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Medicina

Gravidez de primeira bebê de proveta do Brasil foi mantida em sigilo pela família

A primeira criança nascida por fertilização in vitro no Brasil, e inclusive na América Latina, foi Anna Paula Caldeira, no dia 7 de outubro de 1984. A mãe da menina, a paranaense Ilza Caldeira, que não podia mais ter filhos por ter realizado uma ligadura de tubas uterinas, foi quem procurou a equipe do médico paulista Milton Nakamura (morto em 1997) para participar do procedimento que, na época, era ainda experimental.

"Era um indivíduo muito à frente do seu tempo. Antes da fertilização in vitro, ele já tinha trazido para o Brasil a videolaparoscopia, equipamento que ninguém achava que ia funcionar, mas que é essencial", lembra o ginecologista Isaac Yadid, diretor da Primordia Medicina Reprodutiva e integrante da equipe, sobre o procedimento que introduz uma microcâmera no abdome por uma pequena incisão na região do umbigo, com o objetivo de analisar os órgãos genitais internos.

Na época, a família pediu que a gravidez fosse mantida em sigilo. A foto de Ilza com Anna no colo foi divulgada à imprensa apenas cinco dias depois do nascimento da menina saudável, que ocorreu num hospital de São José dos Pinhais, no Paraná.

"A sociedade recebeu a notícia com surpresa e satisfação. A reação foi favorável, todos acreditavam que a técnica iria funcionar, mas no começo os resultados eram muito pobres. Precisávamos avançar em vários pontos: na produção de embriões, na forma de realizar as coletas, nas condições em que os embriões eram armazenados", avalia Yadid, que se formou em 1980, em meio à ebulição das experiências de fertilização no mundo.

A técnica foi introduzida no Brasil por meio da parceria com o pesquisador Alan Trounson, do Instituto Monash de Reprodução e Desenvolvimento, na Austrália. Também pioneiro na fertilização in vitro, ele foi responsável pelo nascimento de Zoe Leyland pouco antes da experiência brasileira, em 28 de março de 1984, em Melbourne.

Se no início da prática a mulher chegava a ter o abdome aberto para a retirada de óvulos, agora a aspiração destes é feita apenas com uma agulha por via vaginal, orientada por ultrassom e com duração de cerca de 10 minutos. No mesmo dia, ela vai para casa. Para a coleta, a mulher recebe doses de hormônios para estimular a ovulação. Ao contrário do que ocorre naturalmente, ela produz um grande número de óvulos para aumentar as chances de fertilização. Óvulos maduros e espermatozoides em tamanho e qualidade adequados são mantidos numa incubadora que simula as condições naturais do corpo feminino. Com um microscópio, o embriologista fecunda o óvulo, que depois é colocado no útero.

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