Uma greve inédita prejudicou a vida de quem tinha exame prático de direção ontem, em Curitiba. Instrutores e demais funcionários de autoescolas se recusaram a trabalhar, insatisfeitos com a proposta de reajuste salarial de 8% oferecida pelo Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Paraná.
Os profissionais reivindicam aumento de 30% na remuneração-base, que hoje é de R$ 667, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Autoescolas (Sintradesp). Dezenas de grevistas se posicionaram em frente da sede do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran), no bairro Tarumã, enquanto o carro de som do Sintradesp chamava todos para a paralisação.
Com o piquete, quem chegava para fazer o teste de direção era impedido de sair com o carro da autoescola. De acordo com o Detran, dos 637 exames agendados para ontem, apenas 85 foram realizados. Presente no local para evitar confusão, a Polícia Militar intermediou um acordo entre os sindicatos no início da tarde, permitindo que alguns alunos fizessem o exame prático. Foram beneficiados aqueles cujo processo para tirar habilitação vence até 25 de julho. Quem não se encaixou nesse perfil vai ter de remarcar a prova.
É o caso de Norma Kolczycke, de 54 anos, cujo processo vence em dezembro. Ela era uma das alunas que estava na fila de liberação da guia para a prova. Norma evitou criticar a greve por achar importante que os instrutores busquem seus direitos, mas lamentou por não poder fazer o teste. "Eles estão certos. O ruim é que a gente se desgasta emocionalmente. Hoje [ontem] já estou nervosa e agora vou ter de esperar mais algum tempo para fazer a prova."
Para Angeli Pessaia Pereira, de 20 anos, esse tipo de greve acaba prejudicando só quem não deve. "Eles precisam encontrar outra forma de reivindicar os direitos. Meu processo vence em janeiro, mas a colega que veio comigo não vai poder fazer a prova, e o processo dela vence no dia 29 de julho. Um absurdo", reclamou.
Adesão
De acordo com o Sintradesp, instrutores de Cascavel (Oeste do estado), Umuarama (Noroeste), Lapa e Colombo (ambas na Grande Curitiba) também aderiram ao movimento, mas os grevistas admitiram ontem que esperavam uma adesão maior no interior. "Tenho uma irmã que é instrutora em autoescola no interior e estava tudo normal. Lá eles têm medo de ser mandados embora, porque sobra instrutor. Já em Curitiba falta", disse Rosimery Rodrigues de Carvalho, 35 anos e instrutora há cinco.
Além dos 30% de aumento, o Sintradesp pede que as autoescolas implantem vale-alimentação de R$ 100. A presidente do sindicato, Arminda Martins, cobra também uma distinção de salário para o instrutor de acordo com a categoria de habilitação. "Hoje o instrutor que dá aula de caminhão ganha o mesmo que o de carro e moto." No caso dos instrutores de moto há, segundo ela, outro problema. "O Detran permite que um instrutor atenda três motos ao mesmo tempo durante a aula, mas ele só recebe o valor de uma delas."
Segundo ela, a paralisação é por tempo indeterminado e os protestos vão continuar. O advogado Fernando Martins da Silva, que representa as autoescolas, informou ontem que uma contraproposta seria feita para acabar com a paralisação.