São Paulo e Porto Alegre - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirmou na tarde de ontem o primeiro caso de morte causada por "transmissão sustentada" do vírus da gripe A (H1N1) também conhecida como gripe suína. Ou seja, a doença foi contraída dentro do Brasil, sem vínculo com pessoas vindas de outros países. "Hoje (ontem), a Secretaria de Saúde de São Paulo confirmou que não foi possível detectar o contato que resultou na contaminação desse paciente", afirmou Temporão sobre a menina de 11 anos que morreu em Osasco (SP) em 30 de junho.
Na transmissão sustentada, o vírus não depende de pacientes que tenham viajado a outros países ou tido contato com pessoas que foram ao exterior para se espalhar. Até então, o governo admitia apenas casos "importados" (vinculados a pessoas que estiveram fora do Brasil). "Este é um fenômeno esperado na transmissão, particularmente com as características dos vírus Influenza, que já vem ocorrendo em outros países", disse Temporão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existe transmissão sustentada do vírus da gripe suína em sete países: Estados Unidos, México, Canadá, Chile, Argentina, Austrália e Reino Unido. O Brasil seria, assim, o oitavo país na lista.
Além do reconhecimento da transmissão sustentada no Brasil, Temporão anunciou outras sete mortes, cinco no Rio Grande do Sul, uma no Rio de Janeiro e uma em São Paulo. O total de casos fatais da nova gripe no Brasil subiu, assim, para 11. Pelo volume de casos estimados no Rio Grande do Sul e sua distribuição regional, o secretário de Estado da Saúde, Osmar Terra, considera que provavelmente há circulação sustentada do vírus no estado.
Apesar disso, Terra diz que as novas ocorrências não significam que houve aumento da letalidade da doença. Ele observou que o mês de julho é tradicionalmente o de maior mortalidade de doenças respiratórias no estado e uma quantidade importante delas está relacionada à gripe, em seus vários tipos. "Todas as gripes, direta ou indiretamente, causam mortes", disse Terra, ao explicar que a doença debilita o organismo, facilitando a instalação de bactérias. No ano passado, o estado teve cerca de 2,5 mil mortes por pneumonia.
Ainda de acordo com Terra, duas das vítimas cujas mortes foram anunciadas ontem eram hipertensas; uma tinha diabete e hipertensão; e a outra era obesa. A quinta vítima não tinha condições anteriores que pudessem agravar o quadro. De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado anteontem, o Brasil tem 1.175 casos da doença registrados desde 8 de maio.
Nesta semana, a Gazeta do Povo revelou, com base em dados levantados pela ONG Contas Abertas, que o governo federal gastou de maio até 13 de julho apenas R$ 8,4 milhões dos R$ 129 milhões aprovados para o combate da doença no país. Isso representa 6,7% do dinheiro liberado pelo governo via medida provisória. O governo nega, no entanto, que haja atraso na liberação dos recursos e afirma que cerca de metade do dinheiro liberado já foi empenhado, faltando apenas o pagamento.
Há quase um mês, o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, não consegue mais processar os exames de diagnóstico de gripe suína em 72 horas, como ocorria quando surgiram os primeiros casos da doença. A coordenadora do setor de doenças transmissíveis agudas da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (RS), Lisiane Acosta, afirmou que os resultados dos exames demoram até 16 dias para chegar à região.
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NOVAS MORTES
Foram confirmadas ontem pelo governo sete novas mortes por causa da gripe suína no Brasil, que registra 11 casos fatais.
Rio Grande do Sul 5 mortes
- Dois homens, de 31 e 42 anos, morreram em Passo Fundo. A vítima de 42 anos era um comerciante, foi internada no dia 6 de julho e morreu dois dias depois. Já o homem de 31 anos foi internado no último dia 9 e morreu no dia seguinte. Em Santa Maria as vítimas foram Diogo Carvalho, 26 anos, e Lucídio Klein, 31 anos. Diogo deu entrada no hospital no dia 9 de julho com os sintomas iniciais da nova gripe e morreu três dias depois. Em sua ficha no hospital, consta que ele teria viajado para o Uruguai. Lucídio, que era funcionário do hospital, foi internado no dia 6 e morreu no dia 9. A quinta vítima, de Uruguaiana, é o caminhoneiro Dirlei Pereira, 35 anos, que esteve na Argentina.
Rio de Janeiro 1 morte
- A primeira vítima do Rio é uma mulher de 37 anos, que morreu no dia 13. Ela estava internada havia uma semana em um hospital particular, após apresentar os sintomas da doença. O quadro clínico evoluiu para uma pneumonia grave. Ainda não há informações sobre onde a vítima teria sido infectada.
São Paulo 1 morte
- Em Osasco, a segunda morte no município ocorreu no dia 11. A vítima foi um homem de 21 anos, com quadro de pneumonia. Ele não tinha problemas anteriores de saúde. A primeira morte, divulgada na sexta-feira passada, foi de uma menina de 11 anos.
Fonte: Folhapress