Curitiba amanheceu, nesta segunda-feira (30), com uma greve de servidores municipais de saúde. A paralisação ocorre, segundo o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc), por tempo indeterminado e por conta de atrasados no pagamento do piso salarial, vencimentos retroativos e gratificações. A prefeitura afirmou que a entidade sindical não está cumprindo o acordo de manter 20% do quadro de trabalhadores nas unidades básicas e um mínimo de 12 profissionais nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs 24 Horas), mas que, mesmo assim, mantém todas as unidades abertas para acolher usuários e atender emergências.
Assembleia discute proposta da prefeitura
O Sismuc convocou para as 15 horas desta segunda-feira uma assembleia para discutir uma proposta apresentada pela prefeitura em reunião realizada nesta manhã.
Segundo o sindicato de trabalhadores, a proposta da administração municipal é pagar os atrasados no dia 10 de abril. E também rever o modelo de gratificações que acabou gerando perdas salariais para a categoria.
Na última sexta-feira (27), o Sismuc havia divulgado que manteria um quadro mínimo para serviços de urgência e emergência. Na nota, a coordenadora geral do sindicato, Ana Paula Cozzolino, havia afirmado que 30% do efetivo nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) seriam mantidos para que esses atendimentos fossem realizados.
Postos fechados e UPA com espera de 5 horas
A reportagem da Gazeta do Povo percorreu alguns postos de saúde na manhã desta segunda-feira para verificar o atendimento à população.
Na unidade Ouvidor Pardinho, havia funcionários trabalhando e os cidadãos eram atendidos, embora com espera maior que a normal. Dois postos estavam fechados: Bacacheri e Hauer.
O maior problema era registrado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Boa Vista, onde havia uma grande quantidade de pessoas à espera de atendimento.
Na chegada ao prédio, os pacientes eram informados de que a espera para atendimento era de cinco horas.
A prefeitura, por sua vez, emitiu nota na manhã desta segunda-feira afirmando que o acordo era para manutenção de 20% do efetivo nas unidades de saúde e que, nem isso, estaria sendo cumprido. A categoria está realizando um protesto nesta manhã, que saiu da Praça Santos Andrade e seguiu pela Rua Marechal Deodoro, no Centro de Curitiba.
Ao todo, entre médicos e enfermeiros, são 7,5 mil servidores municipais da saúde. Para Ana Paula, a prefeitura descumpriu acordos firmados ao longo de 2014. “Em fevereiro deste ano, uma greve já havia sido deflagrada e a prefeitura havia assumido compromisso de cumprir o acordo, mas isso não ocorreu”.
A categoria também reclama de atrasos no pagamento de parte das horas extras. Em janeiro, segundo o Sismuc, a dívida da gestão municipal com os servidores da saúde chegava a R$ 1,5 milhão por causa dessas horas extras. Dois meses depois, ainda haveria R$ 600 mil em atraso.
No texto encaminhado pela Secretaria Municipal da Saúde, o acordo costurado entre as partes havia definido que seriam mantidos, pelo menos, 12 profissionais em cada UPA. E esse contingente não estaria sendo cumprido. A pasta informou ainda que registará e encaminhará aos órgãos de controle esse descumprimento.
Na última sexta-feira, em nota da prefeitura reproduzida pelo próprio Sismuc, a gestão Gustavo Fruet teria confirmado débitos na ordem de R$ 5 milhões referentes aos reajustes salariais de dezembro, janeiro e fevereiro. Esse montante, de acordo com o texto, seria pago até o próximo dia 17 de abril. A Secretaria da Saúde ainda afirmava no texto que continuava negociando com a categoria a finalização de um plano de gratificações para os servidores.
Atendimento mínimo estipulado pela Justiça não é cumprido
- Felipe Vanini, especial para a Gazeta do Povo
O atendimento mínimo de 20% de pacientes estipulado pela Justiça para a paralisação dos servidores municipais da saúde não foi cumprido em dois dos seis postos de saúde visitados pela reportagem da Gazeta do Povo nesta segunda-feira (30).
Nos postos de saúde do Hauer e do Bacacheri não havia médico algum de plantão, segundo as recepcionistas, o que impossibilitava qualquer tipo atendimento. O expediente nessas unidades limitava-se a entrega de exames já realizados e também de remédios. As salas de espera estavam vazias.
Com a neta de três meses no colo, a dona de casa Rosilda Wosne queixava-se da situação que encontrou no posto de saúde do Hauer. “Vim para dar a vacina de três meses [contra a meningite], mas me disseram que não vou conseguir hoje”, afirmou.
A situação não era mais fácil para o ambulante Tibério Magalhães, que aguardava uma consulta na UPA do Boa Vista. Após ter levado uma hora e meia no pré-atendimento, em que foi informado de que tinha uma “alergia”, Magalhães coçava-se com uma agonia visível. Sua pele inteira estava descascada e com feridas, e ele tinha pela frente a expectativa de ser atendido por um médico em aproximadamente três horas e meia. Isso porque na entrada da UPA da Boa Vista os atendentes avisavam que o prazo de espera era, em média, de cinco horas.
O perito trabalhista Luciano Oliveira Filho tinha sido orientado no posto de saúde Bacacheri a procurar a unidade do Boa Vista. Quando chegou lá, aguentou trinta minutos de espera e desistiu de esperar. “Essa situação é péssima. Já não tenho plano de saúde por causa do custo e hoje vou ter bancar uma consulta particular”, afirmou ele, que estava com mal-estar e vômito.
Na UPA Albert Sabin, do Fazendinha, e na UPA Boqueirão a fila também era grande. Nessas unidades os funcionários afirmavam que a espera podia chegar a três horas e meia e que o quadro mínimo de funcionários estava trabalhando.
Já no posto de saúde da Praça Ouvidor Pardinho não havia filas e as funcionárias disseram que os serviços estavam mais lentos devido ao quadro reduzido. O Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba, representante da categoria dos profissionais de saúde, não comentou sobre o assunto.
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