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Estar longe da Grécia neste momento é um misto de alívio e preocupação. A comunidade grega residente em São Paulo, apesar de pequena — estima-se que exista pouco mais de três mil gregos na cidade — acompanha com apreensão as notícias da crise econômica no país. Niqui Petrakis, de 29 anos, administradora do tradicional restaurante Acrópoles, diz que nos últimos dias tem recebido telefonemas da Grécia de amigos e desconhecidos perguntando como está o Brasil. E se há condições de se montar um negócio por aqui.

— De janeiro pra cá, esses telefonemas se intensificaram, e tenho dito que a situação econômica aqui não está tão boa, mas é melhor do que lá — diz a comerciante, que é filha do dono do Acrópoles, um senhor de 99 anos chamado Thassyvoulos Petrakis, mais conhecido como Sr. Trasso.

Niqui tem a mãe e uma irmã morando em Atenas. Ela diz que a irmã, de 27 anos, já pensa em voltar ao Brasil.

— Ela é engenheira e não tem um emprego fixo na Grécia. Talvez, vir para cá seja a melhor saída — afirmou.

Outro que anda preocupado com os parentes na Grécia é o aposentado Petros Ioannis Makris, de 75 anos. Ele é conselheiro da Coletividade Helênica de São Paulo e tem três irmãs morando no interior do país.

Makris disse que sua família vive da produção de azeite. Porém, um sobrinho, de 40 anos, está desempregado e, para sobreviver, dá aulas particulares na capital.

— Os mais jovens não querem ser agricultores. Eles vão para Atenas. O meu sobrinho, por exemplo, espera ser chamado para trabalhar no governo, mas acredito ser mais difícil agora — ressalta Makris.

Para o historiador Jorge Constantin Kapatás, a juventude grega tem migrado para os vizinhos europeus à procura de trabalho — em um movimento que deve se agravar nos próximos meses.

— A pobreza tem aumentado bastante na Grécia. Alguns amigos que moram aqui no Brasil, por exemplo, estavam enviando dinheiro para os parentes gregos, mas agora essas remessas cessaram por conta do fechamento dos bancos. A solução, para muitos, será sair do país — ressaltou Kapatás, de 57 anos.

Ele é filho de gregos e seu pai, de 90 anos, mora na Grécia desde a década de 1980.

COMERCIANTES TÊM DIFICULDADE PARA IMPORTAR DA GRÉCIA

A apreensão é maior entre os comerciantes e importadores de produtos gregos instalados em São Paulo. No Empório Grego, por exemplo, tradicional revenda de azeites e azeitonas, o estoque está acabando e ainda não há previsão de nova remessa dos produtos. Segundo, Spyros Patseas, o azeite vendido no Brasil é produzido pela sua família no interior da Grécia e vendido para grande parte dos restaurantes típicos na capital paulista.

— Geralmente, mando os recursos para dar início à importação. Mas com a restrição aos saques, não consigo. É uma situação difícil — disse o comerciante.

Patseas, de 62 anos, veio para o Brasil na década de 1960 com toda a família. Há cinco, montou o empório em São Paulo e diz que, por ano, importa um contêiner de azeite.

— Estou apreensivo com o desfecho dessa situação. Mas, não acho correto o governo optar por sair da zona do euro. A Grécia faz parte de um condomínio e, se não paga a sua parcela, quem banca são os outros condôminos, no caso, os outros países. A situação pode piorar muito por lá — acredita o comerciante.

Patseas diz que a cada seis meses vai à Grécia visitar a família e ver como andam os negócios. Ele diz estar esperando a situação melhorar para reiniciar a importação dos azeites.

O gerente do restaurante Acrópoles, do Sr. Trasso, Paulo Rogério Soares, diz que há estoque de bebidas gregas por mais 45 dias e ainda não sabe como irá importar os produtos quando acabarem:

— Há três anos, tivemos que substituir os vinhos gregos por chilenos. Naquela época, a importadora, da qual éramos clientes, fechou em razão da dificuldade de importação. Agora, não sei se teremos que tomar a mesma medida.

Na época, o restaurante substituiu o famoso queijo feta (queijo de cabra fresco) por um similar produzido em Minas Gerais. A cerveja Mythos e as geleias saíram do cardápio.

— Tentamos nos virar com o que dispúnhamos. Produtos do Chile, Espanha e outros países entraram em nosso cardápio — contou ele, que trabalha ali há nove anos.

Agora, os produtos gregos servidos no restaurante Acrópoles — um ponto de encontro da comunidade grega paulista — são importados por uma empresa de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

— Os gregos se reúnem com frequência, e posso perceber, pelas conversas, que eles estão bem preocupados com a situação de suas famílias na Grécia — afirmou o gerente.

EUA, DESTINO FINAL

O presidente da Coletividade Helênica, Theodore Gatos, neto de gregos, disse que está com viagem marcada para a Grécia daqui a dez dias. E já foi alertado pelos primos para levar dinheiro em espécie.

— Não estão aceitando mais cartões de crédito nos estabelecimentos comerciais. É uma situação bem complicada — disse Gatos.

Ele contou que os primos, que moram na cidade de Tessalônica, retiraram parte do dinheiro que estava depositado no banco pouco antes do fechamento das instituições e da imposição do controle de capitais que permite apenas o saque de € 60 diários:

— É com essa reserva que eles estão se mantendo. A sensação, de quem está de fora, é de pura impotência. Não sabemos o que vai acontecer.

Nos últimos dias, segundo Gatos, muitos gregos recém-chegados ao Brasil procuraram a comunidade.

— Não acredito que fiquem aqui. O maior destino dos gregos são os EUA.

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