Espera
Pacientes do interior ficam sem atendimento e perdem a viagem
Osny Tavares
Na recepção de hospitais de Curitiba que oferecem consultas eletivas, onde costuma haver concentração de pacientes, o clima era de final de semana. Porém nas emergências, onde o atendimento não foi suspenso, o fluxo de pessoas seguiu normal.
Ainda que as instituições tenham se comprometido a telefonar aos pacientes com consultas agendadas e desmarcar o compromisso, alguns deles se dirigiram aos hospitais, principalmente os que moram e outras cidades e vêm a capital em veículos das prefeituras. Havia também o temor de que a paralisação fosse suspensa e os atendimentos fossem retomados de imediato, sendo considerados faltantes os pacientes que não estivessem presentes.
O aposentado Vilson Schram, 60 anos, acordou as 2 horas da manhã para viajar de Ponta Grossa a Curitiba, onde teria uma consulta no Hospital de Clínicas. "Quando cheguei, vi pouco movimento e um carro de televisão, então já imaginei que não ia ter médico", diz ele, que esperou em frente ao hospital até as 17 horas, quando o veículo da prefeitura passou para buscá-lo. "Poderia ter protesto, mas poderiam atender quem vem de longe", diz ele, que esperou 10 meses por uma consulta. "Só me deram um papel e disseram pra ligar de volta".
10 estados e o distrito federal participaram ontem da mobilização contra o programa Mais Médicos. Outros 11 estados devem aderir ao protesto hoje, de acordo com a Federação Nacional dos Médicos (Fenam). Os profissionais protestam principalmente contra dois pontos do programa: o acréscimo de dois anos de serviço no Sistema Único de Saúde (SUS) aos estudantes de Medicina e o incentivo para atuação de médicos estrangeiros no país, sem a revalidação dos diplomas. Além do Mais Médicos, a categoria também é contra os vetos da presidente Dilma Rousseff à Lei do Ato Médico. A Fenam argumenta que a classe médica não foi ouvida nas negociações com o governo, o que exigiu ações "mais fortes" por parte dos profissionais.
Esclarecimento
Diferentemente do publicado na edição de ontem, os médicos do Hospital Evangélico não paralisaram o atendimento na segunda-feira como forma de protesto. A informação havia sido prestada pela assessoria de imprensa do hospital e foi retificada pela própria instituição, ontem.
A paralisação nacional dos médicos em protesto contra o programa Mais Médicos do governo federal e aos vetos ao projeto de lei do Ato Médico afetou ontem os atendimentos eletivos considerados não urgentes em Curitiba e outras 14 cidades do Paraná. Na capital, os hospitais Cajuru, Evangélico, Trabalhador e de Clínicas (HC) confirmaram que consultas e cirurgias foram remarcadas. Postos e unidades de saúde da capital também registram transtornos.
Apenas os atendimentos considerados essenciais, como urgências e emergências, foram atendidos nas instituições públicas de saúde. A estimativa do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) é de que 60% dos profissionais que trabalham na capital participaram das manifestações.
Na rede municipal de saúde, 125 médicos aderiram à paralisação, o que representa 13,48% do efetivo municipal. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) apenas os atendimentos de menor prioridade foram adiados nas 109 unidades de saúde de Curitiba.
O Hospital Cajuru relatou que até as 17h30 de ontem, 362 consultas eletivas ambulatoriais haviam sido transferidas. A entidade precisou transferir cinco das vinte cirurgias eletivas agendadas para o dia.
No HC apenas cinco dos 27 ambulatórios funcionaram, e de modo parcial. Das 1.285 consultas agendadas para ontem, apenas 273 (21,2%) foram realizadas. As demais foram remarcadas, conforme disponibilidade, para a partir de amanhã.
A assessoria de imprensa do Hospital Evangélico informou que os protestos da categoria reduziram em 90% os atendimentos eletivos. Em média, a entidade atende mil pessoas por dia, ou seja, cerca de 900 consultas precisaram de reagendamento. Os cem atendimentos previstos para ontem foram dos setores de pediatria e alguns curativos e bandagens urgentes. Os setores de urgência e emergência do hospital não foram afetados pela paralisação.
Rede estadual
O Hospital do Trabalhador, conforme informou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), teve 30% das consultas não emergenciais transferidas. A Sesa informou ainda que os hospitais regionais do Litoral, em Paranaguá; do Sudoeste, em Francisco Beltrão; e os dois de Londrina tiveram funcionamento normal. Nesses locais, alguns médicos entregaram panfletos aos pacientes durante a consulta.
ConsequênciaMobilização afeta grandes hospitais no interior
Os reflexos da paralisação nacional também causam reflexos nos atendimentos no interior do estado. Em Londrina, cerca de 300 atendimentos foram suspensos para a próxima semana no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e o atendimento também foi afetado no Hospital da Zona Norte. Em Maringá, a estimativa do Hospital Universitário de Maringá é de que 90% dos médicos tenham cruzado os braços. No curso de medicina da UEM, 100% dos estudantes e residentes aderiram à paralisação.
Em Cascavel, no Oeste, a manifestação de médicos ocorreu no final da tarde de ontem no centro da cidade. Cerca de 150 pessoas participaram do ato, a maioria estudantes de Medicina da Unioeste e da Faculdade Assis Gurgacz.
Em Foz do Iguaçu, os médicos vão paralisar as atividades hoje. Serão mantidos apenas os serviços de urgência e emergência. A decisão foi tomada durante assembleia da categoria realizada no final da tarde de ontem na Praça do Colégio Bartolomeu Mitre, no centro da cidade.
Colaboraram Luiz Carlos da Cruz, Denise Paro, Fábio Calsavaro, Karen Faccin.
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