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Leitura obrigatória no vestibular

Grupo de rap Racionais MC’s tem título de doutor honoris causa aprovado pela Unicamp

A honraria máxima prevista a pessoas que tenham contribuído de maneira notável com a sociedade foi concedida aos cantores Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay (Foto: Divulgação/Unicamp)

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O Conselho Universitário da Unicamp aprovou nesta terça-feira (28) a outorga do título de doutor honoris causa para o grupo de rap Racionais MC's. Essa é a distinção máxima no ensino superior para homenagear pessoas que tenham contribuído, de maneira notável, para o progresso das ciências, letras e das artes no país.

Segundo informações disponibilizadas no site da universidade, os cantores Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, integrantes dos Racionais, teriam sido reconhecidos porque dialogam com o pensamento social brasileiro. Eles “confrontam o racismo e as violências sociais que nos constituem enquanto sociedade, incitando a atitudes antirracistas e solidárias de negros e não negros, periféricos e não periféricos, visando a mudanças sociais profundas”, disse o presidente da comissão que avaliou a concessão do título, Mário Medeiros.

Professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCH), Medeiros também citou que a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) concedeu o mesmo título a Mano Brown no último dia 1º de novembro. Ainda de acordo com a universidade, essa foi a primeira vez, em mais 50 anos, que negros recebem essa honraria.

Trecho de uma das músicas mais conhecidas do grupo de rap Racionais MC's. Imagem: Reprodução/Letras

No entanto, para acadêmicos como Alexandre Sugamosto, professor de Filosofia e Mestre em Ciências da Religião, a escolha foi “ideológica”. “Embora os Racionais tenham um trabalho interessante, principalmente no início da carreira, eles gravaram poucos álbuns, e o mais recente há quase dez anos”, pontua, ao citar que outros negros contribuíram, de fato, com a história do país, com a ciência, política e as artes, e não receberam esse título.

“Mas, se alguém questionar, será taxado de 'racista', dará espaço para um debate de classes e estará correndo o risco de ter sua liberdade intelectual cerceada”, alerta o especialista. “Parece que é mais um passo na agenda identitária que quer impor à sociedade que essas são as contribuições fundamentais para o Brasil”, completou em entrevista à Gazeta do Povo.

O professor de Educação Pedro Caldeira, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, estranhou a decisão, lembrando que a homenagem é feita por mérito, de forma individual, a indivíduos que se destacaram em serviço à sociedade. “Revela sobretudo os caminhos que querem que o ensino superior brasileiro percorra: sem qualidade, sem exigência e sem mérito.”

Músicas do grupo são leitura obrigatória no vestibular da Unicamp

Além de receber o mais alto título da universidade, um dos álbuns com composições do grupo Racionais – chamado Sobrevivendo no Inferno – foi transformado em livro e está na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da Unicamp. As composições tratam da cultura negra, do combate ao racismo e de críticas sociais, e foi a primeira vez que um disco de música entrou na lista de obras da prova.

Trecho de uma das composições do álbum "Sobrevivendo ao Inferno". Imagem: Reprodução/Letras

Para Sugamosto, o que está ocorrendo é resultado da qualidade do ensino superior no Brasil. “Há muito tempo nossas universidades estão sendo sucateadas, e não há nenhum interesse do poder público em reverter esse quadro”, lamenta.

Na Unicamp, o grupo também realizou uma aula aberta para estudantes da disciplina “Tópicos Especiais em Antropologia IV: Racionais MC’s no Pensamento Social Brasileiro”, em 2022. Na ocasião, inclusive, surgiu a ideia de conceder o título de doutor honoris causa ao grupo, e essa sugestão se transformou em documento formulado por três professores com a proposta.

Aula aberta realizada pelo grupo de rap Racionais na Unicamp, em 2022. Imagem: Divulgação/Unicamp

“Os Racionais MC’s extrapolam a fala do gueto, sem abandoná-lo. Não se restringem à crônica cotidiana, mas a revelam”, pontuam os docentes no documento de proposição, ao citar a Universidade mudou. “Já não mais exclusiva, mas inclusiva. Já não mais branca, mas com todas as cores do próprio Brasil e do mundo. Uma Universidade sobretudo mais generosa e justa”.

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