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O sonho de terminar o ensino fundamental e tornar-se professora em uma cidade grande fez Laisa Elisa Pinheiro, 16, sair de Itapecuru, no Maranhão, e ir morar na casa da irmã, em uma favela, no Rio. Na mesma semana em que chegou, a adolescente descobriu que estava grávida de três meses.

A gravidez precoce foi um dado retratado na Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada nesta sexta-feira (21) pelo IBGE. Fruto de parceria com o Ministério da Saúde, a pesquisa, inédita e realizada em 2013, visitou cerca de 80 mil domicílios nas quatro regiões do país.

Segundo o órgão, mulheres com menor nível de instrução tiveram o primeiro filho por volta dos 19 anos. Das mulheres de 18 a 49 anos de idade, 69,2% ficaram grávidas alguma vez na vida.

A proporção de mulheres que fazem o uso de algum contraceptivo também é menor de acordo com o grau de escolaridade. Na faixa de Laisa, com o fundamental incompleto, somente 46,4% das mulheres usaram algum método para não engravidar, contra 69,7% das que possuíam ensino superior.

“Tive minha primeira relação sexual e engravidei. Sabia da existência de camisinha, mas não usamos. Poderia engravidar, mas não pensei nisso na hora”, disse.

Aos sete meses de gravidez, a adolescente faz o pré-natal em uma Clínica da Família, no Catumbi, região central do Rio, ao lado da favela da Coroa, onde reside.

O diretor da unidade pública de saúde, Thiago Wendel, 31, corrobora os dados da pesquisa sobre o perfil das pacientes. “A maioria das grávidas atendidas são negras, oriundas de favelas da região, por volta dos 18 anos. Atualmente, atendemos a 188 grávidas”, disse.

Segundo Wendel, todas procuram a clínica ainda no primeiro trimestre da gravidez e realizam uma consulta mensal, intensificada no terceiro trimestre para cada 15 dias. Segundo o IBGE, 97,4% das mulheres que tiveram o último parto no período de 2012 a 2013 declararam ter feito o acompanhamento pré-natal, das quais a maioria iniciou com menos de 13 semanas de gestação.

Ainda grávida, Laisa irá retornar ao Maranhão para ter ajuda da mãe nos cuidados com o bebê, que já teve o nome escolhido: Adrian Levi. O pai, que trabalha com moldes de cerâmica, ainda não a viu grávida.

“No início eu não quis aceitar. Mas agora estou feliz. Vou voltar a estudar em breve. Agora, tenho que cuidar do Adrian que está saudável”, disse a adolescente, acariciando a barriga.

Planejamento familiar

A presidente da Comissão de Anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), Marta Franco Finotti, a maioria das pessoas sabe para que servem os métodos contraceptivos. A ocorrência de gravidez, contudo, ocorre mais por conta da falta de informação de como os métodos funcionam exatamente.

“Existe uma diferença grande entre informação e o uso correto do método. E a renda está diretamente ligada ao acesso à informação completa e a programas de planejamento familiar”, disse.

De acordo com a obstetra, muitas pessoas de classe de renda mais baixa não sabem, por exemplo, que a pílula não deve ser tomada somente no período em que se tem relações sexuais, ou que a camisinha precisa ser usada durante todo o sexo.

Segundo a especialista, a pílula apresenta grau de falha em 0,3 três de cem mulheres que fizeram seu uso no último ano. “Se a pílula for usada de maneira errada, esse percentual vai para nove vezes em cem mulheres”.

A médica rebateu argumento de que a população mais pobre engravida porque quer. “De jeito nenhum. Essas pessoas não encontram o apoio necessário de programas de planejamento familiar, com informações corretas sobre métodos que deveriam ser direito delas”, disse.

Marta cita dados da Organização Mundial de Saúde que mostram que na América Latina o percentual de gravidez indesejada na América Latina é de 56%, enquanto a taxa média mundial é de 50,2%.

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