileiras, bem como os lojistas coreanos. Quem faz a intermediação das negociações é um comerciante terceirizado pelas grandes varejistas", diz Saavedra, que cuida da comunicação social do Cami. Em dezembro de 2013 a Cami coordenou uma manifestação pacífica no centro de São Paulo com a participação de milhares de imigrantes, a maioria latino-americanos.
"Uma grande varejista brasileira pode pagar R$ 10 por uma peça, mas o pequeno comerciante, brasileiro ou coreano, paga R$ 3 ou R$ 4", diz.
Segundo estimativas do Cami, essas roupas, que depois de produzidas são vendidas nas lojas de departamentos e shopping centers do Brasil inteiro, além de até serem exportadas para os Estados Unidos e a Europa, são fabricadas em 18 mil a 20 mil pequenas confecções na Grande São Paulo. A maioria trabalha até 18h diárias e ganha entre R$ 460 e R$ 600 mensais, embora tenham alimentação e moradia gratuita, uma vez que os trabalhadores costumam comer e dormir nas próprias fábricas.